O crescimento do produto interno bruto (PIB) entre as economias do bloco Cooperação Econômica Ásia-Pacífico (Apec) deve ficar para trás do resto do mundo a partir do ano que vem. Relatório da Apec aponta que obstáculos macroeconômicos e geopolíticos atingirão a região.
O PIB combinado da região deve aumentar 3,5% em 2024, abaixo dos 3,6% do ano passado, de acordo com o relatório da Unidade de Suporte à Políticas Econômicas, braço de pesquisa e análise da Apec.
A taxa de crescimento deve cair para 3,1% em 2025 e diminuir ainda mais, para 2,7%, no médio prazo, ficando atrás do resto do mundo, que deve crescer 3,2% em 2025 e 3,1% no médio prazo (2027-2029).
As 21 economias membros da Apec, incluindo Estados Unidos, China, Canadá, Japão, Coreia do Sul e México, foram responsáveis por metade do comércio global e 60% do PIB mundial, servindo como um grande motor de crescimento nas últimas décadas. Mas enquanto os líderes da Apec se reúnem em Lima para uma cúpula anual esta semana, as perspectivas para o crescimento econômico da região parecem sombrias.
As incertezas macroeconômicas nas principais economias membros, como a China, levaram à desaceleração, mas a geopolítica também desempenhou um fator e continuará a afetar o comércio e as economias na região.
O retorno à Casa Branca de Donald Trump, que prometeu impor uma tarifa universal de 20% sobre todas as importações para os Estados Unidos e uma taxa de 60% sobre produtos da China, levantou preocupações de uma aceleração no protecionismo global. Mas o relatório da Apec não especulou se um segundo governo Trump desacelerará ainda mais o crescimento na região.
“Serei cauteloso ao dizer que o segundo mandato do presidente Trump será semelhante ao primeiro mandato. Não sabemos sobre isso. Acho que há algumas lições aprendidas com o primeiro mandato também”, disse Carlos Kuriyama, diretor da Unidade de Suporte à Políticas Econômicas em uma entrevista coletiva na manhã de quarta-feira em Lima.
Ele acrescentou que a projeção de crescimento atual é baseada no cenário existente e que seria especulativo fazer suposições sobre um segundo governo Trump sem conhecer os detalhes de suas futuras políticas e gabinete.
“Apesar de toda essa retórica política que ouvimos por tantos anos, as relações econômicas dos Estados Unidos e da China são muito fortes”, disse Kuriyama. “Como há dois anos, por exemplo, mesmo com medidas protecionistas, os fluxos comerciais entre os Estados Unidos e a China atingiram os maiores níveis de todos os tempos.”
Kuriyama disse que tarifas e outras medidas protecionistas continuarão a ser os principais fatores de risco para o crescimento da Apec no curto e médio prazo.
No entanto, também há economias que estão se beneficiando da turbulência geopolítica, como México e países do Sudeste Asiático.
À medida que mais empresas que buscam contornar as restrições comerciais dos Estados Unidos estabelecem operações e instalações de fabricação no México e no Sudeste Asiático, as cadeias de suprimentos globais estão mudando e algumas economias registram um forte crescimento com a mudança.
“Os países latino-americanos viram alguns dos benefícios e podem se beneficiar mais, mas até agora o Sudeste Asiático e o México são de longe os maiores beneficiários”, disse Kuriyama, acrescentando que o Acordo Estados Unidos-México-Canadá (USMCA) e a proximidade com os Estados Unidos dão ao México uma vantagem única.
Fonte: Valor Econômico

