Por Victor Rezende e Gabriel Roca, Valor — São Paulo
22/08/2022 13h12 Atualizado há 12 horas
Os economistas do mercado financeiro se mostraram mais otimistas quanto ao desempenho da atividade econômica neste ano em duas reuniões privadas feitas com diretores do Banco Central (BC) nesta segunda-feira. O crescimento mais forte em 2022, porém, não esconde, na avaliação dos analistas, o cenário bastante incerto à frente, sobretudo no ambiente internacional e em relação ao rumo das contas públicas.
O BC faz reuniões trimestrais com economistas do mercado para coletar informações e percepções sobre expectativas para a atividade, a inflação, o cenário fiscal e o cenário externo que ajudem na confecção do Relatório de Inflação (RI). A divulgação do próximo RI está prevista para 29 de setembro.
Nesta segunda-feira, na primeira reunião, que ocorreu entre 10h e 11h30, predominou uma visão mais construtiva em relação ao crescimento econômico, de acordo com relatos de diversos participantes ouvidos pelo Valor sob condição de anonimato. “Dentro da conjuntura, achei o tom geral bastante menos preocupado que antes”, afirmou um dos participantes.
Outro economista que esteve presente na primeira reunião observou que as previsões para o crescimento deste ano giravam em torno de 2%, com algumas casas com projeções que chegavam a 2,5%. “Há um viés altista para a atividade tanto neste ano quanto para o ano que vem, com alguns agentes esperando um crescimento perto de 1%, mas uma desaceleração em 2023 é esperada no geral”, apontou o profissional.
Entre os economistas que expuseram seus cenários na primeira reunião, a maioria indicou esperar que a Selic continue em 13,75% nos próximos meses e, portanto, não sofra novos aumentos. Um dos presentes, porém, apontou que houve discussão entre os agentes sobre quando seria o momento possível para que os juros começassem a cair. Houve quem revelasse cenários de Selic em torno de 11% no fim de 2023 e quem já apontasse para uma taxa básica abaixo de 10%.
“Todos concordaram que há uma desaceleração da inflação em curso, não ligada somente à redução dos tributos, mas também à queda das commodities e à recomposição das cadeias industriais”, disse um dos participantes. “Está bem claro para os economistas que um ciclo de queda da inflação brasileira está em curso e é bastante positivo. Antes, a preocupação era de quando isso poderia acontecer. No entanto, também está claro para todo mundo no grupo que a inflação no centro da meta no ano que vem não está nem em discussão”, enfatizou um dos participantes do primeiro grupo, que revelou, ainda, que as projeções para o IPCA de 2023 estavam entre 5% e 5,5%.
Já na segunda reunião, que ocorreu entre 14h e 15h30, houve um viés mais preocupado com o cenário externo. Enquanto no primeiro grupo se destacaram apontamentos sobre uma possível recuperação da China que desse apoio ao crescimento econômico em 2023, no segundo grupo predominaram as preocupações com a desaceleração global; o aperto monetário nos Estados Unidos; a crise energética na Europa; e os riscos no setor imobiliário chinês.
De acordo com um dos participantes, houve, entre os economistas, quem apontasse para uma zona de incertezas “imensa” na economia global. Entre os participantes que revelaram seus cenários, alguns apontaram projeções de juros entre 4% e 4,5% nos EUA e possibilidade de recessão em 2023. Além disso, a preocupação com a economia europeia se mostrou relevante, diante da crise energética e da inflação da zona do euro, que pode superar a dos mercados emergentes, e elevar os desafios do Banco Central Europeu (BCE) em conduzir sua política.
“Há um consenso de que o cenário global traz riscos adicionais para as commodities, mas houve divisão sobre o comportamento do câmbio”, disse um dos presentes.
Além disso, a questão inflacionária teve bastante destaque ao longo da segunda reunião, em especial os efeitos da inércia sobre o IPCA de 2023. Alguns dos presentes apontaram para uma inércia menor devido à inflação mais baixa neste ano na esteira do corte de impostos. Houve, porém, quem desse ênfase ao cenário de atividade ainda bastante forte no curto prazo e à incerteza em torno das contas públicas e sobre qual será a política econômica em 2023.
Também na segunda reunião, um economista apontou que a perda de força da âncora fiscal e as incertezas em torno do que virá à frente poderiam afetar as expectativas de inflação e o comportamento da taxa de câmbio, o que, somado ao ambiente externo mais adverso, poderia afetar o cenário inflacionário à frente.
Fonte: Valor Econômico
