Por Stella Yifan Xie, Dow Jones — Hong Kong
31/10/2022 00h45 Atualizado há 13 horas
A atividade industrial da China voltou a se contrair em outubro, no mais recente indício do impacto das rígidas políticas anticovid adotadas pelo país e do enfraquecimento da demanda global por produtos de fabricação chinesa.
O índice oficial de atividade (PMI) do setor industrial caiu para 49,2 pontos, de 50,1 em setembro, informou ontem o Departamento Nacional de Estatística do país. O resultado foi mais fraco que o esperado pelos analistas e chama a atenção para o grau de vulnerabilidade da economia da China a suas políticas de controle da pandemia. Números abaixo de 50 indicam contração do nível de atividade.
O PMI oficial do setor de serviços, que inclui construção civil, também se contraiu, para 48,7 pontos, de 50,6 de setembro. O indicador só de serviços de outubro caiu de 48,9 pontos para 47. Esse foi seu nível mais baixo desde abril, quando Xangai, capital comercial e polo manufatureiro da China, foi colocada em um lockdown que durou um mês.
Após sair do lockdown em junho, Xangai e todas as 30 regiões de nível provincial da China tiveram surtos esporádicos, de baixa intensidade de covid. Mas isso não abalou a determinação do líder chinês, Xi Jinping, de permanecer fiel à sua estratégia de covid zero, que envolve a realização de testes em massa, quarentenas e lockdowns abrangentes para esmagar surtos assim que aparecem.
Os números dos PMIs esfriaram as expectativas de uma recuperação sustentada após o crescimento maior que o previsto de 3,9% do Produto Interno Bruto (PIB) registrado no terceiro trimestre. Também levantam dúvidas sobre qual será o motor da economia chinesa, a segunda maior do mundo, principalmente diante do crescente risco de recessão nos EUA e em outros parceiros comerciais consumidores de produtos chineses.
O crescimento da China desacelerou significativamente no último ano, pressionado pelo colapso do mercado imobiliário e pela fragilidade dos gastos de consumo.
As vendas de novas residências pelas 100 maiores incorporadoras da China caíram 28% ao ano em outubro, marcando o 16 período mensal de declínio, segundo a China Real Estate Information Corp.
Os investimentos públicos em infraestrutura e outros projetos impulsionaram a economia no curto prazo, mas são vistos por muitos economistas como não sustentáveis ao crescimento.
“Os alicerces da nossa recuperação econômica têm de passar por nova estabilização”, disse Zhao Qinghe, estatístico-sênior do Departamento Nacional de Estatística, em nota divulgada ontem.
As preocupações dos investidores com as perspectivas econômicas da China se agravaram desde o Congresso do Partido Comunista chinês em outubro, em que Xi reforçou seu poder, levando à uma pressão de venda em massa de ações e outros ativos chineses. Ele não deu indícios se os rígidos controles sobre a pandemia passarão por algum grau de abrandamento no futuro próximo.
Os dados de ontem apontam para o crescente risco de desestabilização da atividade industrial e das cadeias de suprimentos, com a ocorrência de surtos de covid em polos fundamentais de produção industrial e de logística.
A China registrou mais de 2,6 mil novos casos de transmissão local de covid no domingo, mais que o dobro do número diário na comparação semanal. Os novos casos diários registrados no domingo na província de Guangdong, um dos maiores centros de produção industrial e de exportação, foram sete vezes maiores que o total contabilizado no mesmo dia da semana anterior, revelam os números.
Até 28 de outubro, cidades que respondem por 47% do PIB chinês enfrentavam alguma forma de restrição à mobilidade, segundo estimativas do Goldman Sachs.
Os controles do governo chinês à covid também afetaram a economia de Hong Kong. O PIB do território encolheu 4,5% ao ano no terceiro trimestre, após uma contração de 1,3% ao ano registrada no segundo trimestre.
Fonte: Valor Econômico

