Por Melissa Eddy*
06/04/2022 | 05h00
No ano passado, a Rússia forneceu mais da metade do gás natural e um terço de todo o petróleo que a Alemanha consumiu para manter casas aquecidas, alimentar fábricas e abastecer carros, ônibus e caminhões. Cerca de metade das importações de carvão da Alemanha, essenciais para a indústria siderúrgica, também veio da Rússia. O gás, o petróleo e o carvão russos estão inseridos na economia alemã e são parte do estilo de vida do país.
O primeiro gasoduto conectando o território que conformava a Alemanha Ocidental com a Sibéria foi construído nos anos 80. O legado da Guerra Fria ainda pode ser visto na estrutura de fornecimento de energia do leste da Alemanha, que permanece ligada à Rússia, o que dificulta obter petróleo de outros exportadores.
Atualmente, esse envolvimento assombra os líderes europeus, que debatem se a exportação de energia da Rússia deveria ou não ser incluída em mais sanções contra o país. Autoridades da Alemanha, a maior economia da Europa, enfrentam um dilema entre o limite da agressão russa e a necessidade das commodities fornecidas por eles.
Mas, em meio às evidências de atrocidades, o ministro das Finanças alemão, Christian Lindner, indicou que o país estaria disposto a apoiar sanções ao carvão russo – uma mudança em relação à posição das últimas semanas –, mas insistindo que as sanções ao setor de energia prejudicariam mais a Alemanha do que a Rússia.
Diretores de empresas e sindicatos alemães alertaram que, sem um fornecimento constante de gás, petróleo e carvão, a produção será paralisada e pode haver desemprego.
Um grupo de economistas da Academia Alemã Leopoldina dos Cientistas Naturais afirmou, em relatório, que um corte no fornecimento de gás russo seria “administrável” no curto prazo se o país for capaz de alternar sua dependência para outras fontes de energia.
O ministro alemão de Energia, Robert Habeck, viajará para Catar e EUA para garantir parcerias no setor de energia. A Alemanha já conseguiu reduzir em 15% sua dependência do gás russo, baixando-a para 40% nos primeiros meses do ano. /TRADUÇÃO DE GUILHERME RUSSO
- É correspondente em Berlim
Fonte: O Estado de S. Paulo

