Empresários argentinos aguardam o início do mandato de Javier Milei com esperança de que a presença de ex-assessores do ex-presidente Mauricio Macri, como Luis “Toto” Caputo, na pasta de Economia, ofereça garantias de medidas sensatas. A expectativa é que o fechamento do Banco Central e a dolarização, por exemplo, ficarão somente no discurso de campanha.
“É impossível um país produtor e exportador como a Argentina não ter um BC, o que pode ser feito, no máximo, é reformular algumas normas e refundar o BC como uma espécie de Reserva Federal, como nos EUA”, disse Daniel Saramaga, CEO e dono de Patagonia Flooring, líder da indústria de madeira com mais de 70 lojas no país.
Segundo Saramaga, os discursos incendiários de campanha de Milei provocavam desconfiança, especialmente por ser um desconhecido da política. Mas a aliança Milei e Macri trouxe equilíbrio. “A Argentina necessitava uma mudança e acredito que a partir dos erros e do reconhecimento destes, se pode superar e fazer melhor”, disse referindo-se ao fato de que Macri e seu ex-ministro das Finanças e ex-presidente do BC tiveram uma gestão muito criticada.
“Não é fácil encontrar pessoas com talento”, menos ainda em um partido novo como o La Libertad Avanza, de Milei, disse Saramaga. “Creio que é natural e sadio buscar alianças para formar as equipes”, completou. Para ele, seria uma segunda chance para Macri.
Outro empresário que temia por medidas extremas e se acalmou com os sinais de ingerência de Macri na composição de governo, é Mario Remondino, CEO e dono da Tromen, fabricante nacional de produtos que vão de aquecedores a outros acessórios. “Tenho esperanças porque [Milei] é uma pessoa que não saiu da política tradicional e está se rodeando de gente com experiência na administração pública”, afirmou, reconhecendo que duvidava da capacidade de gestão do presidente eleito.
Uma equipe formada entre várias partes é algo muito positivo, diz Remondino, mesmo que no governo anterior Macri tenha cometido equívocos na administração dos problemas do país. Ele também compartilha da avaliação de que a Argentina precisa de mudanças definitivas, pois as políticas adotadas nos últimos 20 anos levaram o país de uma crise a outra, a inflação descontrolada, de mais de 140%, sem dólares e com profundos desequilíbrios. “A experiência serve para corrigir os erros e resolver os problemas, que são sérios.”
Para o arquiteto sócio gerente da construtora Inerch, Paulo Gonzalez Toledo, “uma coisa é ter ideias, outra é realizar projetos de país”. Então, no caso de Milei, que tem poucos quadros em seu partido, é importante ter alianças e buscar as pessoas qualificadas onde elas estão. Apesar de aprovar a aliança, Toledo segue cauteloso, pois teme que possa faltar flexibilidade a Milei. “Não sei se terá jogo de cintura.”
Toledo disse ainda que as perspectivas para 2024 são de um ano complicado, “que todos nós temos que passar, mas entendo que depois disso, estaremos melhores, com uma economia mais aberta ao mundo”. Ele destacou que Milei era o que representava uma mudança, mas também incerteza. “Os nomes macristas no governo geram mais confiança porque são pessoas que acreditam no desenvolvimento e investimento.”
Também deixou claro sua posição contra a dolarização. “Não me parece algo bom. Acho que ter uma moeda própria é algo saudável, o Estado tem que defender a sua moeda e o BC sempre é algo que gera inclusão, que gera equilíbrio. Não é que você está regulando, é ordenar o seu país.”
Fonte: Valor Econômico

