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Os quatro grandes bancos brasileiros apresentaram resultados díspares no terceiro trimestre, com Itaú Unibanco renovando recordes e Banco do Brasil (BB) enfrentando um momento difícil no agronegócio, enquanto BradescoCotação de Bradesco e Santander seguem em recuperação. Alguns fatores, no entanto, são comuns: a desaceleração mais forte do crédito, o aumento das provisões contra perdas e as incertezas sobre o que esperar de 2026. Embora a queda da Selic, prevista para o primeiro trimestre, deva trazer algum alívio, a perda de força da atividade e a disputa eleitoral deixam o cenário nebuloso.
O lucro líquido combinado dos quatro maiores bancos de capital aberto do país somou R$ 25,875 bilhões entre julho e setembro, um recuo de 11% em relação ao mesmo período do ano passado.
A carteira de crédito expandida desse conjunto de instituições financeiras chegou a R$ 4,403 trilhões, o que representa alta de 7,1% em 12 meses e de 2,2% em relação a junho. O ritmo de crescimento do portfólio diminuiu, como já era esperado em um ambiente de Selic elevada e atividade em desaceleração.
Maior banco da América Latina em ativos, o Itaú viu o crescimento anual da sua carteira passar de 7,3% para 6,4% do segundo para o terceiro trimestre. No BradescoCotação de Bradesco, a desaceleração foi de 11,7% para 9,6%; no BB, de 11,2% para 7,5%; e no Santander, que pisou no freio antes dos rivais, houve um primeiro sinal de que o ciclo pode estar começando a virar, com o ritmo da carteira passando de 1,5% para 3,8%.
Em contraste com a desaceleração das operações, o custo do crédito subiu. As despesas com provisões para devedores duvidosos (PDD) aumentaram 31,6% frente ao terceiro trimestre de 2024, chegando a R$ 42,157 bilhões na soma dos quatro bancos. O crescimento ofuscou a alta de 7% na margem financeira bruta combinada, que totalizou R$ 91,665 bilhões.
O salto nas despesas com provisões reflete duas coisas. Uma delas é uma mudança nas normas contábeis neste ano, quando os bancos passaram a ter de fazer as provisões com base no conceito de perdas esperadas. Algumas instituições financeiras já adotavam esse critério, mas outras, não, o que gerou um impacto. O outro fator um aumento do risco em si, que levou os bancos a reforçarem seus colchões contra inadimplência.
Os bancos sinalizaram que veem um ambiente de bastante incerteza no próximo ano.
O CEO do Itaú, Milton Maluhy Filho, afirmou que o banco ainda está trabalhando no orçamento de 2026 e não deu detalhes sobre o que esperar do desempenho da instituição. Porém, disse que um ano de eleições presidenciais tradicionalmente gera uma dose maior de cautela. Do ponto de vista macro, a aposta do executivo é em uma desaceleração da atividade e em um corte de 0,25 ponto percentual na Selic já em janeiro.
No entanto, segundo Maluhy, o bom momento do Itaú deve ajudá-lo a navegar em meio às incertezas. “Não estamos tendo dificuldade de encontrar oportunidades de crescer, especialmente nos segmentos de clientes que entendemos que são resilientes em um ciclo mais longo. O banco nunca esteve tão preparado para enfrentar os cenários, quaisquer que sejam. Essa capacidade de reação vale para os dois lados, seja para encontrar oportunidades e acelerar, ou se acharmos que é o momento de ser mais cautelosos”, afirmou.
Depois de um 2025 em que aumentou a carteira de forma mais comedida, o Santander planeja crescer em algumas linhas no ano que vem e desacelerar em outras. No conjunto, a ideia é que haja expansão. “Vamos buscar, sim, crescer receita, não estamos desenhando um portfólio que fica estagnado”, afirmou o CEO, Mario Leão.
O executivo admitiu que o banco adotou uma postura mais conservadora que o restante do mercado, e a expectativa é continuar nessa mesma linha diante do cenário macroeconômico difícil. “Não buscamos crescimento linear em todos os portfólios. Estamos crescendo mais em alguns negócios e reduzindo em outros, e essa gestão tem sido constante.”
Esse também é o caso no BradescoCotação de Bradesco, em meio a um processo de reestruturação que começou no ano passado. O presidente do banco, Marcelo Noronha, afirmou que o foco é crescer em “bons clientes” e em “boas modalidades de crédito”, casos de consignado, imobiliário, e linhas para micro, pequenas e médias empresas. “A gente está bem tracionado onde quer, com o cliente desejado”, disse.
