A perspectiva de queda da Selic a partir de 2026 tem sinalizado um alívio gradual para o mercado de crédito privado, mas o efeito ainda deve demorar a se materializar no caixa das empresas. Gestores apontam que, embora o ciclo de afrouxamento monetário aponte para a redução da taxa básica — mantida em 15% após a última reunião do Copom, na quarta-feira (10) —, a melhora no custo de financiamento corporativo caminha em ritmo mais lento, em parte, porque os spreads seguem pressionados e a recuperação operacional das companhias é desigual. Ao mesmo tempo, casos recentes de estresse, como Braskem e Ambipar, reacenderam o debate sobre eventuais fragilidades estruturais no setor.
Nesse movimento, Gabriel Santos, especialista de investimentos de Research e Estratégia da Bloxs, observa que, mesmo com o cenário prospectivo mais benigno, “a vulnerabilidade persiste”, já que a defasagem da política monetária mantém pressionadas as empresas que ainda carregam estruturas de dívida pouco ajustadas.
Por sua vez, Gabriel Padula, CEO do grupo Everblue, entende que o descompasso entre a política monetária e o crédito corporativo não é conjuntural, mas inerente ao funcionamento do mercado. “O descompasso é estrutural. A queda da Selic afeta primeiro a precificação dos títulos públicos e só depois migra para o crédito privado, porque as instituições financeiras esperam evidências claras de desaceleração da inflação e de redução do risco macro antes de repassar o alívio”, afirma.
Em sua avaliação, o spread de crédito não reage na mesma velocidade da taxa básica, especialmente em um ciclo de desalavancagem. “O mercado opera com uma espécie de ‘hiato de política monetária’, em que a Selic baixa, mas o corporate ainda paga um capital mais caro”, acrescenta.
A avaliação de Santos complementa esse diagnóstico ao apontar que empresas “excessivamente alavancadas, com grande parte de seus ativos já comprometidos em garantias ou sem um plano robusto de gestão de passivos”, seguem expostas a riscos de liquidez e solvência, mesmo com o início da trajetória de queda dos juros.
Em sua carta mensal mais recente, a Sparta Fundos de Investimento também destacou que a recomposição dos spreads tende a ser mais lenta em um ambiente de fundamentos ainda frágeis, fluxo mais moderado para os fundos e seletividade maior na originação. A avaliação da casa é que os próximos meses devem marcar um período de transição, no qual a percepção de risco pode oscilar à medida que a atividade econômica perde tração e as empresas testam sua capacidade de desalavancagem.
Na avaliação de Padula, alguns setores são mais vulneráveis ao atraso dessa melhora financeira. “As companhias intensivas em capital, com margens comprimidas e ciclos longos de conversão de caixa, são as mais impactadas”, afirma. Ele cita infraestrutura, logística e serviços B2B entre os segmentos que operam sob maior pressão. “Empresas alavancadas que enfrentam volatilidade de receita também sentem mais, já que o credor exige prêmio adicional antes de alongar prazo”, adiciona o executivo.
A discussão ganhou força especialmente após os episódios envolvendo Braskem e Ambipar, que geraram ajustes relevantes em fundos de crédito e mobilizaram gestores a revisitar carteiras. Para Padula, apesar de serem eventos isolados, eles ilustram a sensibilidade do crédito privado a estruturas de capital mais frágeis.
“São casos específicos, com origens distintas, mas refletem um denominador comum: empresas alavancadas em um ambiente de juros altos por mais tempo tendem a enfrentar testes de estresse mais severos”, afirma.
Embora ele não veja risco sistêmico imediato ao crédito privado, considera que o impacto reputacional é real. “Mesmo quando são eventos isolados, eles elevam a aversão ao risco do investidor e aumentam a seletividade na originação.” Santos segue a mesma linha ao apontar que esses episódios continuam idiossincráticos, mas que o ambiente atual “penaliza desproporcionalmente quem não fez o dever de casa”, evidenciando a diferença entre empresas que preservaram flexibilidade financeira e aquelas que operam no limite.
Os gestores também observam com atenção empresas cujo endividamento ultrapassa patamares considerados de maior risco. Padula ressalta que o alerta não se resume ao nível de alavancagem, mas ao perfil da dívida. “A combinação de dívida líquida acima de 3 a 3,5 vezes Ebitda com geração de caixa instável tende a acender o sinal amarelo”, afirma. Segundo ele, os problemas se concentram em companhias com vencimentos concentrados, dependência de dívida curta e covenants apertados — elementos que reduzem a flexibilidade financeira.
