07/06/2022 05h03 Atualizado há 4 horas
A recuperação do mercado de trabalho neste início de ano foi uma surpresa e estimulou previsões otimistas. O dado mais recente do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostrou a queda na taxa de desemprego para 10,5% no trimestre terminado em abril, em comparação com os 11,1% do trimestre completado em março. É a menor taxa desde fevereiro de 2016. O presidente Jair Bolsonaro disse em transmissão ao vivo nas redes sociais esperar que o desemprego volte a um dígito ainda neste ano. O ministro da Economia, Paulo Guedes, afirmou que o desemprego está menor do que antes da pandemia. De fato, em fevereiro de 2020, a taxa era de 11,6%.
Bolsonaro não está sozinho em sua aposta. Alguns economistas de consultorias e bancos preveem que o desemprego vai cair mais até o fim do ano. Há quem diga que a taxa já está em um dígito se for dessazonalizada e, nesse ritmo, pode alimentar a inflação (Valor, ontem). Mas não há uma unanimidade em relação ao futuro. Tudo vai depender do comportamento da economia que – é quase consenso – deve desacelerar no segundo semestre com o efeito defasado do aperto monetário, a elevação dos juros no exterior e a esperada turbulência nas proximidades das eleições.
O desempenho do mercado de trabalho vem chamando a atenção desde janeiro. Ao contrário do que ocorre habitualmente nos primeiros meses do ano, quando as demissões aumentam após o período sazonal de contratações nas proximidades do Natal, o mercado de trabalho continuou firme desta vez. O desempenho espelha o resultado do Produto Interno Bruto (PIB) que, conforme divulgado na semana passada, cresceu 1% no primeiro trimestre, puxado principalmente pelo setor de serviços, que ganhou gás com a reabertura da economia, possibilitada pela redução dos casos graves de covid-19 com o aumento da vacinação da população.
O setor de serviços garante quase 70% das vagas. Durante a pandemia, a demanda se concentrou nos profissionais de tecnologia da informação. A retomada das atividades presenciais abriu espaço para as contratações nas áreas de educação e serviços que pressupõem maior contato entre as pessoas, como as áreas de cuidados pessoais e alimentação. Cerca de 1,1 milhão de pessoas ingressaram no mercado de trabalho no trimestre terminado em abril, levando a população ocupada a subir 1,1% e atingir o patamar de 96,5 milhões, o maior contingente da série histórica, iniciada em 2012.
A redução do desemprego é outro fator de otimismo. Depois de a desocupação ter atingido a máxima de 14,9% em março do ano passado, a taxa foi recuando, mas em um ambiente de força de trabalho estável, com uma taxa de participação ao redor de 62% desde o terceiro trimestre. Muitos nem procuravam emprego pois acreditavam que não iam encontrar nada, o que ampliou a taxa de desalento. Mas isso mudou em abril quando a taxa de participação subiu para 62,7%, mais perto do patamar anterior à pandemia, de 63%.
No entanto, os fatores negativos ainda prevalecem. O principal deles é a existência de 11,3 milhões de desempregados, muitos deles há mais de dois anos. Os desalentados somam 4,5 milhões de pessoas, em comparação com os 6 milhões de um ano antes; e a mão de obra subutilizada soma 26,1 milhões.
É preciso avaliar também a qualidade do emprego que está sendo criado. A taxa de informalidade está muito elevada e chegou a 40,1% da população ocupada, ou 38,7 milhões de pessoas, maior do que os 39,3% do mesmo trimestre de 2021. Dados do Novo Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), divulgados ontem pelo Ministério do Trabalho e Previdência, mostraram a criação de 770,6 mil vagas com carteira assinada neste ano até abril, menos do que as 894,7 mil do mesmo período de 2021.
Como reflexo disso e da inflação elevada, a remuneração média não sobe, ao contrário, no trimestre encerrado em abril teve queda de 7,9%. Houve a queda da renda média até do trabalhador do setor público, o que é raro, de 2,2%. Outro fator determinante é o perfil de baixa remuneração dos novos postos criados no setor de serviços. A massa de rendimento real habitual ficou estável em R$ 242,9 bilhões na comparação anual em consequência do aumento da população ocupada.
Esses pontos sensíveis mais as incertezas em relação ao desempenho da economia no segundo semestre reforçam a cautela e põem em risco a aposta de Bolsonaro de chegar às eleições com dias melhores no mercado de trabalho.
Fonte: Valor Econômico

