O dólar se aproximou do teto da banda de flutuação cambial estabelecida pelo presidente da Argentina, Javier Milei, em meio à expectativa dos mercados para a apresentação do plano orçamento do governo na noite de ontem e as tensões políticas para as eleições legislativas em 26 de outubro.
No fechamento, o dólar chegou a 1.467 pesos, alta de 0,96%, depois de tocar 1.469 ao longo do dia e se aproximar do teto de 1.473 do regime cambial adotado em acordo com o FMI. O Banco Central reagiu, injetando cerca de US$ 100 milhões nos mercados para conter a valorização, segundo analistas.
Esse tipo de manobra deve se repetir nas próximas semanas, combinando uso de reservas, ajustes nas taxas de juros e operações de futuros. No entanto, tais intervenções trazem riscos adicionais de volatilidade cambial e podem aumentar a pressão sobre uma economia já fragilizada.
“Defender o teto da banda implica um custo que pode superar os benefícios”, diz Luis Secco, economista e diretor da consultoria Perspectiv@s. “Não só há o risco de esgotar as reservas líquidas, mas também de fazê-lo em um nível de câmbio desalinhado: que não permite nem o equilíbrio externo (isto é, acumular reservas), nem o equilíbrio interno (crescimento e geração de empregos)”.
A incerteza cambial cresce à medida que se aproximam as eleições de outubro. Sem maioria no Congresso, Milei enfrenta resistências com ajustes mais duros e corre o risco de ampliar dificuldades para aprovar seu programa econômico caso saia enfraquecido das urnas.
“Acredito que a economia hoje está estagnada desde fevereiro e começa a haver certa preocupação, porque situações como o desemprego estão entre as opiniões ou preocupações mais importantes da população”, afirma Juan Pablo Ronderos, sócio da consultoria MAP. “Mas hoje o maior problema que o governo tem para as eleições de outubro é político.
Em uma tentativa de recuperar o controle da narrativa econômica, Milei decidiu apresentar o orçamento em rede nacional, em vez optar por um discurso no Congresso. No entanto, não deu detalhes sobre a previsão de crescimento, de superávit fiscal, de inflação e do dólar para 2026.
Pressionado pela derrota nas eleições em Buenos Aires, Milei anunciou aumentos nos gastos com aposentadoria em 5%, com saúde em 17% e com educação em 8%, todos acima da inflação. “O pior já passou”, disse ele, acrescentando que, apesar dos ajustes, o equilíbrio fiscal segue como “pedra angular” do governo.
Secco avaliou que o orçamento será o “primeiro teste sério de governabilidade” que Milei terá de enfrentar se quiser conter a expectativa de novos reveses, como na recente eleição, na tentativa de aprovar outras leis fundamentais para o governo em 2026.
Fonte: Valor Econômico