Por Adriana Cotias — De São Paulo
11/04/2022 05h03 Atualizado há 7 horas
A EQI, que nasceu como um grupo de assessoria de investimentos e que está em vias de colocar a sua corretora de valores na rua tendo o BTG Pactual como sócio, criou um braço para incubar gestoras de recursos, a EQI Tech. O plano é impulsionar assets pequenas e médias, com patrimônio entre R$ 50 milhões e R$ 150 milhões, que precisam ganhar robustez para chegar às plataformas de distribuição de varejo.
Segundo Ettore Marchetti, chairman do projeto, o modelo de parceria assegura às selecionadas um fluxo de captação em troca de participações societárias de 20% a 30%. As gestoras terceirizam para a EQI a retaguarda operacional, a gestão de risco e até o marketing, e assim podem ter acesso a melhores condições em negociações de contratos para administração de fundos, custódia e corretagem, toda a cadeia de custos para uma asset rodar. “É uma forma de desonerar as menores e acelerar o crescimento para que passem a arrebentação dos R$ 200 milhões, R$ 300 milhões [de patrimônio], que torna as gestoras, em geral, superavitárias.”
O executivo diz não ter fechado nenhum acordo ainda, mas que há conversas e processos de diligência adiantados. Gestoras de ações e ligadas a estratégias quantitativas estão entre as avaliadas. “Provavelmente vai ter muita oportunidade em assets que diminuíram de tamanho ao longo de 2021”, diz Marchetti, referindo-se ao efeito da volatilidade do mercado ao longo do segundo semestre. O executivo acrescenta buscar profissionais saídos de bancos ou de casas de análise que estão em fase pré-operacional e podem começar a pilotar seus fundos na Santa Catarina, gestora que a EQI criou para esse propósito.
O plano é reunir uma dezena de gestoras até o fim do ano e ao longo de 18 meses chegar a um patrimônio conjunto na casa dos R$ 2 bilhões, fazendo com que as assets “tripliquem a captação” nesse intervalo. Marchetti, também CEO da EQI Asset, diz que a o braço de assessoria de investimentos da EQI costuma atrair cerca de R$ 700 milhões por mês em diversas classes de ativos, incluindo fundos. “Essa força chama a atenção. Vamos levar um pedaço desse fluxo para os gestores incubados.”
O empreendedor terá opção de recomprar a participação vendida à EQI Tech ao longo do tempo. Mas se a sociedade funcionar para ambas as partes não há problema em ficar no negócio por cinco, dez anos, diz o executivo. “O que a gente vai cuidar é que sempre haja condição de saída para o empreendedor, a decisão é dele. A EQI, obviamente, tem uma cláusula de saída de emergência caso precise, uma ‘put’ a R$ 1, mas é o empreendedor que decide se quer pagar ou não o múltiplo para sair.”
A EQI Tech não foi constituída como uma gestora de private equity e é uma subsidiária 100% controlada pela holding EQI. Isso quer dizer que não vai captar recursos a mercado para fazer os aportes nos projetos escolhidos. Dependendo da evolução do negócio, prossegue Marchetti, a empresa pode ser listada em bolsa. “Eu não coloco dinheiro no D0 [dia zero, início do acordo], eu garanto a captação no tempo, inclusive na base da EQI, não preciso de capital dedicado ao projeto.” O compromisso está relacionado, porém, a certas premissas de performance.
A empresa pode abarcar ainda negócios correlatos do universo de gestão de recursos, incluindo escritórios de fortunas e casas dedicadas a fundos de private equity e de venture capital.
Não há nenhuma relação do projeto com a EQI Asset, que atualmente reúne cerca de R$ 1,8 bilhão em nove estratégias, diz Marchetti.
Quem toca a EQI Tech e decide quias projetos vão ser acelerados é Victor Uébe, que foi um dos sócios-fundadores da Leblon Equity e foi chefe de finanças da Kraft Heinz, em Milão, na Itália. “O investimento ‘seed’ aconteceu em várias gestoras, a gente não está inventando a roda. A gente enxerga valor em estratégias vistas normalmente no mundo do VC [de porte menor] e conseguiu desenhar uma estrutura que se adapte ao das gestoras de recursos”, diz Uébe.
Ao incubar projetos de menor porte a EQI evita se confrontar com os grandes distribuidores, incluindo o próprio BTG, e provê os serviços, afirma Marchetti, “desonerando a folha [de pagamentos] deles”. Uébe diz ter analisado mais de 40 casas e que quatro devem ser as primeiras contempladas.
A EQI foi uma das primeiras assessorias de investimentos grandes a migrar da rede XP para o BTG Pactual, em 2020, num acordo para se tornar corretora, com o banco sendo dono de 49,9% do negócio. Na época, tinha cerca de R$ 9,5 bilhões na custódia da XP, volume que conseguiu recompor no novo acordo ao longo do tempo, reunindo atualmente quase R$ 14 bilhões.
XP e BTG, por seu lado, têm adquirido participações em gestoras de recursos estreantes e também de nomes já no mercado.
A XP fomentou novatas como Encore (do ex-XP João Braga), Grimper (do ex-Credit Suisse Sylvio Castro) e Augme, e nomes já conhecidos como AZ Quest, Jive, Giant Steps e Capitânia.
O BTG deu impulso à Clave, do ex-CEO da Itaú Asset, Rubens Henriques, comprou fatia da Perfin, da Ryo Asset e da americana Kawa Capital e tem há anos parcela da Kapitalo.
Bancos como Itaú e Credit Suisse, por sua vez, que costumam injetar capital inicial para gestores selecionados, têm apoiando negócios via fundos com dinheiro de investidores. O Itaú fez investimentos na Vinland, Ace Capital, BlueLine e Tnax por meio de um multimercado chamado Rising Stars, que levantou R$ 770 milhões. O CS fez aportes na Norte e na Helius Capital.
Fonte: Valor Econômico

