A indústria brasileira abriu o ano em queda com recuo de 1,6% em janeiro ante dezembro, segundo o IBGE. A queda é a mais intensa desde abril de 2021 (-1,9%) e a maior para um mês de janeiro desde 2018 (-2,4%). O resultado ficou praticamente em linha com a mediana das expectativas coletadas pelo Valor Data, mas economistas ouvidos pelo Valor ponderaram que o tombo não altera as projeções anteriores de recuperação para a indústria em 2024.
“Após cinco meses consecutivos de crescimento, houve essa devolução na primeira leitura de 2024. Mas houve crescimento em relação a janeiro do ano passado, o que é um aspecto positivo”, avaliou o economista da XP Rodolfo Margato, destacando a expansão de 3,6% ante janeiro de 2023.
Ele também apontou que o principal vetor da queda da produção industrial foi o tombo de 6,3% da indústria extrativa na comparação com dezembro, algo que ele acredita que não irá se repetir ao longo do ano.
“A queda do índice cheio decorreu em grande parte por causa da contração da indústria extrativa. Vemos isso como um ponto, e não reversão de tendência. O cenário ainda é favorável para 2024. Tanto a extração de petróleo bruto, que vem ganhando participação na balança comercial e no PIB, quanto para minérios”, afirma Margato.
/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_63b422c2caee4269b8b34177e8876b93/internal_photos/bs/2024/O/k/PiA7DoQpecgkDHOVfJtQ/arte07bra-202-indus-a4.jpg)
Outra ponderação levantada por economistas é que a queda mensal de 1,6% veio após revisão do desempenho de dezembro, que elevou o crescimento do mês anterior de 1,1% para 1,6%. “Foi um efeito rebote da alta da mesma magnitude registrada em dezembro”, disse Lucas Barbosa, economista da AZ Quest.
Além disso, o principal argumento dos economistas para descartar preocupação com a queda de janeiro está no fato de que 19 dos 25 segmentos analisados na pesquisa apresentaram crescimento, o que mostra uma tendência positiva, inclusive para as atividades ligadas a indústria de transformação e investimentos.
“A despeito da produção industrial ter começado o ano em queda, ela foi muito concentrada em algumas atividades com peso alto, como indústria extrativa e alimentos, que vinham de uma toada positiva desde o ano passado”, observa Luis Otávio Leal, economista-chefe da G5 Partners.
Leal destaca que o índice de difusão da pesquisa, que mostra o percentual de atividades com variação positiva no mês, chegou a 76%, o que sugere que o crescimento da produção industrial por categoria foi disseminado em janeiro. “É positivo. Para o restante do ano, acreditamos que a indústria brasileira apresentará um crescimento mais equilibrado entre os segmentos de extração mineral e de transformação, diferentemente do que foi observado em 2023”.
A análise vai em linha com o cenário fa Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp). Em nota, a entidade projetou que, em 2024, o balanço de forças para a indústria será mais favorável na comparação com 2023, quando a indústria extrativa cresceu 8% e a indústria de transformação caiu 1%.
“No entanto, o desempenho mais forte tende a se concentrar na segunda metade do ano. Este cenário se baseia na recuperação da demanda, tanto pelo lado do consumo, com os efeitos da flexibilização da política monetária e continuidade da expansão da renda, quanto lado dos investimentos, que, além da queda dos juros, tendem a ser influenciados pela melhora nas expectativas dos empresários e às medidas recentemente anunciadas pelo governo, como Depreciação Superacelerada, Mover e o Plano Mais Produção (P+P)”, declarou a entidade.
Um dos pontos destacados na pesquisa do IBGE foi o crescimento da categoria bens de capital, que cresceu 5,2% ante dezembro – a maior alta para o indicador desde agosto de 2023 (5,4%). O número foi interpretado como um sinal de que os cortes na Selic já estão começando a ajudar setores estratégicos para investimentos como o de máquinas. “A expectativa é de recuperação das atividades mais ligadas aos investimentos, como a produção de bens de capital e de insumos típicos da construção civil, reflexo da continuidade da queda da Selic”, pontuou Leal.
No Santander, o economista Gabriel Couto reforça a impressão de que a queda do indicador no primeiro mês do ano não é tão preocupante quanto o número pode parecer. “Esperamos que este resultado negativo seja pontual, uma vez que o modelo de ajuste sazonal e a compensação dos resultados positivos recentes levaram a uma redução considerável na margem”, escreveu em nota.
Na avaliação do economista, o índice de atividade econômica do Banco Central (IBC-Br)deve cair 0,2% em janeiro ante dezembro, mas a expectativa de crescimento de 0,6% no primeiro trimestre está mantida.
Fonte: Valor Econômico