Diante desse quadro, a Everblue tem ajustado a originação e ampliado o rigor na avaliação das operações. “Estamos operando com seletividade ampliada”, afirma Padula. “Hoje analisamos não só o fluxo histórico, mas o comportamento projetado em cenários de stress com juros ainda altos. Também buscamos estruturas com garantias mais robustas e maior alinhamento entre tomador e investidor.”
Ele acrescenta que a demanda por crédito segue firme, mas com uma régua mais exigente. “O objetivo não é reduzir crédito, mas originar melhor, com operações que preservem o retorno ajustado ao risco.”
Para Santos, o risco de que fragilidades corporativas transbordem para a indústria de fundos depende menos dos casos idiossincráticos e mais do pano de fundo macro. Na sua avaliação, um estresse fiscal ou político seria “o principal gatilho para uma reprecificação abrupta”, com potencial de abrir a curva de juros, encarecer captações e pressionar a marcação a mercado. Em um cenário assim, fundos mais expostos a ativos High Yield e com menor diversificação estariam mais sujeitos a ondas de resgates e restrição de liquidez.
Apesar das incertezas, há sinais que podem favorecer o mercado no próximo ano, caso se consolidem. “O maior vetor positivo seria uma qA perspectiva de queda da Selic a partir de 2026 tem sinalizado um alívio gradual para o mercado de crédito privado, mas o efeito ainda deve demorar a se materializar no caixa das empresas. Gestores apontam que, embora o ciclo de afrouxamento monetário aponte para a redução da taxa básica — mantida em 15% após a última reunião do Copom, na quarta-feira (10) —, a melhora no custo de financiamento corporativo caminha em ritmo mais lento, em parte, porque os spreads seguem pressionados e a recuperação operacional das companhias é desigual. Ao mesmo tempo, casos recentes de estresse, como Braskem e Ambipar, reacenderam o debate sobre eventuais fragilidades estruturais no setor.
Nesse movimento, Gabriel Santos, especialista de investimentos de Research e Estratégia da Bloxs, observa que, mesmo com o cenário prospectivo mais benigno, “a vulnerabilidade persiste”, já que a defasagem da política monetária mantém pressionadas as empresas que ainda carregam estruturas de dívida pouco ajustadas.
Por sua vez, Gabriel Padula, CEO do grupo Everblue, entende que o descompasso entre a política monetária e o crédito corporativo não é conjuntural, mas inerente ao funcionamento do mercado. “O descompasso é estrutural. A queda da Selic afeta primeiro a precificação dos títulos públicos e só depois migra para o crédito privado, porque as instituições financeiras esperam evidências claras de desaceleração da inflação e de redução do risco macro antes de repassar o alívio”, afirma.
Em sua avaliação, o spread de crédito não reage na mesma velocidade da taxa básica, especialmente em um ciclo de desalavancagem. “O mercado opera com uma espécie de ‘hiato de política monetária’, em que a Selic baixa, mas o corporate ainda paga um capital mais caro”, acrescenta.
A avaliação de Santos complementa esse diagnóstico ao apontar que empresas “excessivamente alavancadas, com grande parte de seus ativos já comprometidos em garantias ou sem um plano robusto de gestão de passivos”, seguem expostas a riscos de liquidez e solvência, mesmo com o início da trajetória de queda dos juros.
Em sua carta mensal mais recente, a Sparta Fundos de Investimento também destacou que a recomposição dos spreads tende a ser mais lenta em um ambiente de fundamentos ainda frágeis, fluxo mais moderado para os fundos e seletividade maior na originação. A avaliação da casa é que os próximos meses devem marcar um período de transição, no qual a percepção de risco pode oscilar à medida que a atividade econômica perde tração e as empresas testam sua capacidade de desalavancagem.
Na avaliação de Padula, alguns setores são mais vulneráveis ao atraso dessa melhora financeira. “As companhias intensivas em capital, com margens comprimidas e ciclos longos de conversão de caixa, são as mais impactadas”, afirma. Ele cita infraestrutura, logística e serviços B2B entre os segmentos que operam sob maior pressão. “Empresas alavancadas que enfrentam volatilidade de receita também sentem mais, já que o credor exige prêmio adicional antes de alongar prazo”, adiciona o executivo.
