Ainda que as debêntures incentivadas passem a ser tributadas no próximo ano, a curva de juros reais deve continuar a exibir alguma distorção. A ação do Tesouro Nacional, com um leilão extraordinário previsto para amanhã, até pode amenizar os efeitos, mas não a ponto de “desinverter” a curva de juros reais.
Em conversa reservada com o Valor, dois gestores de uma importante casa de fundos multimercado e de renda fixa corroboram a visão de que as incentivadas têm provocado uma distorção relevante na curva de NTN-Bs, especialmente em um momento em que o Banco Central têm mantido os juros reais da economia muito elevados.
Enquanto NTN-Bs com vencimento em 2028, 2029 ou 2030 pagam taxas entre 7,8% e 8,1%, papéis muito mais longos, como os com vencimento em 2045 e 2050, pagam um juro real de 7,2%. “Essa ponta longa da curva é mais ‘largada’, de fato, porque é muito procurada por fundos de pensão, que já estão ‘abarrotados’ com as Bs”, dizem.
Já os pontos intermediários da curva acabam sofrendo com as distorções provocadas por uma demanda por hedge para os papéis incentivados. E, com uma taxação de apenas 5% — se aprovada —, a “corcova” nos vértices intermediários da curva de NTN-B deve seguir firme. Talvez, com apenas um pouco menos de prêmio.
O leilão “off the run” marcado pelo Tesouro para amanhã mostra, possivelmente, uma tentativa de suavizar as distorções da curva “e, por consequência, atenuar o impacto da forte emissão de debêntures esperada até o fim do ano”, diz o trader de renda fixa da tesouraria de um importante banco local.
“Acredito que a semana será toda sobre o leilão off-the-run. O que isso significa? Que, dado o caráter extraordinário do evento, o Tesouro pode ficar de fora dos leilões tradicionais de NTN-Bs de hoje e de prefixados na quinta-feira”, avalia o profissional.
Fonte: Valor Econômico