Apesar da desaceleração da economia chinesa e da recente volatilidade no mercado de ações, a UBS Global Wealth Management avalia que as empresas de tecnologia do país asiático podem ser uma boa alternativa para investidores que buscam diversificação no setor, mas fora dos Estados Unidos. “É questão de tempo” até que a China alcance outros players internacionais que se interessam pelo segmento, avalia o estrategista sênior de mercados da casa, Xingchen Yu.
Em entrevista ao Valor, Yu observa que, embora os EUA continuem a ser um mercado central no setor de tecnologia, os investidores têm se interessado cada vez mais em diversificar suas estratégias. “As empresas chinesas apresentam uma alternativa atraente, considerando o ambiente regulatório favorável e o potencial de compatibilidade com desenvolvimentos globais. O recente lançamento do modelo DeepSeek exemplifica o progresso da China nesse setor e é apenas uma questão de tempo para que o país alcance os players internacionais”, argumenta o executivo.
Outros países que estão se destacando no continente, na visão do estrategista, são Taiwan, onde estão localizados alguns dos maiores fabricantes de chips do mundo, e Coreia do Sul, com empresas líderes no segmento de memória. No curto prazo, a UBS Wealth está mais cautelosa por acreditar que um cenário positivo já esteja, em grande parte, precificado no comportamento das ações, mas acredita que quaisquer correções de mercado podem representar uma boa oportunidade de compra. “O foco é identificar players de tecnologia estratégicos, considerando diferentes camadas da cadeia de valor e buscando exposição sólida a empresas-chave em inteligência artificial”, afirma Yu. “Muitas empresas de Taiwan já fazem parte da cadeia global de valor da IA, integrando-se naturalmente ao ecossistema dos EUA, o que também representa um componente importante de diversificação geográfica.”
Embora as tensões comerciais entre China e EUA aumentem a volatilidade para o mercado de ações, Yu permanece otimista com o setor de tecnologia. “O comércio acaba sendo apenas um dos fatores em jogo”, afirma. O executivo observa que, desde o choque do “Dia da Libertação”, em 2 de abril, as tarifas não têm sido tão severas quanto os temores iniciais dos investidores e o país asiático, por ter uma economia mais doméstica, acaba sendo menos vulnerável aos efeitos da guerra comercial. “As tensões comerciais devem permanecer, mas, ao mesmo tempo, há um esforço estratégico da China de diversificação das exportações, buscando tornar a economia mais orientada ao consumo interno, o que acreditamos que irá trazer retorno”, diz.
Contudo, embora o impacto das tarifas tenha sido limitado até o momento, a UBS Wealth espera uma desaceleração na economia chinesa ao longo do segundo semestre, com o peso da guerra comercial sobre as exportações e o consumo resultando em um crescimento menor. Com isso, para outros setores do mercado de ações chinês, a recomendação da casa é neutra, mesmo com o recente rali.
“Dado o crescimento estruturalmente mais baixo da China e o ambiente global difícil, mantemos uma postura cautelosa em relação às ações chinesas”, afirma Yu. “Os preços atuais estão um pouco acima da média de três anos, e não vemos muitos novos catalisadores positivos no horizonte”, afirma. O índice Xangai Composto subiu 24% no ano até o momento e o índice Shenzen Composto acumula uma valorização de 15%.
“O rali tem sido alimentado mais por sentimento do que por fundamentos — e pode até continuar no curto prazo —, mas a sustentabilidade é questionável, dados os desafios macro e o risco de mudanças na política econômica”, avalia o estrategista. Ele destaca, sobretudo, que o setor imobiliário e o consumo no país permanecem fracos e que os estímulos fiscais do governo não são suficientes no momento para uma recuperação mais sustentada nesses segmentos.
Apesar disso, a casa ainda vê espaço para as ações de empresas que pagam dividendos elevados. Yu aponta que os setores de serviços públicos e telecomunicações mostraram bons resultados financeiros, o que deve amortecer possíveis desafios no cenário macroeconômico, e também destaca os bancos e as seguradoras do país como boas pagadoras de rendimentos. “As ações de empresas que pagam dividendos elevados podem se beneficiar do ambiente de inflação baixa, taxas de juros em queda e estabilidade relativa frente às tarifas.”
Fonte: Valor Econômico