24 Jun 2024 VINICIUS PEREIRA
Economista formado pela PUC RJ, é sócio e gestor da IP Capital Partners desde abril de 2002
“Se você tem como objetivo acumular patrimônio ao longo do tempo, essa fase é ideal, os preços (na Bolsa) estão maravilhosos.”
Fundada em 1988, quando se apresentou como a primeira gestora independente de recursos do País, a IP Capital busca gerar valor aos investidores por meio de um portfólio misto entre Brasil e EUA. O principal fundo da casa, por exemplo, tem uma carteira composta por 15 a 20 empresas brasileiras e estrangeiras e já rendeu 23.705% desde a criação do Plano Real – mais de sete vezes o Ibovespa no período.
Neste ano, o fundo rende 2,8%, enquanto o Ibovespa cai 9,9% e o CDI (Certificados de Depósitos Interbancários) avança 4,4%. Conforme Pedro Andrade, sócio dessa empresa que tem R$ 3 bilhões sob gestão, a principal razão de o fundo se manter no campo positivo é o mix de atuação. “As posições no Exterior estão performando muito bem, enquanto a parcela brasileira do portfólio vem caindo. O que temos feito ao longo do ano é, gradualmente, ir adicionando mais exposição ao Brasil, sabendo que os ruídos pelo risco fiscal podem durar mais tempo, mas também querendo aproveitar os preços maravilhosos”, diz.
A busca da gestora é sempre por empresas que consigam entregar crescimento forte. O preço, claro, entra nessa equação. Por isso, empresas dos EUA ficam com dois terços da carteira. As maiores posições da IP no Brasil estão em BTG, Energisa e Multiplan. Nos EUA, as apostas se concentram em Google, Universal Music e TransDigm.
A indústria de fundos tem sofrido nos últimos anos. Segundo a Anbima, em 2023, os fundos tiveram resgates líquidos de R$ 109,6 bilhões. O que tem atrapalhado?
O que mais tem prejudicado é a prática governamental brasileira de achar que gastando mais é possível atingir os objetivos mais rápido, mesmo que isso traga juros altos e inflação. Governos de direita e de esquerda apostam nisso e, quando os juros estão altos, fica pouco interessante tomar risco. Hoje, é um excelente momento para alocar capital na Bolsa e é um péssimo momento para tirar o capital da Bolsa.
Houve alguma mudança na estratégia dos fundos da casa em meio a essa crise?
Não. A IP completa 36 anos de história, sendo que o nosso fundo mais antigo tem 30. Já vivemos muitas crises e organizamos uma cultura na empresa, do ponto de vista de filosofia de investimentos, levando em conta o fato de passar por esse tipo de ciclo. Então, isso não é novidade.
Em relação ao ambiente macroeconômico, como a indefinição dos juros nos EUA tem afetado a alocação de ativos?
A nossa visão macroeconômica não busca ter previsões muito específicas sobre o que pode acontecer. Quando tentamos prever especialmente fatores macro, a chance de ser surpreendido é grande. A nossa estratégia é outra, de entender o que está acontecendo no macro e depois escolher os melhores negócios com segurança ao longo dos próximos anos. Dito isso, no campo macro, o que eu vejo é que saímos de juros zerados nos EUA para juros de mais de 5%. O esforço de controle da inflação está encaminhado, apesar de ser difícil adivinhar exatamente quando o Fed (o Banco Central americano) vai reduzir os juros. Mas as expectativas claramente já se organizaram nos EUA. Podemos ter um pouco de atraso ou antecipação no processo de queda, mas dificilmente vai subir mais para resolver o problema da inflação. Estamos mais próximos da resolução, o que permite que as empresas desabrochem e os resultados se manifestem nas ações.
E, sobre o Brasil, os agentes do mercado têm questionado muito as escolhas políticas do governo com relação às contas públicas. Como os sr. vê isso?
O que estamos vivendo aqui é um ambiente de repressão da tomada de risco, considerando os juros altos e uma sinalização de que o fiscal não vai ser organizado. A curva de juros brasileira é crescente porque existe essa percepção de que o quadro fiscal está fora de controle e que isso vai gerar mais inflação e a necessidade de mais juros. Mas esse é um momento curioso. Se você tem como objetivo na Bolsa acumular patrimônio ao longo do tempo, essa fase é extremamente útil para montar posição porque o preço está maravilhoso. Agora, se você está querendo sair da Bolsa, é muito ruim. Vemos os investidores vendendo ativos muito baratos para comprar pós-fixados que vão subir previsivelmente, mas em taxas que, se você olhar anos à frente, provavelmente serão menores do que o rendimento de bons ativos na Bolsa, considerando os preços atuais.
O principal fundo da IP tem rentabilidade de 23.705% desde o Plano Real, contra menos de 8.000% do CDI e cerca de 3.200% do Ibovespa no período. A que creditam essa performance?
Nossa filosofia de investimento sempre foi cautelosa com relação ao risco e focada na qualidade dos ativos, que vão existir com grande solidez daqui a cinco ou dez anos. •
Fonte: O Estado de S. Paulo
