Com a Selic em 14,25% ao ano e com a possibilidade de subir ainda alguns degraus, 2025 tem se mostrado um ano desafiador para os ativos de crédito privado, mas há oportunidades, segundo gestores de recursos. Opções isentas atreladas ao IPCA neste momento são consideradas uma melhor alternativa do que papéis indexados ao CDI, o juro de referência nas trocas entre as instituições financeiras.
Para Lígia Porchat, sócia-fundadora da Atena Capital, seja qual foi o cenário é importante olhar para preço, avaliar o crédito como se fosse uma ação. Enquanto o CDI corre contra, “o juro real está de graça”, é onde os fundos podem se apropriar de um carrego entre 7,5% e 7,8% num horizonte de três anos.
Ela alertou que embora tenha muito dinheiro indo para carteiras atreladas ao CDI, a exemplo dos fundos de infraestrutura, o indexador não vai proteger o investidor se houver uma “abertura de spreads, já o [atrelado ao] IPCA te protege se tudo der errado”.
Pierre Jadoul, diretor-executivo responsável pelas estratégias de crédito da ARX, concordou que este não é o melhor momento para se posicionar em papéis ou carteiras atreladas ao CDI, que quem fizer isso “estará deixando na mesa a oportunidade de travar um juro real alto”, talvez a melhor chance da década, especialmente nos títulos isentos de longo prazo. “O Brasil não tem spread de juros, ou as taxas caem ou descarrila. Se descarrilar, quer dizer que o Banco Central perdeu o controle da inflação. Quem estiver no CDI não estará blindado, o único ativo que blinda é o IPCA isento.”
Segundo dados da Anbima, as captações das empresas por meio das debêntures incentivadas pela Lei 12.431 seguem a todo vapor. Atingiram R$ 12,8 bilhões em fevereiro, o maior volume registrado para o mês desde o início da série, em 2012. No acumulado dos dois primeiros meses de 2025, as emissões totalizaram R$ 25,9 bilhões.
Enquanto no segmento “high grade”, de títulos de melhor qualidade, os spreads (a diferença em relação aos títulos públicos de referência) estão “amassados” porque a demanda tem se concentrado nos nomes mais óbvios, a melhor forma de buscar ganhos na classe é em alternativas um pouco mais apimentadas, segundo Jadoul. Mas sem descuidar do risco.
“Muitas companhias não estão conseguindo emitir e estão voltando para o balanço de banco, a exemplo do varejo, e os ativos super premium ficaram caros. Se for para apostar numa eventual melhora macro, não faria o investimento via crédito high grade, a melhor forma seria em outra classe”, afirmou Jadoul.
Para ele, ainda há oportunidades em estruturados, para um fluxo específico. “O macro não vai ser fácil para o crédito. Com juros a 15%, há reflexos na despesa financeira das companhias e na economia. Para quem tem apetite para mais retorno tem que ser cauteloso.”
O gestor comentou que nos fundos de investimentos em direitos creditórios (FIDC) há atualmente uma melhor relação risco/retorno do que no crédito corporativo puro.
Rodrigo Mendonça, da Valora, disse dar preferência a créditos pulverizados, via FIDC. Carteiras de multicedentes e multisacados acabam tendo um prazo relativamente curto, de 40 dias, o consultor de crédito consegue transitar entre setores e reciclar os ativos com certa celeridade.
O gestor disse ver nos segmentos de fundos de infraestrutura, da cadeia do agronegócio (Fiagro) e nos imobiliários algumas “bizarrices”, especialmente em carteiras de papel (crédito), com descontos da ordem de 30%, e com dois ou três ativos problemáticos na carteira. “Claro que tem preocupação com a cota, [ao comprar os ativos] você traz uma volatilidade implícita do lastro, mas muita coisa tem valor”, afirmou Mendonça.
Mas não dá para esperar um 2025 fácil com juros a 14%, 15% ou 15,5%, alertou. “Quando você coloca 15% na modelagem, é difícil uma empresa do segmento ‘middle’, pagando uma taxa de CDI+5% ou 6% não sofrer.”
Para Otávio Vieira, gestor do fundo Ceter na Est, que compra cotas de outros FIDC, afirmou que se em 2024 o número de recuperações judiciais (RJ) foi recorde, neste ano não deve ser diferente, mas o “crédito bem feito” deve ser a melhor alternativa de investimentos para o atual cenário.
“Os [originadores dos] fundos são mestres em entrar em boas operações com análise do sacado e do cedente. Se acham que não vão ganhar dinheiro com uma safra, cobram mais caro, puxam os limites de quem está em situação ruim”, diz. “O Brasil tem um diversidade grande, são diversos Brasis. O agro neste ano deve ser melhor do que em 2023 e 2024, algumas indústrias estão bem, o varejo discricionário, não. São condições que quem dá o crédito leva em consideração. Se uma companhia já está apertada veem o comportamental, essas vão para o fim da fila.”
Daniel Doll Lemos, da QI Tech, que atua na administração fiduciária para o setor de estruturados, afirmou que boletas de grandes bancos, via tesourarias e carteiras administradas, por créditos “high yield” (de maior risco) e pelos FIDC tem contribuído para um maior fluxo para a classe.
Se até 2027, os fundos de recebíveis reuniam pouco mais de R$ 100 bilhões, hoje essa cifra beira os R$ 600 bilhões e com chances de ser ampliada “porque tudo pode virar FIDC, diz Lemos. O novo consignado privado, a seu ver, tem chances de crescer rapidamente, da mesma forma que ocorreu com os fundos atrelado ao saque-aniversário do FGTS, que em pouco tempo bateram os R$ 100 bilhões.
Fonte: Valor Econômico

