Os títulos de dívida corporativa americana estão sendo negociados com os menores “spreads”, prêmio em relação aos papéis do governo, em quase três décadas. O rendimento extra que os investidores recebem pelo risco de empresas com grau de investimento caiu para 73 pontos-base na última sexta, o menor desde 1998, segundo dados da Bloomberg.
Os investidores do segmento têm corrido para garantir rendimentos ainda altos em meio à perspectiva de que o Federal Reserve (Fed, banco central americano) retomará os cortes nos juros em setembro. A leitura é que os títulos corporativos ficaram excepcionalmente caros, à medida que os investidores buscam manter as taxas de juros atuais, apesar dos riscos para as empresas com a desaceleração da economia e pela guerra comercial nos EUA.
Os rendimentos médios dos títulos corporativos de rating elevado ficaram em média acima de 5% nos últimos três anos, depois que o Fed elevou as taxas de juros de quase zero para conter o aumento da inflação pós-pandemia. Isso tem impulsionado a demanda, especialmente de grandes investidores institucionais, seguradoras e planos de previdência, ajudando a controlar os spreads de risco mesmo diante da incerteza econômica e geopolítica causada pelas tarifas.
“Há um pouco de FOMO se manifestando. Esses são rendimentos que as pessoas queriam há anos”, disse Matt Brill, chefe de crédito com grau de investimento na Invesco, referindo-se ao medo de perder oportunidades.
A demanda está ajudando a impulsionar entradas recordes para fundos que investem em títulos com grau de investimento, escreveram estrategistas do J.P. Morgan Chase, liderados por Eric Beinstein e Nathaniel Rosenbaum, em nota.
A forte entrada de capital está sendo acompanhada por uma baixa oferta líquida, o que está fornecendo outra fonte de suporte, já que as empresas têm adiado a emissão de dívida com a expectativa de que as taxas comecem a cair.
O J.P. Morgan espera um terceiro mês consecutivo de oferta líquida negativa após subtrair vencimentos de US$ 71 bilhões esperados para agosto.
Com a menor oferta primária, os operadores estão ficando sem títulos para oferecer aos investidores, diz Mark Clegg, trader e renda fixa da Allspring Global. “Com os spreads comprimidos em todo o crédito, encontrar negociações inteligentes é mais difícil”, disse Clegg.
A queda dos prêmios levantou questões sobre se os investidores estão se tornando complacentes novamente com o risco de aumento da inadimplência caso a economia estagnar. Após os spreads atingirem o pico de 119 pontos-base com as ameaças tarifárias em abril, o analista Noel Hebert, da Bloomberg Intelligence, esperava que o número subisse para cerca de 93 pontos-base, quase um quarto de ponto percentual acima do nível atual de spread. “Uma boa parte dessa diferença se deve à complacência em relação à precificação de risco, seja porque os investidores estão deslumbrados com o rendimento total, seja por algum outro motivo”, disse.
Estrategistas do UBS, incluindo Matthew Mish, ecoaram as preocupações, afirmando que há muito pouco risco precificado e que esperam que os spreads aumentem à medida que os mercados de trabalho enfraquecem, o Fed corta as taxas e os rendimentos caem. Mesmo assim, uma queda nos rendimentos aumentaria os preços dos títulos em circulação, dando aos investidores um incentivo para desconsiderar os níveis de spread.
Fonte: Valor Econômico

