Os Estados Unidos e a União Europeia tentam conter o que chamam de “excesso da capacidade industrial” da China e alegam que seus mercados serão inundados de produtos baratos, prejudicando companhias locais. Os EUA e seus aliados prometeram sanções econômicas caso uma solução não seja encontrada.
A briga diz respeito à exploração dos mercados de produtos que usam da manufatura avançada, mais especialmente relacionado ao setor de energia limpa, como veículos elétricos, painéis solares e baterias de íons de lítio.
Ao “Financial Times”, dois altos funcionários do Tesouro americano disseram que uma delegação dos EUA, em visita recente à China, deixou clara as preocupações em conversas com o vice-primeiro-ministro, He Lifeng, responsável pela economia da China.
“Estamos preocupados que as políticas de apoio industrial chinesa e as políticas macro, que estão mais focadas no fornecimento do que em pensar de onde virá a demanda, estejam ambas caminhando para uma situação em que o excesso de capacidade na China acabará atingindo os mercados mundiais”, disse o subsecretário para assuntos internacionais do Tesouro, Jay Shambaugh.
China produz mais do que consome
Historicamente, a China utiliza de sua capacidade industrial massiva para dominar vários setores globais com a prática do “dumping“, que é a exportação de produtos a preços muito baixos, inclusive menores que os preços domésticos. Como a produção excede o consumo, a China exporta todo o restante.
Em 2023, as exportações somaram US$ 3,74 trilhões na economia chinesa. O PIB do mesmo ano foi de US$ 20,94 trilhões, segundo dados do Fundo Monetário Internacional (FMI).
Com isso, a segunda maior economia do mundo desestabiliza mercados globais e prejudica indústrias locais em outros países, que não conseguem espaço no ambiente altamente competitivo, explica ao Valor Alexandre Ramos Coelho, doutor em relações internacionais e Secretário do Comitê de Estudos Asiáticos e do Pacífico da International Political Science Association (IPSA).
Foi sob este argumento, por exemplo, que varejistas do e-commerce brasileiro se uniram ao Ministério da Fazenda para taxar remessas de até US$ 50 de gigantes estrangeiras — onde as principais são chinesas: AliExpress, Shopee e Shein. A isenção fiscal foi classificada como um incentivo “desleal” para as concorrentes estrangeiras.
O presidente chinês, Xi Jinping, disse, em dezembro passado, que o excesso de capacidade em algumas indústrias era um dos “desafios” que devem ser enfrentados para salvaguardar o crescimento econômico futuro. No entanto, não deu quaisquer detalhes de como isso está sendo tratado pelo governo.
Fonte: Valor Econômico