Pesquisa com 774 profissionais com nível superior mostra que 52% dos líderes e 59% dos liderados fazem uso desse tipo de medicação em 2025. Eram 18% e 21% em 2024, respectivamente
O uso de medicamentos para lidar com estresse, ansiedade e burnout disparou em 2025, na comparação com 2024. A constatação é da pesquisa Inteligência Emocional e Saúde Mental no Ambiente de Trabalho, realizada pela The School of Life, escola com foco em inteligência emocional e autoconhecimento, em parceria com a consultoria de recrutamento Robert Half.
Segundo o levantamento obtido pelo Valor, que ouviu 774 profissionais de diferentes regiões do Brasil, com nível superior e 25 anos de idade ou mais, 52% dos líderes e 59% dos liderados fazem uso desse tipo de medicação em 2025. Eram 18% e 21% em 2024, respectivamente.
Diana Gabanyi, CEO da The School of Life Brasil e head de experiências corporativas da escola, explica que o salto expressivo não está ligado a mudanças metodológicas na pesquisa. “Trata-se de um aumento real, que revela um fenômeno alarmante e para o qual poucas empresas estão preparadas. No nível individual, esse dado é extremamente dramático”, diz.
Para ela, esse é o retrato de um ambiente corporativo em que a ansiedade cresce a ponto de afetar diretamente a saúde mental. “Quando observamos pessoa por pessoa, cada número representa alguém que está vivendo um grau de sofrimento psíquico tão intenso que precisa recorrer à medicação para conseguir manter sua rotina de trabalho”, diz.
A pesquisa mostra também que falar de saúde mental no trabalho ainda é um tabu. Os dados revelam que 73% dos gestores e 33% dos funcionários não contaram às suas lideranças sobre o uso da medicação – evidenciando que quanto mais alto o cargo, menor o espaço para assumir vulnerabilidades. “Tornou-se quase normal que pessoas em cargos de liderança estejam profundamente estressadas e sintam que não podem correr o risco de revelar suas vulnerabilidades a quem está acima na hierarquia”, comenta Gabanyi.
Maria Sartori, diretora de mercado da Robert Half, afirma que ainda há uma expectativa cultural de que líderes sejam resilientes a todo custo, o que dificulta a exposição de vulnerabilidades. “Muitos ainda temem perder credibilidade ou ver sua imagem de autoridade comprometida ao admitir fragilidades relacionadas à saúde mental, mesmo que elas sejam inerentes a qualquer ser humano”, detalha. “Soma-se a isso a pressão constante por resultados, que tende a reforçar esse silêncio.”
Por outro lado, ela enxerga um processo de valorização de lideranças mais autênticas, que reconhecem seus limites e servem de exemplo ao tratar o tema com transparência. “Esse movimento ajuda a quebrar o tabu e abre espaço para culturas organizacionais mais saudáveis, nas quais o bem-estar ultrapassa o discurso e se torna uma prática cotidiana.”
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Ao mesmo tempo em que o assunto segue como tabu, 56% dos líderes responderam que a organização na qual trabalham incentiva ativamente que os líderes acolham questões de saúde mental e emocional da equipe. O dado, diz Sartori, mostra um descompasso entre o discurso institucional e a prática cultural. “Muitas empresas já reconhecem a importância de oferecer suporte emocional às equipes, mas não garantem o mesmo nível de acolhimento para quem ocupa cargos de gestão”, afirma. “O resultado é um líder que cuida do time, porém não encontra espaço seguro para tratar das próprias questões.”
Fonte: Valor Econômico