Por Charley Grant — Dow Jones Newswires
24/05/2022 05h02 Atualizado há 5 horas
Os temores de uma desaceleração econômica ganharam força ultimamente. Não faltaram executivos empresariais presentes no Fórum Econômico Mundial em Davos que revelaram perspectivas sombrias.
“Há um ciclo de estado de espírito [semelhante ao depressivo, da bipolaridade]”, disse Alex Karp, CEO da Palantir Technologies. “Você anda por aí e todo mundo acha que será ruim, e, assim, será ruim.” Karp não está sozinho, mas o pessimismo que diz estar captando entre outros CEOs também não é uniforme.
“Será difícil evitar uma recessão”, disse Anthony Capuano, CEO da gigante rede hoteleira Marriott International. “O coro de vozes que dizem que estamos inclinando na direção de uma recessão está ficando mais alto a cada minuto. O tempo vai dizer, mas certamente tudo indica que estamos tomando essa direção.”
Outros estão mais confiantes. “Prevejo uma coisa branda”, disse Arvind Krishna, CEO da International Business Machines (IBM). Ele constata, no entanto, que há uma postura mais cautela e avaliações mais cuidadosas na tomada de decisões entre seus contatos empresariais.
Muitos executivos estão trabalhando como fosse haver uma retração econômica. Stephen P. MacMillan, executivo-chefe da empresa de tecnologia médica Hologic, disse estar sendo cauteloso no que se refere a novos investimentos relevantes e que examina de perto a necessidade de qualquer contratação a mais. “Estamos sendo muito disciplinados em nossas decisões sobre capital”, disse ele.
O CEO da Hewlett Packard (HP), Antonio Neri, disse também não estar preocupado demais com a economia neste ano, por enquanto. Se as coisas começarem a piorar em 2023, a empresa fará investimentos mais direcionados. Segundo ele, essa estratégia incluirá disponibilizar capital até então empenhado em determinado fim e reinvesti-lo estrategicamente, em vez de simplesmente cortar custos.
Enquanto isso, o mercado de trabalho permanece vigoroso nos Estados Unidos, segundo disse Nela Richardson, economista-chefe e processadora da folha de pagamento da Automatic Data Processing (ADP). Muitos empregadores continuam em busca de mão-de-obra e querem contratar. “A escassez de mão-de-obra ainda é muito, muito grande”, afirmou ela.
O clima pessimista entre os líderes empresariais em Davos coincide com a perspectiva geral. Cinquenta e sete por cento dos donos de pequenas empresas acreditam que as condições econômicas nos EUA vão piorar no ano que vem, número que era de 41% em abril, segundo uma pesquisa com mais de 600 pequenas empresas conduzida em maio pela empresa de consultoria e coaching de negócios Vistage Worldwide para o “The Wall Street Journal”.
Essa medida faz parte de um índice de confiança mais amplo que em maio registrou sua maior queda anual desde as paralisações relacionadas à covid em abril e maio de 2020. Apesar da alta nos preços, a parcela de pequenas empresas americanas que espera aumento na receita neste ano caiu para 61%, de 79% em maio de 2020.
Os líderes empresariais estão adotando medidas para se preparar para o cenário mais fraco. Alguns executivos estão analisando os gastos, procurando nos “pequenos desperdícios que surgem nos bons tempos”, disse Nick Studer, presidente-executivo da consultoria Oliver Wyman Group.
Outros querem evitar reduzir as contratações ou fazer outros ajustes estratégicos enquanto não ficar claro a tendência econômica. Isso é algo que Studer disse considerar na gestão do negócios da Oliver Wyman. “É muito fácil fazer essa aposta antecipadamente e criar a recessão por conta própria, antes que a recessão de fato venha”, afirmou ele.
Tawfik Hammond, diretor de clientes do Boston Consulting Group, está confiante de que um superciclo tecnológico contínuo poderá conduzir a economia através das turbulências nos dias atuais, embora reconheça o risco uma recessão neste ano.
“Encontraremos um caminho depois de cada evento imprevisível”, disse Hammond ontem. Ele citou os avanços na computação quântica, inteligência artificial, biologia sintética e energia de fusão nuclear como motivos de otimismo no longo prazo.
Fonte: Valor Econômico