24 Oct 2023
Quando o boom imobiliário da China parecia ser uma aposta de mão única, os pais de Gary Meng compraram um apartamento da Evergrande, a maior incorporadora do país. Logo a empresa ligou com outra proposta: administrar o patrimônio deles.
Era um bom negócio com pouco risco, pensou a família. A Evergrande tinha reconhecimento global e era uma empresa politicamente importante no centro da crescente economia da China. Eles investiram todas as suas economias.
Então, o impensável aconteceu. Em 2021, a Evergrande ficou inadimplente, representando o início de um colapso imobiliário que abalou a economia da China, derrubou algumas de suas maiores empresas e deixou compradores de casas esperando por mais de um milhão de apartamentos.
No início do mês, outra empresa imobiliária em dificuldades, a Country Garden, disse que estava sem dinheiro, sinalizando que o pior ainda pode estar por vir. As empresas têm um total de US$ 500 bilhões em dívidas e enfrentam obstáculos críticos.
Hoje, a capacidade de Pequim de desacelerar o colapso está em dúvida, já que os consumidores continuam a demonstrar falta de interesse em comprar imóveis, mesmo durante o recente feriado da Golden Week, geralmente um período de grande volume de vendas.
Economistas, investidores e bancos centrais de todo o mundo estão alertando sobre os riscos para a estabilidade financeira da China, pedindo a Pequim que atue para estabilizar a crise imobiliária. Segundo eles, o país precisa se recalibrar para ser menos dependente de investimentos em áreas como infraestrutura e imóveis, e mais dependente dos consumidores.
“O desafio tem sido tentar dar ao setor apoio suficiente para lidar com a transição sem estimular outra bolha imobiliária ou uma recuperação que piore esses problemas”, disse Julian Evans-Pritchard, diretor nacional da China na Capital Economics, uma empresa de pesquisa. “Para que haja uma reviravolta na economia, é realmente necessário que o setor imobiliário se estabilize.”
Nas últimas semanas, as autoridades chinesas tentaram colocar um piso sob a queda das vendas de imóveis, mas até agora com pouco efeito. A Country Garden não conseguiu fazer o pagamento de quase US$ 200 bilhões em dívidas, e ainda tem mais de 400 mil apartamentos que vendeu, mas não terminou de construir.
‘QUESTÃO POLÍTICA’. Agora que a maioria dessas empresas está afundada em dívidas, muitos estão se perguntando o que Pequim fará em seguida. Surgiu um consenso entre os especialistas na China de que ela não voltará aos dias de excessos. Mas ainda restam dúvidas, especialmente porque as perspectivas econômicas mais amplas são sombrias.
“Quando se tem 30 anos de aumento de preços, não há como interromper esse processo sem uma dor tremenda em todas as partes da economia”, disse Michael Pettis, membro sênior do Carnegie Endowment for International Peace. Todos os que se beneficiaram do boom imobiliário – os bancos, os governos locais e as famílias – têm muito em jogo. “A questão política é saber quem arcará com o prejuízo.”
Até agora, o governo havia deixado claro que os compradores de casas não seriam as vítimas do ajuste de contas no mercado imobiliário. Apesar da inadimplência, as autoridades permitiram que a Evergrande continuasse a construir 300 mil apartamentos no ano passado.
A importância da Evergrande para os formuladores de políticas agora parece ter acabado. Este mês, as autoridades detiveram seu fundador, o Sr. Xu, sob suspeita do que a empresa chamou de “crimes ilegais”. Vários outros altos executivos e funcionários de seu braço de gestão de patrimônio foram levados para interrogatório.
Garantir que os apartamentos prometidos pelas incorporadoras agora falidas sejam construídos custará de US$ 55 bilhões a US$ 82 bilhões, de acordo com estimativas de economistas da empresa financeira japonesa Nomura. •
Modelo A Evergrande tomou empréstimos de bancos e investidores para manter sua rápida expansão
Fonte: O Estado de S. Paulo

