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Bancos como Citi e J.P. Morgan jogaram para a frente suas projeções de primeiro corte de juros nos Estados Unidos depois que a leitura de maio do relatório de empregos do país, o “payroll”, divulgado na sexta-feira, mostrou um surpreendente crescimento no número de novos postos de trabalho. Os dados mais fortes que o esperado vieram às vésperas da reunião de política monetária do Federal Reserve (Fed, o banco central americano), nesta quarta-feira.
Os 272 mil empregos criados no período junto com uma reaceleração dos salários – de alta de 0,2% em abril para 0,4% em maio – contrariaram a narrativa que ganhou força na última semana de que o mercado de trabalho estava esfriando e a economia americana, desacelerando. Dados recentes de empregos haviam mostrado queda no número de vagas e um aumento nos pedidos de seguro-desemprego, levando o mercado a voltar a esperar dois cortes nas taxas de juros dos Estados Unidos em 2024. Porém, o payroll superaquecido fez investidores voltarem a precificar maior chance de apenas uma redução, de 0,25 ponto percentual, neste ano.
Com isso, os rendimentos dos Treasuries, os títulos do Tesouro americano, saltaram e reverteram praticamente todo o alívio do restante da semana passada, com a taxa da T-note de 2 anos se aproximando de 4,9% e a da T-note de 10 anos, subindo a 4,4%.
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Da mesma forma, o dólar retomou um nível mais apreciado ante moedas rivais, e o índice DXY – que mede a variação da divisa americana ante seis pares – encerrou a sexta-feira em alta de 0,80%, a 104,935 pontos.
Depois do payroll, o Citi mudou a sua projeção do primeiro corte de julho para setembro. Ao contrário do consenso do mercado, o Citi era um dos últimos bancos com a expectativa de que o Fed reduziria os juros em julho. Apesar da mudança de data, o economista-chefe para os EUA da instituição financeira, Andrew Hollenhorst, afirmou que o relatório de maio não mudou sua visão de que a demanda por contratações e a economia estão desacelerando e que isso vai levar o Fed a diminuir as taxas a partir de setembro.
Agora, o Citi prevê que o Fed realizará três cortes em 2024: em setembro, novembro e dezembro, de 0,25 ponto percentual cada. Anteriormente, a expectativa era de quatro. “Um crescimento surpreendente nas vagas deve deixar o presidente do Fed, Jerome Powell, e o comitê mantendo os juros inalterados em junho e julho, esperando mais dados que mostrem uma desaceleração na atividade e na inflação se acumular”, disse.
Já os analistas do J.P. Morgan revisaram a data do primeiro corte pelo Fed ainda para mais longe, de setembro para novembro. O economista-chefe para os EUA do banco, Michael Feroli, diz que o forte número de vagas – bem acima das 190 mil esperadas e das 165 mil registradas em abril – ofuscou o crescimento da taxa de desemprego, que atingiu 4%, o maior nível desde janeiro de 2022.
“Nos últimos 12 meses, a taxa de desemprego subiu 0,4% e durante o mesmo período a média de criação de empregos foi de 230 mil por mês”, escreveram os analistas, apontando que na reunião do Fed de maio, quando o desemprego era de 3,8%, Powell disse que “alguns decimais de aumento no desemprego não seriam suficientes para cortar os juros” e que ele gostaria de ver um enfraquecimento mais amplo para iniciar o afrouxamento monetário. “O crescimento surpreendente do payroll de maio e o aumento persistente dos salários estão longe de levar a um enfraquecimento mais amplo”, afirmou Feroli.
O relatório parece confuso ao mostrar forte crescimento de empregos e aumento do desemprego ao mesmo tempo. Para o economista da Kinea Investimentos André Diniz, a forte imigração registrada nos Estados Unidos pode estar por trás desse embaralhamento da análise dos dados de mercado de trabalho.
Segundo ele, enquanto o payroll mostrou um crescimento de 272 mil novas vagas em maio, uma pesquisa paralela, feita com as famílias americanas revelou perda de 408 mil empregos no mesmo período. Enquanto o payroll é elaborado pelo Escritório de Estatísticas Trabalhistas (BLS, da sigla em inglês) do Departamento de Trabalho com base nos dados das empresas, a pesquisa das famílias (conhecida como “household survey”) é calculado pelo Departamento do Censo por meio de questionários realizados nos domicílios. “A pesquisa com as famílias é a utilizada para calcular a taxa de desemprego e a perda de 408 mil empregos explica o aumento do desemprego em maio”, explicou.
“Essas pesquisas não vêm dialogando há algum tempo e uma das explicações para isso é que o aumento da imigração está provocando ruído na pesquisa das famílias”, afirmou Diniz. No último ano, os dois dados divergiram em quase 2,5 milhões de empregos.
Para o economista, as empresas estariam contratando esses imigrantes, o que apareceria no forte número do payroll. “Mas por algum motivo esses imigrantes não estariam sendo bem contabilizados na amostragem da pesquisa das famílias”, disse. Diniz afirmou acreditar que o Fed tende a reagir mais ao payroll que aos levantamentos domiciliares.
Fonte: Valor Econômico

