Por Financial Times
23/05/2023 05h02 Atualizado há 4 horas
Grandes reuniões de cúpula das nações mais ricas e mais poderosas do mundo são, muitas vezes, criticadas devido à falta de resultados que extrapolem promessas de cooperação vagas e simbólicas oportunidades de tirar fotos. Mas, em uma época de profundas divisões geopolíticas – com as duas maiores economias do mundo em choque e com a persistência da agressão da Rússia na Ucrânia -, essas reuniões assumem maior relevância como fatores passíveis de contribuir para evitar a desunião.
A reunião do G-7 no Japão, no fim de semana, obteve conquistas notáveis. A cúpula culminou em um enfoque amplo, mas mais unificado, da parte dos países-membros sobre a guerra na Ucrânia e a crescente assertividade da China. A convergência não deve ser considerada ponto pacífico. Mas, em última instância, o sucesso da cúpula de Hiroshima será determinado pela capacidade de converter comunicados oficiais em ação global – e há muito trabalho a ser feito.
A cúpula fez um bem-vindo esforço pela ampliação do apoio internacional à Ucrânia. O G-7 reafirmou o compromisso de enfrentar a agressão de Vladimir Putin, e o convite ao presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, também foi importante. Proporcionou a Zelensky uma plataforma global para pressionar em favor de sua agenda para a paz na Ucrânia junto aos líderes também convidados das potências emergentes – que são muito mais céticos. A decisão dos EUA de apoiar aliados com o fornecimento de caças F-16 e com o auxílio ao treinamento de pilotos ucranianos, juntamente com a concessão de um novo pacote de ajuda militar de US$ 375 milhões de Washington, representou também um empurrão para Kiev.
Sobre a China, o grupo criticou o uso, por Pequim, de “coerção econômica” e o conclamou a lançar mão de sua influência para pressionar a Rússia a retirar soldados da Ucrânia e defendeu uma “solução pacífica” para as tensões com Taiwan. O aspecto mais significativo foi a “eliminação dos riscos” nas relações econômicas com a China, em vez do “descolamento” – conforme apelos da presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen. Em vista da divergência dos interesses econômicos, o Ocidente tem se revelado confuso diante da melhor maneira de abordar o amplo domínio estatal da China sobre cadeias de suprimentos decisivas, e de desescalar as tensões com Pequim.
Obter o apoio do chamado “Sul Global”, no entanto, continuará a ser um grande desafio para o G-7. Os laços econômicos entre esses países e a Rússia e a China constituem uma barreira. De fato, a Índia tem-se empanturrado de petróleo russo barato, e o comércio bilateral entre Brasil e China disparou. Pelo fato de a China também estrar construindo portos e distribuindo bilhões em ajuda e em investimentos por toda a América Latina, África e Sudeste Asiático, um diálogo mais sólido ficará circunscrito a certos limites.
O sucesso da estratégia do G-7 de “eliminar o risco” dos laços com a China dependerá também da existência de entendimento sobre o que isso significa, exatamente. Também não será tarefa simples desescalar as tensões com a China. De fato, no domingo, Pequim vetou o acesso à sua infraestrutura aos produtos da fabricante americana de chips Micron Technology.
Com a cúpula do G-20 agendada para se realizar em Nova Déli neste ano, o desafio agora é mostrar ao “Sul Global” que ele não é simplesmente algo secundário. Um enfoque unificado sobre a Rússia e a China entre sete das principais potências econômicas mundiais representa um passo na direção certa. Mas para consolidar um bloco compacto global, o G-7 terá de fazer com que suas palavras sejam acompanhadas por dinheiro e maiores detalhes.
Fonte: Valor Econômico

