Por Paul Hannon e Austen Hufford — Dow Jones Newswires
25/10/2022 05h02 Atualizado há 3 horas
Novos dados econômicos apontam para uma desaceleração nos EUA e no crescimento mundial, com a inflação em alta e os aumentos nas taxas de juros pesando sobre a demanda do consumidor. Ao mesmo tempo, a Europa entra em uma fase crítica de seu conflito econômico com a Rússia, enquanto a China enfrenta dificuldades.
A atividade das empresas nos EUA e Europa caiu em outubro, segundo pesquisas divulgadas ontem. Uma grande desaceleração do setor de serviços, principal motor da maior economia do mundo, liderou o declínio nos EUA.
Na Europa, fábricas alemãs fizeram os maiores cortes na produção desde o começo da pandemia, segundo a S&P Global. A Europa enfrenta as consequências da decisão da Rússia de reduzir o fornecimento de energia em resposta às sanções impostas por causa da guerra na Ucrânia.
A economia da China reagiu no terceiro trimestre, com aumento de 4,8% ao ano da produção industrial em meio à flexibilização das restrições para conter a covid-19, segundo dados oficiais divulgados ontem, após o término do Congresso do Partido Comunista chinês que confirmou um terceiro mandato para o presidente Xi Jinping. Com isso, o Produto Interno Bruto (PIB) cresceu 3,9% ao ano no terceiro trimestre, mais do que o esperado pelos analistas.
Mas a segunda maior economia do mundo enfrenta desaceleração das exportações, cuja taxa de crescimento foi de apenas 5,7% ao ano em setembro – a menor desde abril. Em outro dado preocupante, as vendas no varejo cresceram 2,5% ao ano em setembro, bem abaixo de 5,4% em agosto, ressaltando a fragilidade da demanda doméstica. Os preços de novas residências caíram pelos segundo mês seguido em setembro, refletindo a retração do mercado imobiliário.
“Há desafios significativos ao crescimento global”, diz Ryan Wang, economista do banco HSBC para os EUA.
A S&P Global disse que seu índice de atividade composto – que incluir serviços e manufatura – para os EUA caiu de 49,5 pontos em setembro para 47,3 em outubro. Foi a segunda maior queda desde 2009, excluindo o início da pandemia de covid-19 em 2020. Números abaixo de 50 pontos indicam contração da atividade, enquanto acima de 50 pontos, a sinalização é de crescimento.
As empresas americanas informaram que o dólar forte e as condições econômicas difíceis nos mercados exportadores pesaram sobre a demanda dos clientes estrangeiros, disse a S&P Global.
“A desaceleração econômica dos EUA se intensificou em outubro, enquanto a confiança na perspectiva também piorou significativamente”, diz Chris Williamson, economista-chefe da S&P Global.
Os índices de atividade dos EUA e da zona do euro mostraram que a pressão inflacionária continua forte. As empresas americanas reportaram uma aceleração no aumento dos custos dos insumos em outubro, citando os juros mais altos, problemas de fornecimento e pressões salariais.
A combinação de inflação alta e enfraquecimento do crescimento apresenta decisões difíceis para as autoridades, mas por enquanto os bancos centrais estão aumentando as taxas de juros para reduzir a inflação via desaceleração do crescimento econômico.
O Banco Central Europeu (BCE) deverá aumentar sua taxa básica de juro de 0,75% para 1,50% quando se reunir nesta quinta-feira. O Federal Reserve (Fed, o BC dos EUA) se reúne na semana que vem e espera-se um novo aumento no juro de 0,75 ponto porcentual.
O consumo de gás natural na Europa aumenta bastante com o início do clima mais frio, e as autoridades alertaram para o risco de racionamento se não houver uma redução significativa no consumo. Mesmo na ausência de um racionamento, qualquer aumento nos preços da energia com o aumento sazonal da demanda poderá enfraquecer ainda mais a economia.
O índice de atividade composto da S&P Global para a zona do euro caiu para 47,1 pontos em outubro, marcando o quarto mês consecutivo a indicar uma contração.
Em toda a zona do euro, o setor industrial foi o que se contraiu mais, especialmente nas atividade de uso intensivo de energia, como de produtos químicos e plásticos.
O índice de atividade composto da Alemanha – principal centro industrial da Europa e um dos maiores usuários do gás russo – caiu para o nível mais baixo desde maio de 2020, quando grandes partes de sua economia entraram em lockdown. A França, que depende bem menos da energia da Rússia, registrou uma estagnação na atividade, depois de registrar crescimento em setembro.
As temperaturas amenas neste início da temporada outono/ inverno e os altos níveis dos estoques aumentaram as esperanças de que a Europa possa atravessar o inverno sem racionamento, o que derrubou os preços do gás natural para menos de € 130 o megawatt-hora (Mwh) ante ao pico de quase € 350 o Mwh no fim de agosto.
Mas o Fundo Monetário Internacional (FMI) alertou no domingo que a Europa ainda poderá ter um racionamento. “Um importante risco no curto prazo é uma ruptura adicional no fornecimento de energia, o que, combinado com um inverno rigoroso, pode levar à falta de gás, racionamento e um dano econômico maior.”
A economia da zona do euro sofre com as duras consequências da invasão da Ucrânia pela Rússia em fevereiro. A escalada nos preços de energia e alimentos reduziram o poder de compra das famílias e ameaçam as margens de lucros das empresas. O maior conflito militar no continente em quase oito décadas também afetou a confiança das famílias e das empresas.
A atividade no primeiro semestre do ano foi impulsionada pela reabertura de partes da economia que haviam sido parcial ou totalmente fechadas durante a maior parte de 2021, sob as medidas elaboradas para conter a covid-19, mesmo com a contração da economia dos EUA. Mas os índices de atividade sugerem uma grande desaceleração da economia da zona do euro no terceiro trimestre e pode até mesmo ter se contraído.
O FMI cortou sua previsão de crescimento econômico para a zona do euro em 2023 para apenas 0,5%. Em janeiro, antes da invasão da Ucrânia, esperava-se um crescimento de 2,5%. O Fundo também reduziu suas previsões para outras economias europeias.
“No ano que vem, a economia e a renda da Europa serão quase meio trilhão de euros a menos em comparação às previsões pré-guerra do FMI, uma amostra gritante das perdas econômicas severas do continente com a guerra”, diz Alfred Kammer, chefe do departamento do FMI para a Europa.
Os índices de atividade são o sinal mais recente de desaceleração da economia global. Uma pesquisa da Austrália apontou para a primeira contração mensal da atividade das empresas desde janeiro.
Surgem sinais de que alguns dos fatores por trás do aumento global das taxas de juros estão perdendo força diante da desaceleração econômica. Os preços de alguns metais e outras commodities caíram bastante em relação aos picos deste ano, assim como os custos dos fretes, enquanto os congestionamentos nos portos estão quase resolvidos. Uma medida do Fed de Nova York de ruptura global nas cadeias de suprimentos caiu em setembro pelo quinto mês.
A pandemia continua a influenciar a economia mundial, com o índice de atividade para o Japão apontando para uma aceleração do crescimento após a reabertura do país aos viajantes estrangeiros após uma restrição de 2,5 anos. (Com agências internacionais)
Fonte: Valor Econômico