Apenas 15% das empresas que participaram do estudo “Mulheres na Liderança” afirmaram ter metas nesse quesito
Por Katia Simões — Para o Valor, de São Paulo
31/03/2023 05h05 Atualizado há um dia
/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_63b422c2caee4269b8b34177e8876b93/internal_photos/bs/2023/k/p/k2w1rXSleVvmaBz4kuZw/arte31rel-201-eixo8-f8.jpg)
Quando Juliana Rozembaum entrou para o conselho de administração da Arezzo, em 2013, a executiva era uma exceção. Poucas eram as empresas que contavam com uma mulher entre os conselheiros. Menos de uma década depois, o cenário ainda não é o desejado, mas os avanços foram consideráveis. Hoje, Juliana integra o conselho de cinco grandes companhias, das mais variadas áreas, entre elas o da Cogna Educação, com mais de 50 anos de atuação, que atende cerca de 2,4 milhões estudantes no país, da educação básica ao ensino superior.
“Cheguei à Cogna em 2019, mas desde 2012 a empresa já contava com a presença feminina no conselho”, afirma Rozembaum. “Poucas empresas adotam a diversidade tão genuinamente em todas as frentes como a Cogna, faz parte da cultura”, afirma.
Na visão da conselheira, a diversidade de gênero é o primeiro passo dentro dos conselhos, mas não pode e não deve ser o único. “É preciso agregar pensamentos e experiências diversas para que os objetivos sejam alcançados”, afirma. “Ter seis mulheres e dois homens também não funciona, assim como o inverso. Quanto mais profissional for a formação do conselho, mais diverso será o grupo.” Com três conselheiros internos e dois externos, a Cogna Educação busca alcançar 50% de participação feminina nos postos de liderança até 2025, meta que deverá ser atingida em breve. Hoje, as mulheres já respondem por 47,7% dos cargos de gerência e superiores.
Também com metas ambiciosas de equidade de gênero até 2026, entre elas, dobrar o número de mulheres em cargos de liderança na força de vendas, a farmacêutica Eurofarma trouxe para o seu conselho de administração o mesmo desafio. “A equidade de gênero sempre foi prioridade nas diversas esferas da companhia”, afirma Daniela Panagassi, diretora de pessoas e organização. “Nas nossas vice-presidências, 57% das posições são ocupadas por mulheres. Considerando toda a companhia, elas também são maioria em cargos executivos, representando 52%”, diz. Segundo a diretora, no conselho de administração, formado por nove conselheiros, três são mulheres, sendo duas conselheiras independentes.
A busca pela equidade de gênero nos conselhos é meta perseguida por 15% das empresas que participaram do estudo “Mulheres na Liderança”, acima dos 9% registrados em 2021. Mas, entre a intenção e a realidade há um hiato. Segundo o levantamento, em 2021, 14% das empresas tinham a equidade de gênero como critério de nomeação de conselheiros. No ano passado, esse percentual caiu para 7%.
Para Natália Zimerfeld, CMO da Capgemini Brasil, por mais lento que pareça, o índice deve ser comemorado. “Há pouco tempo a participação de mulheres em conselhos de administração era inexistente.”
Na visão da executiva, em áreas como de tecnologia na qual a Capgemini atua, onde a presença de mulheres é baixa, o trabalho tem de começar muito cedo, ainda na formação básica. Com esse objetivo, a Capgemini lançou em 2022 o Programa Start, com duração de três meses e treinamento remoto, voltado a maiores de 18 anos, com ensino médio completo. “Já são cerca de 30 mil participantes, mais de 2.500 formados, desses 500 contratados, sendo 50% mulheres”, diz. “São iniciativas como essa que fazem com que na Capgemini Brasil as mulheres já representem 36,2% dos colaboradores, bem acima da média nacional do setor de tecnologia, que em 2021 era de 20%”, afirma.
Fundado por mulheres, o Grupo Sabin tem 7 mil colaboradores, dos quais 77% mulheres, que também respondem por 74% dos cargos de liderança. “Temos conselho de administração desde 2013, composto por seis conselheiros, sendo as duas fundadoras, dois externos e dois herdeiros com o objetivo de encaminhar a sucessão”, afirma Lídia Abdalla, presidente-executiva. “O equilíbrio gera valor, traz complementariedade”, diz.
Segundo a executiva, para que cada vez mais mulheres assumam cadeiras nos conselhos e postos na liderança é preciso investir na formação, garantir as mesmas oportunidades na carreira. “Muitas das nossas lideranças já fizeram cursos de formação de conselheira, eu mesma. Hoje estou no conselho de duas startups e participo do Winnining Women Brasil, voltado ao desenvolvimento de mulheres.”
Fonte: Valor Econômico