Pagamentos somaram R$ 122 bilhões do início do ano até maio e podem ultrapassar R$ 250 bilhões em 2024, segundo levantamento
PorRodrigo Rocha — De São Paulo
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Em um ritmo até agora mais forte que o registrado no ano passado, o pagamento de dividendos pelas companhias brasileiras em 2024 caminha para ao menos repetir o de 2023, quando foram distribuídos cerca de R$ 224 bilhões aos acionistas. O endividamento menor das empresas, associado a um baixo investimento, tem aliviado a pressão sobre o lucro. As maiores expectativas, entretanto, recaem sobre nomes já conhecidos dos investidores que desejam ganhos para além da valorização dos papéis.
Até maio, segundo levantamento da fintech Meu Dividendo, foram distribuídos cerca de R$ 122 bilhões, o que indica que o montante total de 2024 tem grandes chances de superar R$ 250 bilhões. No mesmo período de 2023, os pagamentos somaram R$ 98,42 bilhões. “Se olharmos historicamente, 54% dos proventos são pagos no segundo semestre. Só no ano passado isso não aconteceu, quando começamos muito bem, mas arrefeceu. Ainda assim, no ano passado 47% dos dividendos foram pagos no segundo semestre”, explica Wendell Finotti, fundador da fintech que atua na antecipação de pagamento de dividendos.
Apesar do cenário macroeconômico incerto, com câmbio e juros ainda pressionando os balanços, o bom trabalho de algumas companhias tem equilibrado os resultados. E esse mesmo momento de incerteza, diminui o interessante em grandes investimentos, reforçando o caixa das empresas.
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“No geral, estamos num momento melhor, com endividamento menor, vemos a bolsa pagando bons dividendos. Por outro lado, não vemos grandes projetos de expansão das empresas, então deve ser parecido com o ano passado”, diz Pedro Serra, chefe de pesquisas da Ativa Investimentos.
Até o momento, quem lidera essa lista é a Petrobras, que já pagou R$ 36,7 bilhões, e paga mais R$ 18 bilhões em 20 de junho. O montante, além dos dividendos previstos pelo estatuto, inclui ainda os proventos extraordinários, foco de uma disputa que culminou com a mudança na presidência da empresa no mês passado.
“Para além da troca de gestão, acho que a quantia final, respeitando o estatuto da companhia, deve se manter no mesmo nível [do ano passado]. A Petrobras continua sendo uma boa pagadora, ainda que não nos volumes que distribuiu em outros anos”, destaca Bruno Benassi, analista da Monte Bravo Investimentos.
Se a Petrobras é o principal destaque individual, por setor, os bancos continuam sendo fontes relevantes de proventos, principalmente o Itaú, que neste ano, acelerou o ritmo de pagamento. “Os principais bancos continuam tendo bons resultados, então devem pagar mais dividendos que no ano passado,principalmente o Itaú. Nas nossas contas hoje, o ‘yield’ [rendimento por ação] do Itaú deve chegar a quase 10%”, comenta Benassi.
Até maio, o Itaú já pagou R$ 22 bilhões em proventos, significativamente acima dos R$ 13 bilhões pagos de todo o ano passado e mais de quatro vezes o desembolso até maio de 2023, de R$ 5,8 bilhões, segundo os dados levantados pela Meu Dividendo.
Benassi destaca que, além de Itaú, o aumento da fatia distribuída de lucro pelo Banco do Brasil e a recorrência do Santander como bom pagador devem ser destaque entre as instituições financeiras. Mesmo o Bradesco, que vem registrando desempenho operacional inferior aos concorrentes, deve se manter no mesmo nível do ano passado.
Ainda entre as empresas financeiras, os analistas destacam outras duas boas pagadoras, Itaúsa e BB Seguridade. Para além do setor, a Vale é outra empresa que distribui bom volume de proventos, e mesmo com a queda nos preços do minério de ferro, a expectativa é de outro bom ano.
“Se olharmos essa concentração, 84% do que é distribuído vem de oito empresas, a expectativa é de continuidade, mesmo sem a Petrobras pagar dividendos extraordinários [no restante do ano]”, explica Hayson Silva, analista da Nova Futura.
Para além dessa lista, porém, as opiniões são mais divergentes, mas sem apontar nenhuma empresa que já não esteja no radar. O que se espera, principalmente, é uma melhora para as empresas de telecomunicações e, na outra ponta, um ano mais tímido para empresas de energia.
“Acho que as empresas de telefonia terão um bom ano de pagamento de dividendos. Essas empresas, que estavam meio esquecidas por causa dos investimentos que tiveram que fazer, voltam a ser relevantes”, afirma Benassi, lembrando os desembolsos relacionados à expansão do 5G.
No lado negativo, o setor de energia, que em muitos momentos funcionou como proteção para a renda variável, não deve reforçar tanto as carteiras dos investidores. Uma das “queridinhas”, a Taesa, ajustou o modelo de pagamento no ano passado, e deve distribuir bem menos, também pensando em desembolsos relacionados a investimentos.
“Tivemos o anúncio da Auren comprando a AES e a Esfera Energia, se tornando a terceira maior geradora de energia. Ela foi um dos grandes destaques no ano passado, mas isso não deve se repetir, já que deve destinar boa parte de caixa para pagamento de dívida e aquisições”, lembra Finotti, da Meu Dividendo.
Outra questão para o setor de energia é a pressão sobre as distribuidoras de energia, com a proximidade da renovação das concessões. Há na mesa a proposta de limitação de dividendos para concessionárias que descumpram cláusulas contratuais.
Além de um volume relevante esperado para o segundo semestre, o que deve mudar é como o provento é pago. Se na primeira parte do ano, influenciado pelas assembleias ordinárias de acionistas, o formato mais comum de pagamento é o dividendo, para os próximos meses os juros sobre capital próprio (JCP) devem ser destaque.
Se no ano passado, o JCP representou 44% do total, bem acima de anos anteriores, também por receio de quais seriam as mudanças nas regras sobre o provento, desta vez, com a regra nova, que limitou o uso do mecanismo para planejamento tributário das empresas, a expectativa é que as companhias distribuam o maior montante possível ainda neste ano.
“Acho que [o JCP] deve ser maior, porque acreditamos que o lucro das empresas vai crescer. Além disso, muita empresa já aumentou seu patrimônio líquido. WEG e Hypera fizeram isso. Aumentando patrimônio líquido aumenta a [base de cálculo para] distribuição de JCP”, diz Benassi.
Fonte: Valor Econômico