Por Joshua Franklin — Financial Times, de Nova York
05/04/2022 05h03 Atualizado há 5 horas
Jamie Dimon alertou para o risco de “mercados muito voláteis” em meio ao aperto da política monetária do banco central dos Estados Unidos, em sua carta anual aos acionistas do J.P. Morgan, na qual também escreveu que o grupo bancário de Wall Street está preparado para taxas de juros mais altas.
O executivo-chefe do J.P. Morgan disse não invejar o Federal Reserve (Fed, banco central dos EUA) pelas medidas que precisará tomar para acabar com suas políticas ultraexpansionistas, mas conclamou a instituição a não “se preocupar com mercados voláteis, a menos que eles afetem a economia real”.
“Se o Fed acertar direitinho, podemos ter anos de crescimento, e a inflação, eventualmente, começará a retroceder. De qualquer maneira, esse processo causará grandes doses de consternação e mercados muito voláteis”, escreveu Dimon. A carta do J.P. Morgan aos investidores costuma ser uma das mensagens mais lidas em Wall Street, e Dimon, 66 anos, a usa para opinar sobre assuntos que vão bem além dos negócios do banco.
Em março, o Fed elevou sua taxa referencial de juros pela primeira vez desde 2018, marcando o início do que autoridades do banco central sinalizaram que será uma série de elevações neste ano, para combater a maior inflação americana em 40 anos.
Bancos como o J.P. Morgan podem se beneficiar de juros mais altos, que lhes permitiriam ganhar mais com os empréstimos que concedem. “Nosso banco está preparado para taxas drasticamente mais altas e mercados mais voláteis”, disse Dimon na carta, de 44 páginas.
Ele acrescentou que a guerra na Ucrânia e as consequentes sanções contra a Rússia “no mínimo desacelerarão a economia global – e isso facilmente poderia piorar”. Dimon disse “não estar preocupado” com a “exposição direta [do banco] à Rússia”, embora o J.P. Morgan “ainda possa perder cerca de US$ 1 bilhão ao longo do tempo”, a primeira indicação sobre suas possíveis perdas com o conflito. Em 2021, o banco registrou lucro líquido recorde, de US$ 48,3 bilhões.
Dimon também conclamou o governo dos EUA a criar um novo Plano Marshall para ajudar a amenizar a dependência energética da Europa em relação à Rússia, uma referência à política dos EUA adotada após a Segunda Guerra Mundial para prestar auxílio financeiro ao continente.
Uma parte crucial do plano, acrescentou Dimon, seria promover a segurança energética, aumentar o investimento em tecnologias limpas, aplicar políticas governamentais para incentivar tecnologias de baixa emissão de carbono e estabelecer metas para reduzir de imediato as emissões.
Dimon também comentou o aumento de 30% anunciado para as despesas de investimento do J.P. Morgan em 2022, para US$ 15 bilhões, explicando por que o banco gastará bilhões de dólares em tecnologia e se expandirá para a área de banco de varejo no Reino Unido, após críticas à iniciativa. “Acreditamos que o mundo digital nos dá a oportunidade de construir um banco de varejo fora dos Estados Unidos que, com o tempo, pode se tornar muito competitivo – uma opção que não existe no mundo físico”, escreveu Dimon.
Em encontro em fevereiro, acionistas do J.P. Morgan disseram a Dimon e à equipe de comando que o banco não estava dando detalhes suficientes sobre seus planos de investimento, segundo noticiado pelo “Financial Times”. Dimon disse esperar que “alguns exemplos” tranquilizassem os acionistas a respeito do “processo de tomada de decisões” da instituição financeira.
Fonte: FT / Valor Econômico

