Por Álvaro Campos e Mariana Ribeiro, Valor — São Paulo
08/11/2022 08h10 Atualizado
A estratégia de diversificação de receitas surtiu efeito e ajudou o BTG Pactual a navegar bem em um ano marcado pela ausência de IPOs (sigla em inglês para ofertas iniciais de ações) e pela desaceleração da captação de recursos. O banco alcançou, no terceiro trimestre, um retorno sobre o patrimônio líquido de 22%, batendo seu próprio recorde e superando as grandes instituições financeiras de varejo.
O BTG teve lucro de R$ 2,30 bilhões no terceiro trimestre, com alta de 28% sobre o mesmo período do ano anterior. A receita total ficou em R$ 4,76 bilhões, aumento de 24% na comparação anual. Os dois indicadores são os melhores da história do banco, que ao mesmo tempo captou quase o dobro da rival XP.
A estratégia de avançar entre pequenas e médias empresas, que originalmente não eram o foco do BTG, tem dado resultados. No terceiro trimestre, a receita na área de crédito corporativo atingiu valor recorde de R$ 937 milhões, aumento de 46% em relação ao mesmo período de 2021. O portfólio de crédito cresceu 33%, para R$ 130 bilhões.
A área de gestão de recursos teve receita de R$ 407 milhões, crescimento anual de 40%. Já em gestão de patrimônio e no banco de varejo (wealth management & consumer banking), a receita foide R$ 655 milhões, avanço de 60% em 12 meses. A captação líquida de clientes (net new money, no jargão em inglês) foi de R$ 62,9 bilhões de julho a setembro, abaixo dos R$ 70,8 bilhões obtidos no segundo trimestre. Os ativos sob custódia subiram 25%, para R$ 1,174 trilhão. Na XP, o volume captado entre julho e setembro, em termos líquidos, foi de R$ 35 bilhões
O CEO do BTG, Roberto Sallouti, afirmou que a captação se consolidou nos patamares atuais e deve se manter mais ou menos nesses níveis. Segundo ele, no próximo ano, se houver uma queda de juros, pode até subir um pouco.
“Com uma queda de juros e maior busca por risco de renda variável, prazo, crédito e liquidez, acredito que nós temos uma oferta mais competitiva, nos sentimos mais confortáveis do que no atual momento [de juros altos e busca por renda fixa]”, comentou. “Acreditamos na responsabilidade fiscal, que estamos no pico de juros, e à medida que os juros caiam, o net new money pode acelerar.”
Questionado sobre a competição por escritórios de agentes autônomos, que voltou a esquentar nos últimos meses, Sallouti disse que isso não tem tanta relevância e que o BTG tem bastante ciência do custo de aquisição de clientes em seus diferentes canais.
A área de banco de investimentos, por sua vez, teve uma receita de R$ 525 milhões, recuo anual de 28% e crescimento de 8% em relação ao segundo trimestre do ano. De acordo com o banco, houve recorde de receitas nas áreas de emissão de dívida e M&A [fusões e aquisições].
O vice-presidente financeiro e diretor de relações com investidores do BTG, Renato Cohn, destacou que há um bom volume de operações de renda fixa em preparação para ser lançadas nos próximos dois trimestres. Em emissão de ações, afirmou que, com a melhora do cenário, pode haver uma volta de IPOs no começo de 2023.
Sallouti observou que a economia vive um momento de muita incerteza, pois não está clara qual será a política fiscal do governo Lula, e consequentemente a trajetória da dívida pública e da carga tributária, além da agenda de reformas e concessões públicas.
“Não sabemos qual vai ser a postura dos bancos públicos. Nos últimos seis anos tivemos um clássico efeito de ‘crowd in’, com os bancos privados ganhando espaço. Acho que, por mais que tenha uma mudança na agenda dos bancos públicos, não é nada que vai acabar com o crescimento que vimos nos últimos anos nos mercados de capitais”, afirmou.
Analistas classificaram como positivos os resultados do BTG. O Goldman Sachs destacou a receita recorde e o retorno sobre o patrimônio de 22%. Os analistas afirmam que a captação líquida desacelerou “como esperado”, mas ainda ficou em nível saudável. O Itaú BBA afirmou que o banco registrou resultados ligeiramente mais fortes que o previsto, principalmente devido às áreas de trading, banco de investimento e asset.
Fonte: Valor Econômico

