A dívida do governo dos Estados Unidos poderia chegar a 250% do Produto Interno Bruto (PIB) sem exercer pressão de alta sobre as taxas de juros, de acordo com um artigo apresentado na conferência de Jackson Hole do Federal Reserve (Fed, banco central americano).
“Até que ocorra uma consolidação fiscal, haverá uma corrida entre a crescente demanda por ativos de uma população mais idosa e a crescente emissão de dívida necessária para financiar o aumento associado nos gastos do governo”, disseram os autores Adrien Auclert, da Universidade de Stanford, Hannes Malmberg, da Universidade de Minnesota, Matthew Rognlie, da Universidade Northwestern, e Ludwig Straub, de Harvard.
“Sem grandes ajustes, a oferta de dívida acabará superando a demanda, forçando a elevação das taxas de juros”, afirmaram no artigo. “Em nosso cenário-base, é possível elevar a dívida de longo prazo para 250% do PIB sem aumentar as taxas de juros.”
O pacote fiscal “One Big Beautiful Bill Act, aprovado por um Congresso controlado pelos republicanos em julho, alimentou o debate sobre a importância do aumento dos níveis de endividamento e seu potencial impacto nos custos de financiamento. A dívida do governo dos EUA em poder do público equivalia a cerca de 97% do PIB no final de 2024.
O Escritório de Orçamento do Congresso (CBO), em projeções divulgadas em janeiro, afirmou esperar que a relação dívida por PIB subisse para 117% até o fim de 2034. Após a aprovação da lei, o CBO estimou que a legislação aumentaria esse número em mais 9,5 pontos percentuais.
No artigo, apresentado por Straub neste sábado (23) no encontro anual do Fed com banqueiros centrais globais em Jackson Hole, Wyoming, os autores adotaram uma visão de mais longo prazo.
“Nossos cálculos sugerem que, em 2100, os EUA poderiam sustentar uma relação dívida/PIB de 250% com as mesmas taxas de juros de hoje. No entanto, alcançar isso exige um ajuste fiscal de 10% do PIB ou mais”, disseram. “Quanto mais esse ajuste for adiado, mais a oferta de dívida do governo ultrapassa sua demanda, tornando a dívida governamental insustentável.”
Fonte: Valor Econômico

