08/08/2022 – Jornalista: LEANDRO BECKER
Apesar dos efeitos da pandemia e da oscilação de preços em meio à crise entre Rússia e Ucrânia, os bons resultados e a resiliência do agronegócio têm despertado o interesse de investidores. Ciente da janela de oportunidade, o setor se movimenta para oferecer novos produtos financeiros.
Os números comprovam o apetite. ?Dos 46 IPOs (ofertas iniciais de ações, na sigla em inglês) realizados no Brasil em 2021, 11 foram de companhias do agronegócio, um recorde?, disse Gilson Finkelsztain, CEO da B3, durante o Congresso Brasileiro do Agronegócio realizado na semana passada em São Paulo. ?Desde o lançamento do Fundo de Investimento nas Cadeias Produtivas Agroindustriais (Fiagro), em agosto de 2021, são mais de 70 mil investidores no produto.? Em maio, a Bolsa lançou o índice de empresas do agronegócio (IAGRO B3), composto por 32 ativos que, juntos, chegam a R$ 700 bilhões em valor de mercado. ?O diferencial é que ele contempla não só empresas do setor primário, mas também fornecedoras de insumos, agroindústrias, comércio e empresas de transporte?, disse.
Fabiana Perobelli, superintendente de Relacionamento com Clientes da B3 e uma das painelistas do congresso, reforçou que o agronegócio se oferece como opção natural para o investidor que busca diversificação. ?Com a saída do governo como principal financiador, o mercado de capitais está assumindo esse papel com a criação de instrumentos simples e acessíveis?, disse.
Segundo Fabiana, aproveitar bem as oportunidades depende do foco do investidor. ?Se o perfil é de renda fixa, há opções como a LCA (Letras de Crédito do Agronegócio) e o CRA (Certificados de Recebíveis Agrícolas).
Na renda variável, há de ações até o Fiagro, em que o investidor se torna sócio de uma fazenda e ajuda na produção agrícola?, diz.
SUSTENTABILIDADE.
O mercado sinaliza que a ?linha verde? tende a despontar nos próximos anos no agro. De olho nisso, Finkelsztain disse que a B3 avalia um subíndice de empresas do agro em ESG ? termo que designa ações sociais, sustentáveis e de governança. ?Essas práticas não são transitórias?, afirmou.
O próprio setor está ciente disso. Luiz Carlos Corrêa Carvalho, presidente da Associação Brasileira do Agronegócio (Abag), disse que, diante da pressão por práticas sustentáveis, o agro brasileiro precisa ser protagonista.
?O Renovabio e o mercado de carbono, por exemplo, têm grande potencial de crescimento.
Certamente, veremos outros produtos semelhantes, especialmente atrelados à certificação e à rastreabilidade.? Para Fabiana, da B3, à medida que os instrumentos ficarem acessíveis, haverá oferta de títulos verdes vinculados ao agro que podem ajudar o investidor a diversificar, além de contribuir para a pauta ambiental.
?Na hora que houver oferta, teremos discussões de preço mais interessantes, e o produtor poderá buscar estes títulos como alternativa de financiamento?, disse. Segundo a B3, o somatório da emissão de títulos ESG saltou de R$ 6 bilhões, em 2020, para R$ 30 bilhões em 2021. Só no primeiro semestre de 2022, foram R$ 40 bilhões.
PREÇOS.
Mas como investir no agronegócio para diversificar a carteira sem correr riscos? Entender a volatilidade do setor é essencial, afirma Marcos Jank, coordenador do centro Insper Agro Global. Segundo ele, o investidor precisa estar ciente de que os preços oscilam e que nenhum país consegue defini-los por si só. ?Tivemos alta em razão da pandemia, guerra e clima, e aí veio a recessão. Tudo indica que os preços cairão novamente, mas ninguém sabe quando. Portanto, o investidor precisa estar preparado para lidar com volatilidade?, diz.
O cuidado deve ser ainda maior para quem não tem familiaridade com o agronegócio. Afinal, de acordo com Jank, o setor tem empresas extremamente seguras, mas há muitos ?aventureiros?.
?Isso abre um caminho interessante para os próprios produtores rurais investirem. Afinal, eles conhecem a ampla atuação do agro, do campo à cidade, o que os torna naturalmente investidores qualificados.
Fonte: O Estado de S.Paulo

