Após o Federal Reserve (Fed) anunciar mais uma redução de juros na semana passada e com o fim do período de silêncio para os diretores, ontem o dia foi marcado por discursos de dirigentes do banco central americano, que tornaram evidente a divergência de opiniões dentro do comitê de política monetária. Com boa parte dos dados macroeconômicos suspensos, devido ao “shutdown” do governo americano, o único consenso parece ser de que a reunião de dezembro ainda está em aberto.
Stephen Miran, diretor recém-indicado por Donald Trump, defendeu cortes de juros em entrevista à Bloomberg TV, voltando a dizer que a política monetária está “excessivamente restritiva”. Na reunião de outubro, ele votou a favor de uma redução de 0,50 ponto percentual, mais expressiva do que o consenso de 0,25 ponto percentual dos membros do comitê. “Considerando minha perspectiva mais otimista sobre a inflação em comparação com alguns dos outros membros do comitê, não vejo motivo para manter a política tão restritiva”, afirmou.
Por outro lado, Austan Goolsbee, presidente do Fed de Chicago, disse que quer ver mais dados sobre a economia americana antes de tomar sua decisão sobre como votar na reunião de dezembro. Ele disse que está mais preocupado com a inflação do que com o mercado de trabalho nos Estados Unidos no momento. O dirigente também afirmou que sua tolerância para apoiar novos cortes está um pouco menor do que nos últimos dois encontros.
A diretora Lisa Cook disse que a política monetária americana não está em um caminho predeterminado e que toda reunião, inclusive a próxima, em dezembro, está em aberto. Ela apoiou a última decisão do banco central por acreditar que, no momento, os riscos negativos para o mercado de trabalho são maiores que os de alta para a inflação.
Cook avalia que o repasse das tarifas comerciais para os preços ao consumidor ainda não está completo e que a inflação deve permanecer elevada ao longo do ano que vem. Por conta disso, ela acredita que o nível atual dos juros, que ela vê como moderadamente restritivo, é adequado. “O comprometimento firme do Fed com seu mandato de controle da inflação é essencial para garantir que ela permaneça sob controle”, afirmou a dirigente, que é alvo de críticas de Trump.
Mary Daly, do Fed de São Francisco, afirmou estar com uma “mente aberta” para a próxima decisão. Ela não faz parte dos membros do banco central que votam nas decisões de juros deste ano, mas disse concordar com o corte da semana passada.
Essas declarações reforçam as falas de Jerome Powell, presidente do Fed, de que está crescendo o apoio por uma pausa no processo de afrouxamento monetário entre os membros do comitê e de que um corte de juros na reunião de dezembro não está garantido. Seu discurso após a decisão da semana passada, na qual o banco central americano realizou a segunda redução de juros deste ano, jogou um balde de água fria nas expectativas do mercado, que dava como certa mais uma diminuição das taxas ainda neste ano.
Fonte: Valor Econômico