A postura mais austera dos bancos, junto com uma economia mais resiliente do que se esperava no início do ano, ajuda a explicar por que a inadimplência não tem aumentado tanto neste ciclo de crédito. Mesmo com a Selic em 15% ao ano e o alto endividamento das famílias, o desemprego baixo ajuda a manter o risco sob controle.
No caso das carteiras de pessoa jurídica, o fato de as grandes empresas terem conseguido se financiar nos mercados de capitais a taxas muito baixas entre 2020 e 2021 e a forte demanda dos investidores por renda fixa (sobretudo papéis incentivados) são fatores que as têm ajudado a atravessar este momento, embora o período prolongado de juro nas alturas pressione as companhias mais alavancadas.
No terceiro trimestre, diversos bancos registraram provisões para “casos específicos” na carteira de crédito corporativa. Nenhum deles citou nomes, mas entre as empresas com dificuldades nos últimos meses estão nomes como Ambipar, Braskem e Raízen. Seja como for, os executivos afirmaram se tratar de situações pontuais e descartaram uma crise de crédito.
Para Noronha, do BradescoCotação de Bradesco, os casos problemáticos são conhecidos e não devem surgir novos nomes. Entre companhias médias pode haver novidades, mesmo de nomes listados em bolsa, mas dentro da normalidade. “Não vejo crise de crédito, de jeito maneira. No ‘middle’ pode ter alguns casos novos, mas isso é normal”, afirmou.
A situação é um pouco diferente para o Banco do Brasil, que atravessa uma condição específica, pressionado pelo agronegócio. Uma onda de recuperações judiciais entre grandes produtores fez as provisões do BB saltarem e derrubou o lucro da instituição para o menor nível desde o fim de 2020.
A presidente do banco, Tarciana Medeiros, classificou 2025 como um ano de ajuste. A meta para 2026, na instituição, é retomar a trajetória de rentabilidade, com o ROE voltando para perto de 15% – ante 8,4% no terceiro trimestre. Ainda assim, o cenário tem um elevado grau de incerteza. A ideia é manter os dividendos em 30% e ver como o negócio se desenvolve.
Segundo Medeiros, as perspectivas para este ano foram frustradas por “uma situação totalmente atípica no segmento agro”.
O vice-presidente financeiro do BB, Geovanne Tobias, disse que o aumento da participação relativa da carteira de pessoa física deve melhorar o mix de crédito e contribuir para a trajetória de rentabilidade. “Aumentando essa participação relativa da carteira de pessoas físicas vai melhorar o nosso mix, vai trazer mais retorno para o banco e ajudar a retomar a trilha de melhora de rentabilidade em 2026.”
Se o lado das receitas tende a estar mais pressionada no próximo ano, um fator que pode ajudar na rentabilidade dos bancos é a contenção de gastos. Com a digitalização impulsionada desde a pandemia e a competição com os “players” digitais, os incumbentes passaram a reduzir o número de agências. Noronha afirmou que o BradescoCotação de Bradesco fechou 1,6 mil pontos de atendimento físico em um ano, acima da meta, e deve fechar mais quase mil nos próximos 12 meses.
Segundo Leão, do Santander, a redução do número de agências não é feita para diminuir despesas, mas para adequar a infraestrutura física do banco às novas demandas dos clientes, que hoje usam muito mais os canais digitais. O executivo não descartou novos fechamentos. “Vamos seguir com a agenda de eficiência e isso, eventualmente, deriva para a redução de processos, agências, pessoas”, disse.
Por enquanto, as despesas operacionais continuam elevadas em algumas instituições, pressionadas por investimentos em tecnologia. No terceiro trimestre, os gastos administrativos e com pessoal dos quatro bancos totalizaram R$ 52,581 bilhões, um aumento de 6,4% em relação ao mesmo período do ano passado – acima, portanto da inflação em 12 meses.
A expectativa, no entanto, é que o uso mais intensivo de inteligência artificial (IA) gere ganhos de eficiência. Os bancos têm testado a tecnologia em centenas de projetos em todas as áreas – para auxiliar a codificação, agilizar a análise de documentos, fortalecer o combate a fraudes, sugerir investimentos, personalizar ofertas e atender clientes via chatbot, entre outros.
A IA pode até ajudar a atender, de maneira rentável, públicos de mais baixa renda. “Houve um processo de digitalização relevante dos clientes ao longo dos últimos anos e a nova tecnologia permite a gente atender esses clientes de um jeito diferente. Coisas que a gente não conseguia fazer no passado, hoje consegue fazer porque a escala não se dá mais pelo volume e capacidade de processamento dos mainframes. Ela se dá muito mais por ter uma tecnologia de ponta que te entrega um custo de servir muito baixo”, disse Maluhy.
Fonte: Valor Econômico

