Por Gabriel Roca — De São Paulo
25/07/2023 05h03 Atualizado há 4 horas
Para além das incertezas típicas relacionadas ao início de um ciclo de cortes de juros, a chegada de Gabriel Galípolo e Ailton Aquino à diretoria do Banco Central pode fazer com que o Copom passe a conviver com um cenário não muito comum para seus membros: o de divergência nas votações. Segundo estudo realizado pelo Inter, antecipado ao Valor, em apenas 15% das decisões do colegiado do BC, desde o início do regime de metas, houve votações divididas.
“Em uma análise das decisões do Copom desde a implementação do regime de metas em 1999, identificamos que em apenas 32 reuniões, de 219, foram apontadas divergências nos votos. Desde o início do regime de metas de inflação, em apenas 15% das reuniões houve votos diferentes entre os membros do colegiado e em nenhuma reunião foram relatados votos que divergiram em mais de duas opções”, aponta a economista-chefe do Inter, Rafaela Vitória.
A economista também destaca o fato de que, na ata da última reunião de política monetária, o Copom sinalizou que há uma divergência entre grupos dentro do colegiado. Enquanto a avaliação predominante foi a de que “a continuação do processo desinflacionário em curso, com consequente impacto sobre as expectativas” poderia permitir o início de um processo parcimonioso de inflexão na próxima reunião, outro grupo se mostrou mais cauteloso e defendeu que seria necessário “observar maior reancoragem das expectativas longas e acumular mais evidências de desinflação nos componentes mais sensíveis ao ciclo”.
Se a história servir como base, as divergências, de acordo com a economista-chefe do Inter, podem acabar se estendendo por um período maior de tempo. “Houve uma ocasião, entre o fim de 2015 e começo de 2016 que, por três reuniões seguidas, um grupo dentro do Copom queria manter a Selic e outro queria continuar subindo. Essa divergência pode permanecer pelas próximas reuniões e perdurar algum tempo”, afirma.
O cenário de incertezas acerca da próxima reunião acaba também se traduzindo na precificação de mercado. Os agentes seguem bastante divididos acerca do desfecho da próxima decisão do Copom, na semana que vem. No fechamento de ontem, no mercado de opções digitais de Copom, a probabilidade de um corte de 0,5 ponto percentual passou a ser de 47%, contra 46% de uma redução de 0,25 ponto. Ainda há, no cenário dos agentes financeiros, 3% de chance de a Selic permanecer inalterada em 13,75% e outros 3% de possibilidade de uma redução de 0,75 ponto.
Vitória aponta que a ocorrência da divergência nos votos ocorre com maior frequência quando se leva em conta a magnitude dos cortes ou da elevação na taxa Selic. “Votos que diferem entre manter ou reduzir a taxa acontecem no início ou no fim do ciclo de afrouxamento monetário, sendo a última ocorrência no ciclo em 2011, que, aliás, iniciou com um corte de 0,5 ponto, de 12,50% para 12%”, afirma.
Ela lembra ainda que, no grande ciclo de afrouxamento monetário promovido pelo Banco Central em 2016 – que trouxe a Selic de 14,25% para 6,5%, sob a liderança de Ilan Goldfajn -, todas as decisões reportadas foram unânimes. O primeiro corte de juros ocorreu na reunião de outubro de 2016 e também foi de 0,25 ponto.
Na opinião do Inter, ainda que a evolução do cenário desde a última reunião do BC abra espaço para um corte inicial na Selic de 0,50 ponto, a comunicação recente do colegiado indica que o início do ciclo será feito com parcimônia. “Achamos que os dois novos membros não garantiriam uma maioria para cortar 0,5 ponto neste momento, mas uma surpresa maior no IPCA-15 e nos dados de emprego desta semana poderia fazer com que o colegiado convergisse para um corte maior.”
Fonte: Valor Econômico

