O ritmo de crescimento do crédito acelerou no primeiro semestre de 2024, com a economia mais forte que o previsto. As perspectivas para o restante do ano, porém, são mais difíceis, segundo economistas ouvidos pelo Valor. O cenário é marcado por uma expectativa de condições financeiras piores e política monetária mais dura, além de riscos inflacionários.
A taxa de expansão do saldo de operações em 12 meses, que era de 7,7% em janeiro, subiu para 9,9% em junho. Esse movimento pode ser visto em qualquer segmentação, seja de pessoas físicas ou empresas, em operações com recursos livres ou direcionados, destacou o chefe do departamento de estatísticas do Banco Central (BC), Fernando Rocha.
O saldo total de crédito bancário do país somava R$ 6 trilhões, segundo o BC, ante R$ 5,78 trilhões em janeiro. A alta em 12 meses no caso do crédito direcionado ficou em 13% e, no livre, em 7,8%. No segmento de pessoas jurídicas, a alta foi de 7,7% e, no de pessoas físicas, de 11,4%.
A expansão se deu em um cenário de queda da taxa média de juros, que recuou 3,8 pontos percentuais nos últimos 12 meses, para 27,6% ao ano. “Essa melhora substancial no crédito que aconteceu no primeiro semestre, volume crescendo, taxa de juros caindo, spread caindo, inadimplência estável, vai mudar um pouco agora no segundo semestre. Não vai ter uma piora, mas acho que as taxas de juros tendem a ficar estáveis com elevação de algumas linhas”, disse Miguel Ribeiro, diretor-executivo da Associação Nacional de Executivos (Anefac), que publica uma pesquisa mensal sobre juros.
Bruno Martins, economista sênior do BTG Pactual, afirmou que há ainda “bastante folga” de capital nos bancos com espaço para expansão no crédito, mas ele pontua que já esteve mais otimista. O economista diz que houve uma piora no cenário desde abril, com preocupação com a questão fiscal e aumento das taxas de juros de prazos mais longos. “As condições financeiras pioraram. Em algum momento isso vai ser repassado para as operações de crédito bancário. Acho que tem até demorado para isso acontecer.”
Para Martins, as taxas de juros não caíram tanto quanto o esperado. Além disso, as taxas de longo prazo estão mais altas. O economista afirmou que é possível que haja um crescimento de crédito com um custo maior no segundo semestre. “Como tem bastante demanda, tem folga ainda de capital, os bancos têm espaço para expandir a carteira, eu acho que isso vai acabar acontecendo. Você vai continuar com crédito até pujante em termos de volume, mas com um custo mais alto”, disse.
Algumas linhas de crédito tiveram crescimento mais destacado. Uma delas é a de aquisição de veículos, cujo saldo subiu 9,6% no ano e 18% em 12 meses. Outra é o consignado para o INSS, que teve altas de 9,4% e 11,9%, respectivamente.
Para pessoas jurídicas, a modalidade de desconto de duplicatas e recebíveis subiu 13,8% em 12 meses, apesar da queda de 4,7% no ano. Já a linha de maior volume, capital de giro, teve uma variação pequena, com quedas de 0,2% no ano e 0,1% em 12 meses.
No primeiro semestre, as concessões de crédito sazonalmente ajustadas subiram 14,1%, para R$ 594,8 bilhões em junho.
O Banco Central revisou para cima suas últimas projeções de expansão de crédito para este ano. O último Relatório Trimestral de Inflação (RTI) apontou que o saldo crescerá 10,8% em 2024. A projeção anterior era de 9,4%.
Em relatório, o chefe de pesquisa macroeconômica para a América Latina do Goldman Sachs, Alberto Ramos, apontou que as condições de crédito terão desafios nos próximos meses com a expectativa de uma política monetária conservadora diante de expectativas de inflação se deteriorando, cenário fraco para a questão fiscal e aumento de riscos para a inflação. Por outro lado, segundo ele, o crédito de bancos públicos e para apoiar a reconstrução do Rio Grande do Sul deverá apoiar o ciclo.
Fonte: Valor Econômico

