Por Paul Hannon, Dow Jones — Nova York
23/11/2022 10h46 Atualizado
A economia global está desacelerando à medida que o turbulento ano de 2022 chega ao fim. Apesar dos resultados ruins, economistas não esperam que o mundo entre em recessão, mesmo que algumas das maiores economias do planeta tomem este rumo.
Indicadores divulgados nesta quarta-feira mostram quedas na atividade das maiores economias da Europa em novembro, consolidando as expectativas de que os altos preços da energia provavelmente vão provocar contração no continente no último trimestre deste ano e no primeiro trimestre de 2023.
Alguns economistas acham que é possível que a economia dos Estados Unidos também sofra dois trimestres consecutivos de contração no primeiro semestre do próximo ano em resposta ao rápido aperto da política monetária do Federal Reserve (Fed, o banco central americano), embora a previsão esteja longe de se confirmar.
Mas mesmo com um começo fraco para 2023 esperado em muitos dos países mais ricos do mundo, os economistas têm receio de prever uma recessão global, que é comumente definida quando uma taxa de crescimento anual da produção cai abaixo da taxa de crescimento populacional – atualmente em torno de 1%.
Em termos práticos, isso significa que a deterioração das condições econômicas que muitos países, empresas e consumidores em todo o mundo experimentaram neste ano deve continuar no próximo ano – com fortes variações regionais. Porém, a queda pode não ser tão severa quanto se temia alguns meses atrás.
“Não prevemos uma recessão global de um ponto de vista técnico, mas ela parecerá uma recessão para grandes partes da economia global”, disse Marcelo Carvalho, diretor global de economia do BNP Paribas.
Com a expectativa de que a China se recupere de um 2022 extraordinariamente fraco, muitos analistas veem a produção global subindo cerca de 2% no próximo ano, uma forte desaceleração em relação a este ano e bem abaixo do crescimento médio de 3,3% registrado na década anterior ao início da pandemia.
As economias da Europa enfrentarão os ventos contrários mais fortes nos próximos meses, após a decisão de Moscou de cortar o fornecimento de gás natural para minar o apoio ocidental a Kiev. A gigante russa de gás natural, Gazprom, ameaçou na terça-feira restringir ainda mais as exportações do combustível para a Europa via Ucrânia a partir da próxima semana, colocando em xeque uma das últimas rotas restantes para o gás russo chegar à Europa.
O custo econômico dos preços mais altos de energia foi revelado em pesquisas de atividade industrial de empresas europeias, que registraram mais um mês de queda na atividade em novembro. A S&P Global disse que seu índice composto de produção para a zona do euro, que inclui serviços e atividade manufatureira, subiu para 47,8 em novembro, de 47,3 em outubro, permanecendo abaixo da marca de 50, que distingue uma contração de uma expansão.
“Uma recessão parece provável, embora os dados mais recentes forneçam esperança de que a escala da desaceleração não seja tão severa quanto se temia anteriormente”, disse Chris Williamson, economista-chefe de negócios da S&P Global.
No curto prazo, a Europa provavelmente evitará os piores resultados que os políticos temiam enquanto se preparavam para um aumento na demanda de energia durante os meses de inverno. Um outubro ameno e altos níveis de armazenamento de gás tornam menos provável que as fábricas da Europa enfrentem racionamento de energia. Como resultado, os economistas do Barclays esperam que o pior cenário, de uma queda de 5% no produto interno bruto, seja evitado, mas continuam vendo uma queda de 1,3% como provável.
Os governos europeus agiram rapidamente para fornecer ajuda a famílias e empresas que enfrentam custos de energia mais altos, e isso ajudou a sustentar uma recuperação modesta na confiança do consumidor de baixas recordes. Com os preços do gás natural caindo em relação às altas de agosto, alguns fabricantes retomaram a produção.
No entanto, passar este inverno sem racionamento não será o fim dos problemas energéticos da Europa. As reservas de gás natural para o inverno de 2023 provavelmente terão que ser repostas com suprimentos ainda menores da Rússia do que neste ano e com maior competição por gás natural liquefeito de uma economia chinesa em rápido crescimento.
Os preços da energia também devem permanecer altos ao longo do próximo ano e além, tornando difícil para que algumas fábricas consigam cobrir seus custos. De acordo com uma pesquisa com membros da Mesa Redonda Europeia de Industriais, também divulgada nesta quarta-feira, 15% dos maiores fabricantes do grupo planejam encerrar definitivamente alguma unidade de produção no continente.
Em 2023, as perspectivas para as economias da Europa permanecem pessimistas, mesmo que o pior ainda não tenha se concretizado. Isso é particularmente verdadeiro para os países da Europa Oriental que fazem fronteira ou estão perto da Rússia.
“Acho que não vemos uma melhora”, disse Beata Javorcik, economista-chefe do Banco Europeu para Reconstrução e Desenvolvimento.
A maior incerteza que a economia dos EUA enfrenta é até que ponto o Fed precisará aumentar suas taxas de juros para reduzir a inflação elevada.
As perspectivas para a economia da China também são altamente incertas, pois o governo diminuiu algumas das restrições associadas à sua política de “covid zero” e crescimento fraco este ano. Os economistas veem uma redução gradual nos lockdown que afetam os principais centros industriais como a chave para uma recuperação do crescimento no próximo ano, mas um aumento recente de novos casos levantou questões sobre a rapidez com que isso pode ocorrer.
“Esse ajuste fino de sua política covid-19 está sendo testado agora, à medida que os casos continuam aumentando, especialmente em seu centro industrial de Guangzhou”, disse Magdalene Teo, chefe de pesquisa de renda fixa na Ásia da Julius Baer. “A China está percebendo que a reabertura neste inverno não será fácil”.
Como na Europa, os economistas alertam que é mais provável que a economia desacelere mais acentuadamente do que o esperado do que cresça com mais força, deixando o mundo mais próximo da recessão.
Fonte: Valor Econômico
