Por Gabriel Caldeira, Gabriel Roca e Matheus Prado — De São Paulo
30/08/2023 05h03 Atualizado há 4 horas
Dados de atividade mais fracos nos Estados Unidos voltaram a dar força à hipótese de que a maior economia do mundo pode precisar de uma dose menos intensa de aperto monetário para recolocar a inflação na meta, o que resultou na queda dos rendimentos dos Treasuries e abriu espaço para ativos de risco, inclusive os locais, avançarem na sessão de ontem. Investidores domésticos também acompanharam de perto os ruídos em torno da meta fiscal para 2024.
O retorno da T-note de dois anos encerrou a sessão em baixa de 8,4 pontos-base, a 4,926%, e o da T-note de dez anos recuou 7,9 pontos-base, a 4,125%. A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2025 cedeu de 10,52% para 10,46%; e a do DI para janeiro de 2027 caiu de 10,21% para 10,115%. Já o dólar teve queda de 0,45%, a R$ 4,8536, e o Ibovespa subiu 1,10%, aos 118.404 pontos.
O número de vagas de trabalho em aberto na economia dos EUA caiu para 8,8 milhões em julho, de 9,582 milhões em junho, segundo dados do relatório Jolts. E o índice de confiança do consumidor americano caiu para 106,1 pontos em agosto, segundo o Conference Board, bem abaixo da estimativa de 116 pontos.
Com esses dados, que sugerem possibilidade de pouso suave da economia americana, o mercado antecipou de junho para maio de 2024 sua previsão majoritária para o primeiro corte de juros nos EUA. De acordo com cálculo do CME Group, há 35,3% de chance de juros entre 5% e 5,25% após a reunião do Fed em maio, contra 30,8% para o patamar atual de 5,25% a 5,5%. Na véspera, os percentuais eram 27,6% e 37%, respectivamente.
“O melhor equilíbrio entre pressões inflacionárias e riscos de desaceleração econômica, em conjunto com a alta dose de aperto monetário já implementado na economia americana, deve permitir que o Fed racionalize uma pausa nas elevações das taxas de juros”, dizem os analistas Guilherme Motta e Ricardo Peretti, do Santander.
Essa tese deve ser testada nos próximos dias. Hoje saem a segunda leitura do Produto Interno Bruto (PIB) dos EUA no segundo trimestre e o relatório de empregos no setor privado da ADP referente a agosto. Nos dois dias seguintes serão divulgados o índice de preços de gastos com consumo (PCE, medida de inflação) e o relatório oficial do mercado de trabalho americano, o chamado “payroll”.
O alívio externo ajudou os mercados locais, em dia de ambiente interno conturbado em torno das perspectivas fiscais de curto prazo do país. À medida em que o governo precisa entregar o Projeto de Lei Orçamentária Anual até amanhã, cresceram rumores em torno de qual será a meta estipulada de déficit primário para o ano de 2024.
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, negou que a Junta de Execução Orçamentária (JEO) vá discutir mudanças na meta de resultado primário para 2024. “Tivemos muito ruído por conta do fiscal, mas investidores ignoraram a discussão e focaram nos números lá de fora”, diz profissional de renda fixa de uma instituição local.
Fonte: Valor Econômico

