O mercado de ações deve melhorar em 2024, mas este ano será ainda de mais ofertas subsequentes de ações (“follow-on”, em inglês) do que de estreias na bolsa, segundo o diretor-presidente da B3, Gilson Finkelsztain.
De acordo com o executivo, mais de 100 empresas começaram a se preparar para uma abertura de capital nos últimos anos, mas nos próximos meses devem ser feito só “alguns IPOs”. As ofertas devem ser de companhias que atuam em setores mais tradicionais e maduros e que já atingiram o “break even” (ponto de equilíbrio), são lucrativas ou muito próximas de ter lucro.
Só após essa primeira leva é que as companhias médias devem estrear na bolsa, disse em entrevista a jornalistas. Em relação aos “follow-ons”, a expectativa é que sejam operações de empresas que estrearam na bolsa há mais de cinco anos.
Para que o país tenha um volume maior de ofertas iniciais, é necessário um mercado com fluxo “mais robusto”, que a taxa básica de juros chegue a um dígito e que a inflação esteja mais controlada, afirmou o executivo. “Estou mais cauteloso com IPOs”, disse.
O jejum de estreias na bolsa já dura dois anos. Em 2023, foram registradas apenas ofertas subsequentes. O volume total ficou em R$ 31 bilhões, conforme dados da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima) divulgados nesta quinta. O número é 46% menor que o registrado em 2022.
Para Guilherme Maranhão, presidente do fórum de estruturação de mercado de capitais da Anbima, é difícil cravar se os IPOs voltarão em 2024, “mas tudo indica que teremos”. “Acreditamos que serão de três a cinco”, afirmou a jornalistas após apresentação dos dados de 2023.
Se a visão sobre IPOs é de mais cautela, para o mercado de crédito corporativo as expectativas são mais otimistas. Hoje o cenário é completamente diferente do visto na última década, segundo o presidente da B3, e as empresas, que antes dependiam de financiamento público, hoje conseguem emitir debêntures em maior volume e prazo.
“Mudamos de patamar e o mercado de dívida está muito mais líquido e fluido”, afirmou.
Em 2023, as emissões de debêntures somaram R$ 236,6 bilhões, segundo a Anbima, o que representa uma queda de 12,6% ante o ano anterior. Apesar do recuo, houve uma consolidação nesse mercado, segundo Maranhão. Para o executivo, “perspectivas favoráveis para a economia criam um ambiente para novas emissões em 2024”.
Foram, no total, 373 emissões no ano passado, sendo que 74 delas superaram R$ 1 bilhão. O prazo médio das ofertas foi de 8,6 anos e 24,5% das séries foram indexadas por IPCA. Entre os setores, o de infraestrutura liderou as captações, com R$ 121,4 bilhões.
Considerando outros ativos de renda fixa, as ofertas levantaram R$ 394 bilhões, volume 13,4% menor do que em 2022. No total, o mercado de capitais movimentou R$ 463,7 bilhões com ofertas no ano passado, 14% menos que em relação a 2022.
Finkelsztain, presidente da B3, acredita que, de forma geral, o mercado de capitais brasileiro está numa boa posição se comparado ao de outros países emergentes, como a Rússia e a China.
E a queda da taxa de juros deve ajudar a impulsionar o mercado local. Ele afirmou ainda que mesmo as incertezas quanto ao cumprimento da meta fiscal pelo governo não devem afetar muito o cenário. Para o executivo, mesmo que a meta não seja cumprida, como prevê o mercado, um eventual déficit, se pequeno, não são será capaz de causar grandes instabilidades no país.
Novo Mercado
A B3 planeja para o primeiro semestre deste ano a abertura de uma audiência pública para a revisão do Novo Mercado, segundo Finkelsztain. A última reforma desse tipo foi feita em 2017 e as novas regras passaram a valer em 2018.
Questionado sobre os motivos para uma revisão, o executivo disse que a reforma das regras já é algo esperado de tempos em tempos, mas que houve demanda por parte das empresas e que eventos como o da Americanas também contribuíram para a decisão.
Fonte: Valor Econômico

