Por Fernanda Guimarães e Mônica Scaramuzzo — De São Paulo
29/05/2023 05h00 Atualizado há 5 horas
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Com cada vez mais empresas consumindo parte maior de sua geração de caixa para bancar o custo da dívida, cresce o número de fusões e aquisições (M&A, na sigla em inglês) envolvendo a venda de ativos para reduzir a alavancagem. De janeiro a abril deste ano, 27,8% das operações de M&As, considerando transações acima de R$ 200 milhões, tinham por trás características de ativos “estressados” em números absolutos. A fatia desse tipo de transação em todo o ano de 2022 e em 2021 ficou em cerca de 10%. O levantamento é da FTI Capital Advisors.
Se considerados os valores, essa proporção é maior. De janeiro a abril deste ano, esse perfil respondeu por cerca de R$ 14 bilhões dos negócios fechados. Ou seja, dos R$ 28,9 bilhões movimentados em M&As, quase metade (48,6%) envolveu ativos estressados. Em 2022, essa fatia era de 11% e, em 2021, de 9,1%.
A FTI Capital Advisors considera ativos “estressados” divisões de negócios de companhias sadias, mas com alto endividamento e que precisam se desfazer de empresas para reduzir alavancagem, grupos em recuperação judicial e negócios ligados a acionistas com problemas financeiros. Para analistas, estas operações deverão seguir em alta. Em um cenário ainda incerto sobre o movimento de redução da taxa básica de juros, as transações com esse perfil estão ganhando maior participação, enquanto os M&As tradicionais têm caído.
A Intercement, por exemplo, busca comprador para seus ativos na África, para reduzir dívida. A BRF, também bastante endividada, está perto de vender sua unidade de pets. A maior operação de M&A neste ano, a venda da Aesop, da Natura, foi realizada para diminuir a alavancagem da companhia. Pela mesma razão, a Copersucar anunciou a venda de 50% de participação no terminal de etanol Opla para a Ultracargo e a Gafisa se desfez de 80% do projeto do Hotel Fasano. O caso da venda da Braskem entra na cota da dificuldade do seu principal acionista, a Novonor (ex-Odebrecht).
Para especialistas, os ativos em bolsa estão depreciados, o que limita fusões por meio de troca de ações. Além disso, o comprador, neste cenário, adquire maior poder de barganha. “Há casos de empresas que estão colocando negócios à venda agora porque não sabem por quanto tempo a taxa de juros se manterá alta”, diz Renato Boranga, da FTI.
Fonte: Valor Econômico