Participe da pesquisa da Capital Aberto “O futuro do trabalho no mercado de capitais“, em parceria com a Recíproka
A discussão ganhou força especialmente após os episódios envolvendo Braskem e Ambipar, que geraram ajustes relevantes em fundos de crédito e mobilizaram gestores a revisitar carteiras. Para Padula, apesar de serem eventos isolados, eles ilustram a sensibilidade do crédito privado a estruturas de capital mais frágeis.
“São casos específicos, com origens distintas, mas refletem um denominador comum: empresas alavancadas em um ambiente de juros altos por mais tempo tendem a enfrentar testes de estresse mais severos”, afirma.
Embora ele não veja risco sistêmico imediato ao crédito privado, considera que o impacto reputacional é real. “Mesmo quando são eventos isolados, eles elevam a aversão ao risco do investidor e aumentam a seletividade na originação.” Santos segue a mesma linha ao apontar que esses episódios continuam idiossincráticos, mas que o ambiente atual “penaliza desproporcionalmente quem não fez o dever de casa”, evidenciando a diferença entre empresas que preservaram flexibilidade financeira e aquelas que operam no limite.
Os gestores também observam com atenção empresas cujo endividamento ultrapassa patamares considerados de maior risco. Padula ressalta que o alerta não se resume ao nível de alavancagem, mas ao perfil da dívida. “A combinação de dívida líquida acima de 3 a 3,5 vezes Ebitda com geração de caixa instável tende a acender o sinal amarelo”, afirma. Segundo ele, os problemas se concentram em companhias com vencimentos concentrados, dependência de dívida curta e covenants apertados — elementos que reduzem a flexibilidade financeira.
Diante desse quadro, a Everblue tem ajustado a originação e ampliado o rigor na avaliação das operações. “Estamos operando com seletividade ampliada”, afirma Padula. “Hoje analisamos não só o fluxo histórico, mas o comportamento projetado em cenários de stress com juros ainda altos. Também buscamos estruturas com garantias mais robustas e maior alinhamento entre tomador e investidor.”
Ele acrescenta que a demanda por crédito segue firme, mas com uma régua mais exigente. “O objetivo não é reduzir crédito, mas originar melhor, com operações que preservem o retorno ajustado ao risco.”
Para Santos, o risco de que fragilidades corporativas transbordem para a indústria de fundos depende menos dos casos idiossincráticos e mais do pano de fundo macro. Na sua avaliação, um estresse fiscal ou político seria “o principal gatilho para uma reprecificação abrupta”, com potencial de abrir a curva de juros, encarecer captações e pressionar a marcação a mercado. Em um cenário assim, fundos mais expostos a ativos High Yield e com menor diversificação estariam mais sujeitos a ondas de resgates e restrição de liquidez.
Apesar das incertezas, há sinais que podem favorecer o mercado no próximo ano, caso se consolidem. “O maior vetor positivo seria uma queda mais acelerada da inflação, que permitiria ao Banco Central reduzir os juros de forma mais consistente, destravando renegociações e estimulando originação de qualidade”, afirma. Entre os riscos, ele destaca a possibilidade de deterioração fiscal ou uma onda de revisões de rating. “Uma deterioração abrupta do cenário fiscal poderia reprecificar ativos, encarecer captações e elevar aversão ao risco”, diz.
Com o ciclo de juros ainda em andamento e a atividade perdendo força, a sensação entre gestores é que o crédito privado segue em uma zona de transição: não há sinais claros de contaminação generalizada, mas o mercado também está longe de um cenário confortável. Nesse ambiente, a disciplina na tomada de risco deve continuar ditando o ritmo da indústria no início de 2026.ueda mais acelerada da inflação, que permitiria ao Banco Central reduzir os juros de forma mais consistente, destravando renegociações e estimulando originação de qualidade”, afirma. Entre os riscos, ele destaca a possibilidade de deterioração fiscal ou uma onda de revisões de rating. “Uma deterioração abrupta do cenário fiscal poderia reprecificar ativos, encarecer captações e elevar aversão ao risco”, diz.
Com o ciclo de juros ainda em andamento e a atividade perdendo força, a sensação entre gestores é que o crédito privado segue em uma zona de transição: não há sinais claros de contaminação generalizada, mas o mercado também está longe de um cenário confortável. Nesse ambiente, a disciplina na tomada de risco deve continuar ditando o ritmo da indústria no início de 2026.
Fonte: Capital Aberto

