Apesar de um pouco abaixo das expectativas, o Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br) de janeiro não alterou a visão, entre analistas, de que a economia brasileira pode ter tido um início de ano melhor do que o esperado, impulsionada, sobretudo, pelo consumo.
O IBC-Br subiu 0,60% em janeiro de 2024, na comparação dessazonalizada com dezembro de 2023, divulgou ontem o BC. A expectativa mediana colhida pelo Valor Data era de alta de 0,7%. Em relação a janeiro de 2023, o crescimento foi de 3,45%. No acumulado de 12 meses até janeiro deste ano, o IBC-Br avança 2,5%. Devido às constantes revisões, o indicador em 12 meses é mais estável do que o mensal.
As surpresas com as pesquisas do IBGE de janeiro para o comércio e os serviços foram “bem importantes”, diz Flávio Serrano, economista-chefe do Banco Bmg.
O varejo ampliado – que inclui veículos e material de construção e é mais relevante para o cálculo do Produto Interno Bruto (PIB) – subiu 2,4% em janeiro, em relação a dezembro, ante expectativa de 0,6% do Valor Data. Os serviços, por sua vez, avançaram 0,7%, ante projeção de queda de 0,5%.
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“A dúvida é se isso se sustenta ao longo do primeiro trimestre ou não. Ainda estou um pouco cético com a ideia de um primeiro trimestre muito exuberante. Mas, com o que temos de informação hoje, a atividade foi um pouco mais forte”, diz Serrano.
Para ele, a alta do varejo em janeiro pode ter sido temporária, mais ligada a preços, por causa dos descontos expressivos, do que a uma dinâmica consistente da demanda. “Eu esperaria uma devolução importante em fevereiro”, diz.
No caso dos serviços, a previsão é mais turva. À exceção de janeiro, observa Serrano, as últimas três divulgações não vinham surpreendendo para cima. Há, porém, uma correlação importante entre o mercado de trabalho e os serviços, aponta, e o Brasil abriu quase 180,4 mil vagas formais em janeiro, de acordo com o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), mais que o dobro da expectativa colhida pelo Valor Data.
“O mercado de trabalho aponta ainda resiliência. Aparentemente, a atividade está começando o ano melhor mesmo”, diz Serrano.
O desempenho pode refletir, segundo ele, a defasagem da política monetária, que está em um ciclo de afrouxamento desde agosto de 2023, e também algum impulso fiscal, com transferências de renda e reajuste do salário mínimo.
Serrano observa que o resultado de janeiro deixa uma “herança estatística” de 1,2% para o IBC-Br no primeiro trimestre do ano. “É bastante forte”, afirma, notando que o dado está bem acima da sua projeção atual para o PIB no período, de 0,4%. “Pelos dados de janeiro, essa projeção tem um viés de alta”, diz.
O IBC-Br tem metodologia distinta das Contas Nacionais do IBGE. O indicador do BC, que é mensal, permite acompanhamento mais frequente da evolução da atividade, enquanto o PIB, trimestral, descreve um quadro mais abrangente da economia.
Para Daniel Xavier Francisco, economista-chefe do Banco ABC Brasil, a “herança estatística” do IBC-Br no primeiro trimestre de 2024 se traduz em uma alta de 0,8% do PIB trimestral, acima do 0,4% projetado até então por ele.
Assim, após a divulgação do indicador do BC, o banco revisou sua previsão para o crescimento do PIB em 2024 de 1,5% para 2,3%.
Não esperamos que performances se repitam em fevereiro”
Além dos dados fortes da atividade de janeiro, o banco incorporou o maior impulso ao consumo vindo de fatores como a antecipação do pagamento de precatórios e do 13º salário de aposentados e pensionistas do INSS, do mercado de trabalho apertado, da renda real em alta e de melhorias nos balanços de empresas e famílias.
Olhando à frente, a MCM Consultores projeta novo avanço, ainda maior, do IBC-Br, de 1,2% em fevereiro, ante janeiro. A XP espera que o IBC-Br cresça 1,4% no primeiro trimestre de 2024, ante o quarto de 2023, com altas de 0,5% em fevereiro e 0,4% em março.
O “tracker” (estimativa de alta frequência) da XP para o PIB indica alta de 0,8% no primeiro trimestre de 2024, ante o último de 2023. “A atividade econômica ganhou tração no período recente”, diz o economista Rodolfo Margato.
O acompanhamento em tempo real do Santander para o PIB do primeiro trimestre passou a sinalizar alta de 0,7%, ante 0,6% da projeção prévia. Ainda que janeiro tenha sido um mês de resultados majoritariamente positivos para a atividade, o economista do banco Gabriel Couto diz não esperar que os desempenhos do varejo e de serviços se repitam em fevereiro.
“Nossa projeção de crescimento para o ano de 2024 é de 1,5%, pois esperamos uma desaceleração importante para o segundo trimestre de 2024”, afirma.
Para Xavier, do ABC Brasil, impulsos positivos do início de 2024 devem se espalhar para o segundo trimestre, que avançaria 0,6% ante o primeiro, projeta. O ritmo de altas trimestrais na segunda metade do ano, por sua vez, deve ficar em torno de 0,7%.
Fonte: Valor Econômico

