O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central afirma, em ata divulgada nesta manhã, que há “um concomitante aumento da incerteza e deterioração do cenário de crescimento global em relação ao Copom anterior”.
O documento informa que o cenário externo se mantém desafiador, com incertezas econômicas e geopolíticas relevantes.
O cenário-base do comitê, informa, segue sendo de desaceleração gradual e ordenada da economia americana. Mas o colegiado pondera que, “além das incertezas inerentes à conjuntura econômica, há dúvidas sobre a condução da política econômica em diversas dimensões”.
Essas incertezas incluem possíveis estímulos fiscais, restrições na oferta de trabalho, abrangência e intensidade da elevação das tarifas à importação e alterações importantes em preços relativos decorrentes de reorientações da matriz energética.
Esse quadro, aponta a ata, “pode impactar negativamente as condições financeiras e os fluxos de capital para economias emergentes”.
“A incerteza em torno de tais políticas já restringe novos investimentos e tem impacto sobre atividade”,diz o documento. “De forma análoga, a incerteza sobre a implementação das tarifas também tem impacto sobre expectativas, determinação de preços e inflação.”
O colegiado diz que “parte dessa deterioração do cenário, que também já foi discutida em reuniões anteriores, já começa a se materializar”.
O Copom também diz que, adicionalmente, nota renovadas pressões na Europa pela expansão do gasto público, financiada pela emissão de dívida.
“Tais movimentos tendem a apertar as condições financeiras globais, elevando taxas e potencialmente pressionando o câmbio nas economias emergentes”, afirma.
“O Comitê reforçou que o compromisso dos bancos centrais com o atingimento das metas é um ingrediente fundamental no processo desinflacionário, corroborado pelas recentes indicações de ciclos cautelosos de distensão monetária em vários países”, segue.
A ata conclui que, como usual, o Comitê focará nos mecanismos de transmissão da conjuntura externa sobre a dinâmica inflacionária interna e seu impacto sobre o cenário prospectivo. “Reforçou-se, ademais, que um cenário de maior incerteza global e de movimentos cambiais mais abruptos exige maior cautela na condução da política monetária doméstica”, afirma.
Na semana passada o Copom subiu os juros de 13,25% ao ano para 14,25% ao ano.
Balanço de riscos
O Copom manteve, na ata, a assimetria altista do balanço de riscos para a inflação. Repetindo o comunicado, a ata cita como fatores altistas uma desancoragem das expectativas de inflação por período mais prolongado, uma maior resiliência na inflação de serviços do que a projetada em função de um hiato do produto mais positivo e uma conjunção de políticas econômicas externa e interna que tenham impacto inflacionário maior que o esperado, por exemplo, por meio de uma taxa de câmbio persistentemente mais depreciada.
Já nos riscos baixistas, voltou a mencionar os impactos sobre o cenário de inflação de uma eventual desaceleração da atividade econômica doméstica mais acentuada do que a projetada e um cenário menos inflacionário para economias emergentes decorrente de choques sobre o comércio internacional e sobre as condições financeiras globais.
Crédito bancário
Voltando ao Brasil, a ata do Copom ressaltou que o crédito bancário “tem mostrado alguma inflexão” recentemente após uma dinâmica “pujante” nos últimos trimestres.
“O crédito bancário tem apresentado alguma inflexão no período mais recente, com elevação de taxa de juros, menor apetite ao risco na oferta de crédito e redução no ritmo das concessões de crédito”, informa a ata.
Segundo a ata, essa inflexão do crédito é “condizente com o cenário atual de aperto de condições financeiras e elevação de prêmio de risco”. O colegiado destacou que, dessa forma, “antecipa-se então um cenário marcado por um lado pelo elevado comprometimento de renda das famílias com o serviço da dívida, mas, por outro lado, pela continuidade do dinamismo no mercado de títulos privados”, destacou no documento.
Fonte: Valor Econômico

