Por Adriana Cotias — De São Paulo
08/08/2023 05h03 Atualizado há 4 horas
Os títulos de crédito isentos de imposto de renda para a pessoa física roubaram a cena no primeiro semestre, mas adiante a percepção é de perda de ritmo, segundo Ademir Correia Júnior, presidente do fórum de distribuição da Anbima, entidade que representa o mercado de capitais e de investimentos. Sem que o crédito dê sinais de dinamismo em meio a uma Selic ainda elevada, em 13,25% ao ano desde a semana passada, ele entende que o saldo está perto de bater nos limites de emissão da parcela de incentivados que cabe aos bancos.
Com um total de R$ 976,7 bilhões, esses papéis foram o grande destaque na carteira de títulos e valores mobiliários dos investidores de varejo, alta renda e private banking. De janeiro a junho, houve um incremento de R$ 176 bilhões nesse estoque, com alta de 22%. Na comparação com junho de 2022, o aumento foi de mais de 50%, com um valor adicionado de R$ 327,6 bilhões.
Mas com uma maior escassez de lastro à frente nas instituições financeiras, a expectativa é que expansão do universo de papéis com benefício fiscal – letras e certificados de crédito imobiliário e do agronegócio (LCA, LCI, CRI e CRA), além das letras imobiliárias garantidas (LIG) – seja menor. Correia Júnior mencionou ainda a recente mudança na regra de direcionamento do crédito rural que já começa a impactar a oferta de LCA.
No mês passado, o Conselho Monetário Nacional (CMN) determinou que a partir da safra 2023/2024, 50% dos valores captados pelas instituições financeiras por esse instrumento sejam obrigatoriamente aplicados no crédito rural, em comparação a 35% da regra anterior. Isso tira flexibilidade para o uso dos recursos para outras finalidades.
“Os isentos são um instrumento finito, depende da carteira de crédito na outra ponta”, disse Correia Júnior, em conferência com a imprensa para comentar os dados de distribuição no primeiro semestre. “Com tudo que houve na economia, pela desaceleração da atividade e pelo tamanho de juros, chega uma hora que todo mundo procura o papel, mas é finito em termos de lastro.”
Também diretor de investimentos do Bradesco, o executivo espera um efeito cascata neste semestre e num pedaço na primeira metade de 2024, com os investidores migrando para outros ativos à medida que não consigam renovar as suas aplicações. “As instituições financeiras estão no processo de rever e fazer conversa com o investidor para colocá-lo em outras oportunidades de mais longo prazo.”
Pelas práticas atuais de mercado, o investidor tem acesso a emissões de LCA com liquidez a partir de três meses. Conforme observa Correia Júnior, o destino dos recursos das operações que estão vencendo tem sido títulos como CRI, CRA e LIG, instrumentos com prazos mais longos.
No total, o estoque de investimentos da pessoa física nos segmentos de varejo, alta renda private banking chegou a junho com R$ 5,367 trilhões, um crescimento de 7,3% no ano e de 15,4% em comparação a junho de 2022.
Foi o varejo de alta renda que apresentou o maior ritmo de expansão em 12 meses, de 21,6%, para R$ 1,569 trilhão. O varejo tradicional teve incremento de 13,5% nesse mesmo intervalo, a R$ 1,827 trilhão, enquanto o private aumentou 12,6%, a R$ 1,970 trilhão. O topo da pirâmide tem um mix menos concentrado em renda fixa e os ativos ainda têm uma jornada de recuperação pela frente.
O que surpreendeu, contudo, foi uma certa recuperação para ativos mais “apimentados”. Houve um incremento de R$ 55 bilhões em 12 meses em fundos de ações, para R$ 231,7 bilhões. Os multimercados tiveram alta de 1,2%, para R$ 657,8 bilhões. E mesmo com a Selic alta, a renda variável teve um aumento relativo no volume financeiro. No varejo, passou de 8,4%, em junho de 2022, para 9,4%, e no private banking, de 33,8% para 34,1%.
“O movimento parece que andou de lado, mas tem um pequeno crescimento no varejo e no private banking”, observou Correa Júnior. “Pensando numa curva, a gente deve enxergar uma aceleração no segundo semestre pela queda de juros. A expectativa era de corte de 0,25 [ponto percentual] e acabou sendo 0,50. Houve um movimento de antecipação do investidor de procurar papéis que possam capturar no médio e longo prazo um retorno maior.” Ele citou que no mercado já há projeções de 140 mil pontos para o Ibovespa no fim do ano.
Os fundos de investimento responderam por R$ 1,55 bilhão (29%) do total investido pela pessoa física, com aumento de 2% em relação a dezembro. Os imobiliários cresceram 14,25% nos primeiros seis meses do ano, a R$ 105 bilhões. A classe passou a compor 10,7% das carteiras no varejo de alta renda, ante 9,4% em dezembro. No varejo tradicional, a participação subiu de 10,9% para 12,4%. No private, foi de 2,1%, em linha com o apurado no fim de 2022. Para Correia Júnior, os fundos imobiliários seguem como alternativa de grande apelo, também pela isenção de imposto de renda na distribuição de dividendos.
Fonte: Valor Econômico

