Alfredo Setubal, CEO da Itaúsa, maior empresa de participações do Brasil, afirmou nesta terça-feira que já vê leve desaceleração da economia em relação ao ano passado. Segundo ele, o grande fator dessa perda de ritmo “é uma inflação de alimentos um pouco mais alta, que tira um pouco da renda das pessoas físicas para consumo, para reformas de casas e tudo o mais.”
Em videoconferência para apresentar os resultados da holding no primeiro semestre, Setubal fez questão de frisar que não vê queda e sim avanço menor de consumo e movimentos das estradas, por exemplo. “A mesma coisa a gente observa no Itaú Unibanco, que tem crescido de maneira mais lenta a sua carteira de crédito, mas ela está crescendo.”
O CEO da Itaúsa citou as previsões do Itaú BBA de crescimento do PIB neste ano, de 2,2%, frente à taxa de 3,4% de 2024. “É uma desaceleração em relação ao ano passado. Claro que, no caso do Itaú Unibanco, em função da conjuntura, há um certo aperto da concessão de crédito, tomando menos riscos, exigindo mais garantias.”
Para Setubal, o primeiro semestre foi mais desafiador por causa da alta de juros somada ao “cenário internacional bastante difícil”, com os conflitos e a nova política comercial dos Estados Unidos. “Mas a gente trabalha com uma inflação ainda relativamente controlada, apesar de bem acima da meta, o que leva a essa taxa de juros de 15% bastante alta.”
De acordo com o CEO da Itaúsa, a previsão é que as taxas de juros continuem altas no segundo semestre, mas a expectativa é de que o período seja positivo para a holding. “Principalmente o Itaú Unibanco, com resultados crescentes, muito sólidos, com um bom nível de provisionamento e continuando a desempenhar um papel muito grande e se adaptando a essa nova concorrência, a esse novo ambiente competitivo das fintechs, do mundo digital e um nível de eficiência grande, conseguindo reduzir custos, aumentar receitas. Continua sendo o nosso grande destaque para o ano.”
O Itaú é a companhia mais valiosa na carteira da Itaúsa, com a participação da holding avaliada em R$ 148,4 bilhões. Depois vem Motiva – antiga CCR (R$ 2,9 bilhões), Aegea (R$ 2,4 bilhões), Alpargatas (R$ 1,8 bilhão), Copa Energia (R$ 1,8 bilhão), Dexco (R$ 1,7 bilhão) e NTS (R$ 1,6 bilhão).
A Itaúsa registrou lucro líquido recorrente de R$ 4 bilhões no segundo trimestre deste ano, alta de 11,1% em relação ao mesmo período de 2024. O resultado recorrente das investidas avançou 11,3%, a R$ 4,3 bilhões. O retorno (ROE) ficou em 18,4%, ante 17,7% no segundo trimestre de 2024. Ao fim de junho, o valor dos ativos da Itaúsa somava R$ 159,3 bilhões, avanço de 24% em um ano. No semestre, o lucro líquido recorrente bateu recorde e foi de R$ 7,9 bilhões, crescimento de 10% frente ao mesmo período de 2024.
Priscila Grecco, CFO da Itaúsa, ressaltou a redução do endividamento da empresa, com o pré-pagamento de R$ 1,25 bilhão, para R$ 3,6 bilhões (dívida bruta), uma redução de 28% do valor e de 17 pontos-base do custo médio. Em 2022, o total da dívida era de R$ 8,4 bilhões. “A gente aproveitou o recurso advindo do aumento de capital e também consumimos parte do nosso caixa próprio de R$ 250 milhões. Considerando todos esses movimentos, desde 2022 houve 57% de queda, de redução da nossa dívida bruta, nossa dívida líquida reduzindo 90%, ao mesmo tempo com um alongamento do perfil em 2,2 anos.” Segundo ela, a dívida líquida atingiu R$ 587 milhões, a um custo médio de 1,37% ao ano e prazo médio de 6,5 anos, versus 6 anos em junho do ano passado.
A CFO afirmou que, com esse “patamar bastante confortável”, não há previsão de novo pré-pagamento nos próximos 12 meses. Ela, contudo, considera a possibilidade de “mais algum movimento de refinanciamento.” Setubal complementou afirmando que vê oportunidades de alongamento da dívida. “Discutimos, inclusive, isso no Conselho ontem [segunda-feira, 11/8]. Vemos oportunidades de alongar o prazo de maneira a diminuir ainda mais a concentração de pagamentos para os próximos anos e alongar para a década de 2030.”
Sobre novas investidas, Setubal afirmou que o cenário mais possível é aumentar a participação nas empresas do portfólio atual, diante dos resultados que ele avalia como positivos e com potencial de mais crescimento. O CEO comentou que há chance de buscar novas alternativas, mas, com a Selic alta, ela é mais remota no momento. “Com juros de 15%, mais os riscos todos envolvidos, a gente teria que procurar retornos na faixa de 20% ao ano, o que nesse momento é bastante difícil de conseguir. Então, vamos com calma.”
De acordo com ele, a holding vem avaliando opções no setor do agronegócio, desde a produção de sementes, até a distribuição, logística e produção de equipamentos. “Estamos buscando alternativas que nos tragam um investimento que faça sentido e que não traga tanta volatilidade do preço das commodities para o nosso resultado.”
Setubal também demonstrou insatisfação com o valor de mercado da holding, que no fim de julho era de R$ 113,8 bilhões, enquanto a soma das participações nas empresas investidas a valor de mercado totalizava R$ 151,7 bilhões, o que corresponde a um desconto de 25%. A Itaúsa atribui parte do desconto a despesas operacionais, financeiras, tributárias (como PIS/Cofins sobre juros sobre capital próprio). A reforma tributária aprovada em janeiro de 2025 eliminará essa tributação sobre o JCP recebido a partir de janeiro de 2027.
“Acho que esse desconto é excessivo, principalmente quando a gente olha a qualidade do portfólio, um desconto onde o nosso valor de mercado é menor do que a nossa participação no Itaú Unibanco. A ineficiência fiscal, que a partir de 2027 deixa de existir, representa mais ou menos R$ 500 milhões a R$ 600 milhões por ano em despesa tributária que nós deixaremos de ter nos nossos balanços.”
O valor de mercado da fatia no Itaú Unibanco era de R$ 141,2 bilhões em julho. Setubal frisou ainda que algumas empresas do portfólio não são listadas em Bolsa, como a NTS, a Aegea e a Copa Energia. “Se a gente colocar essas empresas a valor justo, esse desconto subiria ainda uns 2,3% na nossa visão.”
Fonte: Valor Econômico