Companhia contrata Mauricio Lopes, vice-presidente da Rede D’Or, para interagir com operadoras e hospitais na criação de novos planos por adesão
Por Beth Koike — De São Paulo
Maurício Lopes tem passagens por ANS, SulAmérica, Allianz, Medial e Unimed-Rio. Desde 2019 é executivo da Rede D’Or, acionista da Quali — Foto: Divulgação
Diante da crise que afeta o setor de saúde, a Qualicorp vai mudar de comando e, em agosto, passa a ser presidida por Maurício Lopes, atual vice-presidente da Rede D’Or, que é a maior acionista da administradora de planos de saúde por adesão, conforme o Valor antecipou ontem. O executivo substitui Elton Carluci, que havia assumido o posto em janeiro, e continua na companhia como consultor.
A mudança na liderança foi uma demanda do conselho de administração da Quali que buscava um nome com interlocução em vários elos da cadeia de saúde diante da deterioração por qual vem passando esse mercado do ano passado para cá. Além da D’Or, Lopes tem passagens pela SulAmérica, Allianz, Medial e Unimed-Rio, além da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) e Fenasaúde, entidade das seguradoras de saúde. Lopes está da D’Or desde janeiro de 2019 – um mês antes, o executivo que, na época, era vice-presidente na SulAmérica quase fechou com a UnitedHealth Care (UHG), dona da Amil, mas a família Moll correu para contratá-lo.
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Ao mesmo tempo em que Lopes é considerado o “match” perfeito pela larga experiência na área da saúde, sua chegada à Qualicorp também chama atenção, uma vez que a D’Or é a maior acionista da administradora de planos coletivos por adesão. Outros executivos da área da saúde e de diferentes setores foram analisados, mas não houve consenso. “Não é simples conseguir um executivo com o perfil que era demandado. E vários estão dentro da própria Rede D’Or”, disse uma fonte.
A dificuldade ocorre porque uma das exigências da ANS para aprovar a fusão entre o grupo hospitalar e a SulAmérica, no ano passado, era que os conselheiros da D’Or na Quali não votassem assuntos relacionados à seguradora para evitar conflitos de interesse. Essa questão foi pacificada com a decisão da Rede D’Or em retirar seus conselheiros e terceirizar a gestão de sua posição acionária à Prisma, gestora de investimentos. O grupo hospitalar transferiu 19,8% de sua fatia de 22,98% à gestora que, desde então, é responsável pelas decisões. As negociações para tirar o braço direito de Paulo Moll, presidente da Rede D’Or, foram lideradas pela própria Prisma, com apoio dos demais acionistas controladores Pátria, 3G e Black Rock, que juntos têm 40% da Qualicorp.
Uma das missões de Lopes será criar novos formatos de convênios médicos por adesão, em parceria com as operadoras e hospitais e demais prestadores de serviço, que caibam no bolso do cliente. A empresa é uma das mais afetadas pela crise no setor de saúde, devido, principalmente a cancelamentos dos planos, uma vez que os usuários não estão conseguindo pagar os reajustes que, no primeiro trimestre, ficaram na casa dos 23%. No acumulado dos últimos 12 meses, a ação da Quali perde quase 65%.
Há um certo consenso no setor de que os patamares do custo da saúde não retomarão os níveis pré-pandemia. Isso porque nos últimos dois anos surgiram novas tecnologias, o rol de procedimentos foi liberado e há uma alta em casos de saúde mental que elevam os gastos para outro patamar. Além disso, há um aumento expressivo de denúncias de fraudes em reembolsos médicos.
No ano passado, as operadoras de planos de saúde amargaram um prejuízo operacional de mais de R$ 10 bilhões e neste começo de 2023 o desempenho continua sendo negativo. No primeiro trimestre, o prejuízo operacional das operadoras aumentou 55% e o lucro líquido (sem ganhos financeiros) caiu 41% quando comparado ao mesmo período de 2022. Na Qualicorp, a última linha do balanço trimestral teve uma queda de 77,5% impactada pela alta taxa de sinistralidade que, por sua vez, provoca reajustes elevados e cancelamentos de planos de saúde.
Fonte: Valor Econômico
