O Ministério da Fazenda avalia que o impacto na sustentabilidade da dívida pública é limitado, de 0,25 ponto percentual neste ano, caso o Tribunal de Contas da União (TCU) autorize o parcelamento da devolução de R$ 23 bilhões do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) ao Tesouro Nacional até 2030, conforme acordado pela pasta e a instituição financeira. Caso o Tribunal autorize a diluição do pagamento, a estimativa é que o indicador dívida/PIB encerre o ano em torno de 75,65%.
Membros da equipe econômica avaliam nos bastidores que, apesar de impactar na trajetória da dívida deste ano, essa postergação será compensada no futuro à medida em que for ocorrendo a devolução pelos próximos seis anos.
Pelo cronograma atual, o repasse deveria ser feito de uma vez até novembro deste ano, mas a nova gestão do banco público pleiteou o alongamento do prazo sob o argumento de aliviar o caixa da instituição financeira em um cenário no qual enxerga aumento da demanda por crédito e de desembolsos do BNDES.
“É só um deslocamento do fluxo de caixa”, explicou uma fonte da pasta. Membros da Fazenda também lembram, por outro lado, que o TCU tem se mostrado contrário a essa postergação. A Corte, inclusive, determinou uma aceleração dos repasses após um pedido da gestão Paulo Guedes no Ministério da Economia.
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No TCU, há divergências entre membros da Corte sobre autorizar ou não uma nova postergação, segundo apurou o Valor. De um lado, existe o argumento de que, como há concordância entre o BNDES e o Tesouro, não há motivos para uma interferência do órgão de controle externo. Já em outra visão, a avaliação é de que se tratam de operações julgadas irregulares e, portanto, não deveria haver a permissão para um novo prolongamento.
Ontem, em evento no Rio de Janeiro, o presidente do BNDES, Aloizio Mercadante, afirmou que a homologação do acordo está bem encaminhada no Tribunal. “O TCU já fez isso antes e tem tido um posicionamento colaborativo extraordinário com o banco. Estamos construindo uma série de procedimentos e queremos trabalhar juntos”, disse o presidente do banco, ao também mencionar que a diluição dos pagamentos não resolve, isoladamente, o problema de funding do BNDES, defendendo outras medidas.
Esses recursos foram repassados aos bancos públicos no passado durante governos petistas, com o objetivo de fortalecer o papel das instituições financeiras. Anos depois desses repasses, o TCU os considerou irregulares e determinou a devolução dos valores.
Quanto mais tempo dura, maior o acumulado desse subsídio ao longo do tempo e o impacto sobre a dívida pública”
No caso dos repasses desses recursos, apesar de os valores não serem computados para fins do resultado primário do governo, eles abatem dívida pública, reduzindo, consequentemente, a relação dívida/PIB.
Na avaliação do economista Felipe Salto, economista-chefe da Warren Rena, mesmo com o impacto sendo pequeno em relação à dívida da União, “o ideal seria devolver o que falta no prazo previsto”. “Apesar de não afetar o primário, afeta os juros nominais líquidos e o déficit nominal, pois há um subsídio implícito nessas operações. Quanto mais tempo dura, maior o acumulado desse subsídio ao longo do tempo e o impacto sobre a dívida pública”, considerou.
“Sou favorável à atuação do BNDES, sobretudo em um país tão desigual como o nosso, que precisa turbinar – e muito – os investimentos. Mas a dívida é hoje bastante elevada. Tem de sopesar tudo isso”, complementou Salto.
Em nota divulgada, o BNDES informou ainda que já realizou o pagamento regular de R$ 148,97 bilhões e a liquidação antecipada de R$ 544,30 bilhões, tendo já devolvido ao Tesouro um total de R$ 693,17 bilhões nos últimos anos.
Fonte: Valor Econômico

