Por Rita Azevedo — De São Paulo
08/08/2023 05h03 Atualizado há 4 horas
Agosto deve ser um mês movimentado no mercado de crédito privado. Passada a crise gerada pelos casos Americanas e Light, a sensação é a de que o período de turbulência ficou para trás, segundo gestoras e bancos de investimento.
Ontem, em uma das maiores ofertas do ano, a Aegea captou R$ 5,54 bilhões com debêntures incentivadas, numa operação que teve demanda de mais de R$ 9,5 bilhões, apurou o Valor. Antes dela, só nos quatro primeiros dias do mês R$ 3,6 bilhões em operações foram registrados na Comissão de Valores Mobiliários (CVM). As maiores são as da Coelba, de R$ 1,2 bilhão, e da Rede D’Or, de R$ 1 bilhão.
Na Aegea, a forte procura levou a uma redução nas taxas. A primeira série, de 10 anos e meio, saiu a IPCA + 6,9%. A segunda, de 18 anos e meio, a IPCA + 7,2%. As indicações iniciais eram de IPCA + 8,1% e IPCA + 9,3%, respectivamente. A empresa pretende usar os recursos na Águas do Rio, que venceu o leilão de privatização da Cedae em 2021.
O BNDES ficou com cerca de R$ 1,9 bilhão da reserva, o que despertou críticas entre investidores, já que havia grande demanda pelos papéis da empresa. O banco não comentou o assunto porque a operação ainda está sob período de silêncio.
A Eletrobras anunciou ontem que pretende contratar bancos para estruturar a emissão de, inicialmente, R$ 7 bilhões em debêntures da empresa, de R$ 3,5 bilhões em notas comerciais de Furnas e de R$ 250 milhões em debêntures da Eletrosul.
“Com o dinheiro voltando aos fundos, as operações de debêntures voltaram a sair, algumas com demanda acima do ofertado”, diz Samy Podlubny, chefe da área de dívida do UBS BB. Nos próximos meses, afirma, “o pipeline [ofertas em preparação] está grande”.
Após meses com mais saídas que entradas, os fundos de investimento voltaram a captar recursos em julho. Em uma amostra de 200 fundos que alocam em crédito privado acompanhada pela Riza Asset, o fluxo no último mês ficou positivo em R$ 1 bilhão. “Com a captação virando, é esperado que o primário volte à normalidade”, diz Renato Jerusalmi, gestor da Riza.
A retomada das operações ocorre em meio a perspectivas mais positivas para as companhias. Com o início do ciclo de corte da Selic, a expectativa é que as empresas apresentem uma melhora na situação financeira. “Com a queda de juros precificada pelo mercado, é esperado um alívio nos balanços e o reequilíbrio na capacidade de pagamento das companhias”, diz Alexandre Muller, sócio da gestora JGP.
Em julho, as emissões de debêntures somaram R$ 12 bilhões, segundo levantamento da JGP que considera operações concluídas até o dia 26. O volume ficou abaixo do captado em junho, quando as operações chegaram a R$ 25,7 bilhões, mas ainda acima da média no período de janeiro a maio, de R$ 9,45 bilhões.
O mercado secundário também melhorou – ainda que de forma desigual, dependendo da qualidade do crédito de cada companhia. No Idex-CDI, índice criado pela JGP que acompanha uma cesta de debêntures mais líquidas, os spreads passaram de 2,75% ao fim de junho para 2,65% no dia 26 de julho.
“Considerando a média, é possível afirmar que o cenário está melhorando, mas é relevante lembrar que ainda há muita dispersão, ou seja, uma parte das debêntures ainda apresenta spreads abertos”, afirma Muller, da JGP. “Dentro do índice, 18% dos papéis estão com spreads acima de 3,5%.”
Do lado dos investidores, a demanda para debêntures de infraestrutura tem aumentado, segundo Pierre Jadoul, gestor de crédito privado da ARX Investimentos. “Com o processo de queda da Selic, há um interesse maior de investidores para uma saída de títulos em CDI. Eles estão buscando mais papéis em IPCA, especificamente papéis mais longos”, afirma.
Fonte: Valor Econômico