Pesquisa com 97 executivos-chefes mostra aproximação maior dos “boards” no dia a dia das companhias
Por Fernanda Gonçalves — De São Paulo
A relação entre presidentes de empresas e os conselhos está cada vez mais estreita, mas ainda há espaço para melhorias. É o que mostra a pesquisa “Fotografia da relação entre CEOs e conselhos”, realizada pela consultoria MAIO com 97 CEOs. O estudo foi obtido com exclusividade pelo Valor.
“De uns anos para cá, começamos a perceber uma aproximação muito maior dos conselhos no dia a dia das companhias e um nível maior de interferência”, afirma Fernando Andraus, sócio-fundador da MAIO.
Para entender esse cenário, a consultoria desenvolveu o estudo com base em cinco temas. O primeiro diz respeito à quantidade e pertinência das informações solicitadas pelo conselho. “Uma constatação muito frequente dos CEOs é que eles passam muito tempo do mês se preparando para o conselho ou respondendo à demanda de informação”, diz. De acordo com a pesquisa, tais comentários são mais comuns em empresas onde o conselho tem menos tempo de existência ou nas quais houve alteração recente em sua composição.
O segundo ponto se refere ao aporte de conhecimento do conselho para a gestão. Os temas mais bem pontuados foram finanças, governança, fiscalização e clareza do papel social, enquanto negócios e estratégia, inovação e tecnologia foram considerados tópicos que “precisam melhorar”. “Há espaço para os conselhos apoiarem mais a estratégia das companhias. No geral, eles ainda têm olhado mais para o retrovisor do que para frente”, relata Marcelo De Lucca, também sócio-fundador da MAIO.
Para Andraus, isso tem a ver, em parte, com a composição dos conselhos. “É muito comum trazer pessoas de finanças, principalmente no primeiro conselho, para ter certeza de que a companhia está bem controlada”, explica. “Só que essa é somente uma das atribuições do conselho. Nós estamos vivendo um mundo em profunda transformação. Trazer esse olhar de negócios, jornada de consumidor, tecnologia e gente, é fundamental.”
Ele destaca ainda a importância de haver diversidade de conhecimento dentro dos conselhos e que ela seja bem aproveitada. “A discussão sobre a composição dos conselhos tem que andar lado a lado com a dinâmica e o desempenho. Não adianta você ter muito conhecimento reunido se a forma como o conselho é organizado e como as reuniões são conduzidas não permitem a utilização desse conhecimento”, analisa.
Há espaço para os conselhos apoiarem mais a estratégia das companhias”
— Marcelo De Lucca
O terceiro item analisado foi a clareza nas diretrizes. “Quando nós analisamos empresas que têm múltiplos sócios ou gerações diferentes dentro da mesma família empresária, é comum percebermos divergências do conselho que acabam afetando a companhia”, observa Andraus. Ainda assim, pouco mais da metade dos respondentes classificaram o conjunto de diretrizes como satisfatório ou excelente.
Já o quarto ponto se debruçou sobre a qualidade da relação com o conselho, sendo esse o grande destaque positivo da pesquisa. Os itens avaliados foram confiança, respeito, comprometimento, apoio, coesão e escuta/abertura. Aqui, quase todos os tópicos alcançaram mais de 70% de avaliações satisfatórias ou excelentes.
Ainda segundo o levantamento, 48,4% dos respondentes acreditam que o conselho contribui com diferentes temas, mas pode melhorar em algumas áreas. Ao mesmo tempo, 32% dizem que o conselho contribui efetivamente com estratégia e diretrizes claras, e 19,6% afirmam que o conselho tem papel mais “fiscalizador” do que estratégico.
Para fechar, o estudo avaliou o funcionamento dos comitês. De todas as empresas pesquisadas, 75,3% possuem comitês sobre finanças, enquanto 68% não contam com comitês de sustentabilidade.
Andraus, por fim, defende que uma iniciativa interessante é a avaliação dos conselhos por terceiros ou entidades independentes. “É muito comum que os conselhos simplesmente façam uma autoavaliação. Mas, da mesma forma que a gente avalia a gestão, avaliar conselhos também é um investimento. Há um espaço enorme para essa prática crescer no Brasil”, pontua.
Fonte: Valor Econômico