Por Fábio Couto — Do Rio
21/06/2022 05h02 Atualizado há uma hora
As mudanças no conselho de administração da Eletrobras, anunciadas no fim de semana, foram mais um passo rumo à transformação da ex-estatal em uma empresa sem controle definido. No sábado foi divulgada a carta de renúncia de nove dos dez conselheiros e o documento apresentou uma tônica de dever cumprido por parte após a capitalização da maior companhia de energia elétrica do país.
Em uma carta enviada à diretoria executiva da ex-estatal no sábado, os conselheiros afirmaram que a renúncia coletiva tem como objetivo propiciar que a nova composição acionária possa significar um novo colegiado, com foco maior na governança corporativa da companhia.
No domingo à noite foi a vez de a Eletrobras informar ao mercado os nomes dos dez novos indicados ao colegiado. Dos nove conselheiros que renunciaram, três – Daniel Alves Ferreira, Felipe Villela Dias e Marcelo de Siqueira Freitas – foram reconduzidos na lista veiculada pela companhia.
Além deles, foram apontados para o conselho Carlos Augusto Leone Piani; Ivan Monteiro; Marcelo Gasparino; Marisete Pereira; Octavio Cortes Pereira Lopes; Vicente Falconi e Pedro Batista.
Deixarão o conselho o atual presidente do colegiado, Rui Flaks Schneider, além de Rodrigo Limp; Bruno Eustáquio Ferreira Castro de Carvalho; Ana Carolina Tannuri Laferté Marinho; Jerônimo Antunes; Ana Silvia Corso Matte. O representante dos funcionários da empresa, Carlos Eduardo Rodrigues Pereira, não renunciou e continuará no posto. A lista divulgada domingo pela Eletrobras também preenche uma cadeira que estava até então vaga no conselho.
“Trata-se de boa prática de governança corporativa e de justiça social, que os atuais conselheiros se orgulham em cumprir – o que permitirá à Eletrobras, na condição de ‘corporation’, estabelecer um novo cenário na composição do seu ‘board’ [conselho] aderente à sua atual realidade jurídica e acionária”, disseram os titulares, na carta.
Os atuais conselheiros continuam nos respectivos postos até a posse dos novos titulares, que devem ser eleitos em Assembleia Geral Extraordinária (AGE), ainda sem data definida. O Valor apurou que, até o momento, a chapa com os indicados para compor o novo conselho de administração da Eletrobras é única, sendo os nomes aceitos por consenso, não existindo candidatos – o que foi confirmado pela companhia.
Na lista dos novos nomes, porém, ainda não há indicação de quem será o presidente do conselho de administração. O atual presidente da Eletrobras, Rodrigo Limp, renunciou apenas ao mandato de conselheiro, permanecendo no cargo executivo.
Atual representante dos titulares de ações preferenciais, Felipe Villela Dias continuará conselheiro, mas será substituído por Pedro Batista como representante dos detentores de ações PN. Batista é um dos fundadores da gestora de recursos 3G Radar, que tem entre os principais sócios o trio Jorge Paulo Lemann, Marcel Telles e Carlos Alberto Sicupira. Ele tem passagens pelo Vinci Partners e pelo UBS Pactual (atual BTG Pactual).
Um dos nomes de destaque na lista é o de Ivan Monteiro, ex-presidente da Petrobras na segunda metade de 2018, sucedendo a Pedro Parente. Monteiro também foi diretor financeiro da petroleira. Ele também teve uma rápida passagem pela BRF em 2019 e atualmente é vice-presidente do conselho de do Credit Suisse no Brasil.
Outro nome conhecido no setor é o da atual secretária-executiva do MME, Marisete Pereira, que atuou diretamente no processo de privatização da Eletrobras. Há ainda a indicação de Marcelo Gasparino, atual conselheiro da Petrobras e da Vale, e de Vicente Falconi, conhecido consultor em gestão, autor de livros e integrante dos conselhos de administração da AmBev da BRF.
As indicações foram assinadas pelos seguintes acionistas com mais de 5% de participação na Eletrobras: 3G Radar, Banco Clássico, Maliko Investments/Manuka Investments, Navi Capital, SPX Equities, Vinci Equities e XP Gestão de Recursos. Eles propuseram ainda que seja fixado mandato unificado do conselho, em caráter excepcional, até a Assembleia Geral Ordinária (AGO) em 2025. A Eletrobras ainda não informou ao mercado sua nova composição acionária após a capitalização.
Para a Moody’s, a renúncia dos conselheiros já era esperada após a conclusão da privatização da Eletrobras, com a venda das ações. “A Moody’s entende que a privatização provavelmente melhorará a governança corporativa da empresa devido ao controle amplamente distribuído e a uma maior autonomia de tomada de decisão da administração, já que o governo não terá mais uma maioria de votos diretos, tendo menos influência nos investimentos futuros da empresa e nas decisões de negócios”, disse Aneliza Crnugelj, analista da Moody’s, em comunicado.
Fonte: Valor Econômico

