Por Larissa Garcia e Sérgio Tauhata, Valor — Brasília e São Paulo
23/11/2023 19h13 Atualizado há 11 horas
A desinflação no Brasil está “relativamente benigna”, mas o processo é lento, afirmou o presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto. “A gente ainda precisa terminar o trabalho”, ponderou durante participação em evento da Endeavor nesta quinta-feira, em São Paulo. “Os dois últimos números de inflação tiveram qualidade melhor, nos núcleos.”
O dirigente voltou a mencionar a possibilidade de o crescimento potencial do PIB brasileiro ser mais elevado do que o estimado pelos economistas. “A gente teve crescimento revisado algumas vezes para cima. Nós, economistas, estamos errando crescimento há três anos e meio seguidos. Isso leva a ter a humildade de pensar que talvez o crescimento estrutural do Brasil tenha crescido.”
Campos também afirmou que o mundo passa por um processo de desinflação. “A inflação está caindo no mundo inteiro”, disse. Conforme o presidente do BC, apesar desse processo, “o fiscal ainda anda bastante devagar [em vários países]”.
De acordo com o dirigente, muitas nações têm tido dificuldade de sair dos programas fiscais que foram criados durante a pandemia. “Fiscal é sempre mais fácil de fazer do que de tirar. Temos desinflação em um movimento bem sincronizado, com inflação caindo em vários lugares, caindo também no Brasil.”
Sobre a situação fiscal brasileira, Campos repetiu que o mercado não acredita na meta estabelecida pelo governo, mas que é importante persistir. “É importante que o governo acredite no arcabouço que ele mesmo construiu. É relevante persistir”, disse. O titular do BC pontuou que a meta depende de medidas de arrecadação, mas que há “pouquíssimo espaço para aumentar mais a carga fiscal”.
Além da preocupação com a credibilidade fiscal, o Brasil precisa se preparar para um ambiente no qual a elevada liquidez global vai começar a secar nos próximos trimestre. “Temos de fazer o dever de casa melhor”, disse, em referência a reformas e a um processo de consolidação fiscal.
O dirigente explicou que o mundo entrou em uma era de maior exigência de gastos para os setores públicos e privado. “Temos necessidades de recursos para [combater efeitos da mudança do] clima, transição climática, políticas industriais [com reorganização de cadeias de produção], defesa e ações sociais.” Campos Neto lembrou que, além do aumento muito grande da dívida de países desenvolvidos, o custo mais que triplicou. “Antes da pandemia [a dívida pública de economias avançadas] custava 1% e hoje custa de 3% a 4,5%.”
Conforme o presidente do BC, “isso tem um efeito de [enxugamento de] liquidez muito grande”. Os EUA, citou Campos, “pagou em outubro do ano passado US$ 22 bilhões de juros da dívida e em outubro deste ano vai pagar US$ 77 bilhões”. Além disso, “não há um horizonte de alívio fiscal nas economias desenvolvidas”. De acordo com o dirigente, “a dívida americana, a partir de 2010, começou a subir enormemente”. Em sua avaliação, “isso significa que vai gastar a liquidez do mundo”.
Em um horizonte mais longo, o presidente do BC afirmou ver o Brasil com chances de ser “a grande estrela” do processo de “rearrumação dos blocos mundiais” em um momento em que está “entrando um caminhão de dinheiro no México”.
“Essa rearrumação dos blocos mundiais deveria favorecer muito o Brasil. Você pensar que está entrando um caminhão de dinheiro no México, tudo bem que fica do lado dos Estados Unidos, mas qual é o país hoje nesse bloco que tem capacidade de produzir energia, coisas em larga escala, com grande população, mercado de trabalho, de consumo, com energia renovável? Não tem”, disse. “Acho que o Brasil tem grandes chances de ser a grande estrela.”
Campos frisou ainda que o país foi um dos únicos a fazer reformas durante a pandemia de covid-19. “O Brasil foi um dos poucos países que segue uma agenda de reformas, independentemente do governo e até na pandemia. Qual foi o país que fez reforma na pandemia? Peguei um banco de dados de 40 e não achei nenhum”, afirmou. “As pessoas começam a entender que o Brasil é um lugar que deveria ter mais investimentos.”
Fonte: Valor Econômico

