Após um semestre marcado por uma ampla desvalorização do dólar, a moeda americana ganhou força recentemente, o que levou o índice DXY ao nível mais alto em um mês. O indicador, que mede o valor da divisa americana em relação a uma cesta de outras seis moedas fortes, se aproxima novamente da marca dos 100 pontos, em um movimento que vai na contramão do consenso do mercado — de continuidade do dólar fraco — e desafia a percepção de que os investidores estão desfazendo posições em ativos financeiros dos Estados Unidos.
A forte recuperação das bolsas americanas após o “Dia da Libertação”, em 2 de abril, e a demanda razoável por Treasuries em leilões do Tesouro americano ajudam a levantar questionamentos sobre se, de fato, há uma saída mais forte dos ativos americanos, embora haja uma procura por diversificação nos investimentos. Agora, com operadores mais acostumados à instabilidade da Casa Branca e com a percepção de que o pior da guerra comercial ficou para trás, os ativos americanos voltaram a ganhar força, o que começou a se refletir no dólar.
Em um primeiro momento, a valorização da moeda americana no início do mês foi atribuída por alguns traders a um “short squeeze”, quando um movimento abrupto nos preços de um ativo ocorre por um fechamento forçado de posições vendidas, amplificando a pressão de compra. Essa ação perdeu um pouco de força ao longo do mês, mas voltou a se mostrar chamativa na segunda-feira, quando o DXY subiu mais de 1% — algo que teve continuidade na sessão de ontem, ainda que em menor intensidade. O índice subiu 0,27% ontem, para 98,898 pontos, após ter atingido a casa dos 99 pontos em alguns momentos.
O estrategista de câmbio Alex Cohen, do Bank of America (BofA), nota que a moeda americana tem sido impulsionada neste momento por dados econômicos resilientes nos EUA, além de um forte desempenho das ações de tecnologia e de algum alívio nos prêmios de risco derivados da guerra comercial. “A divulgação de dados econômicos robustos nos EUA em julho, combinada com o desempenho superior das ações americanas, especialmente nos setores de tecnologia e inteligência artificial, ajudou a dissipar parte das preocupações sobre a demanda por ativos americanos”, avalia.
Embora ainda exista incerteza em torno das tarifas do presidente dos EUA, Donald Trump, o estrategista do BofA argumenta que o impacto do fluxo de notícias em torno da guerra comercial sobre o mercado diminuiu. “O prêmio de risco negativo que tarifas mais severas implicavam para o dólar também se dissipou, com o mercado demonstrando apetite por seguir em frente”, acrescenta.
“Há sinais de que a reação dos mercados às tarifas está mudando”, opinam os estrategistas do Barclays. Para eles, boa parte da fraqueza do dólar já foi precificada nos mercados e o modelo dos acordos firmados até o momento, que evita retaliações para os EUA, pode levar a um dólar mais forte do que o previamente esperado.
É nesse sentido que Torsten Sløk, economista-chefe da Apollo Global Management, que conta com US$ 512,8 bilhões sob gestão, espera que o dólar continue a se valorizar nas próximas semanas. Com o pior da guerra comercial e da incerteza econômica para trás, ele vê um maior apetite por ativos americanos, algo que também é evidente no mercado de Treasuries.
Sløk avalia que a queda de mais de 10% do dólar no primeiro semestre deste ano não foi motivada pela venda de ativos americanos por investidores estrangeiros, ao contrário do que tem sido apontado pela maior parte dos analistas. Para ele, a desvalorização foi causada, na verdade, por operações de hedge cambial, “à medida que investidores estrangeiros, após décadas sem proteger suas posições nos EUA, passaram a fazer hedge de parte de suas exposições em dólar”.
Agora, com o Federal Reserve (Fed, o banco central americano) mantendo os juros altos por mais tempo e a queda da Section 899, projeto de lei para tributar lucros de investimentos estrangeiros nos EUA, ele espera que o movimento de hedge em dólar diminua.
Fonte: Valor Econômico

