Infectologistas sugerem imunização até de crianças contra subvariante
Por Rafael Vazquez — De São Paulo
08/11/2022 05h01 Atualizado
1 de 2 Ethel Maciel: recomendação de uso voluntário de máscara em locais fechados — Foto: Tati Hauer
Ethel Maciel: recomendação de uso voluntário de máscara em locais fechados — Foto: Tati Hauer
A chegada no Brasil de uma subvariante da ômicron, denominada BQ.1, pode causar uma nova onda de contaminações por covid no país nas próximas semanas. Segundo alertam infectologistas ouvidos pelo Valor, trata-se de uma mutação do vírus com capacidade de transmissão ainda mais alta do que a cepa original. As evidências indicam que é menos agressiva e deve causar poucas hospitalizações e mortes para pessoas vacinadas. O problema é que dados do Ministério da Saúde apontam que muitos brasileiros deixaram de tomar as doses de reforço, que poderiam ajudar a reduzir o impacto.
“É uma variante mais transmissível que pode levar a um número maior de casos, mesmo em pessoas completamente vacinadas. A taxa de transmissão é maior do que a ômicron original”, afirma Alexandre Naime Barbosa, pesquisador, professor e médico infectologista da Unesp e vice-presidente da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI). “Fica o recado para quem não fez as doses de reforço. Quem não tomou os reforços pode ter uma infecção mais grave”, acrescenta.2 de 2
A subvariante BQ.1 foi identificada no Rio de Janeiro no último fim de semana, segundo a Secretaria Municipal de Saúde, mas já havia sido detectada no Amazonas em 20 de outubro, de acordo com a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). De acordo com pesquisadores, essa mesma cepa tem circulado pela Europa e é a responsável pelo o aumento do número de pessoas contaminadas em países como Alemanha e França.
A perspectiva, portanto, é que o número de casos aumente no Brasil nas próximas semanas, apesar de os dados de contaminações ainda não estarem captando claramente o cenário. Nesta segunda, 7, segundo o consórcio de veículos de imprensa, o Brasil registrou 4.639 novos casos de covid nas 24 horas anteriores. A média móvel de infecções nos últimos sete dias foi de 3.874 por dia, um recuo de 25% em relação aos casos registrados em 14 dias. Em relação a mortes, foram 19 ontem. Com isso, o total de óbitos pelo novo coronavírus subiu para 688.444. A média móvel de mortes nos últimos sete dias é de 34 por dia, uma queda de 43% em relação aos óbitos registrados em 14 dias, indicando tendência de queda do dado, por enquanto.
“A recomendação da Sociedade Brasileira de infectologia para as autoridades é reforçar as campanhas de vacinação, principalmente para essas doses de reforço e a vacinação de crianças, que está muito parada. Não estamos vendo o Ministério da Saúde fazer campanhas de vacinação para crianças”, critica Naime.
Os dados do próprio Ministério da Saúde apontam esse cenário. Enquanto 180,3 milhões de pessoas tomaram a primeira dose da vacina contra covid e 162 milhões completaram o esquema vacinal com a segunda dose, além de aproximadamente 5 milhões que tomaram a dose única, apenas 100 milhões tomaram a primeira dose de reforço, que ficou conhecida popularmente como terceira dose. Isso significa que ao redor de 40% das pessoas deixaram de reforçar a imunização contra a covid. Já a quarta dose, ou segunda dose de reforço, foi aplicada em apenas 35 milhões de brasileiros.
Embora o Ministério da Saúde recomende a segunda dose de reforço apenas para pessoas acima de 40 anos ou imunossuprimidos, vários Estados e prefeituras de todo o Brasil liberaram a aplicação em pessoas abaixo dessa faixa etária desde que tenham tomado a primeira dose de reforço quatro meses antes, pelo menos.
Os números são ainda mais preocupantes quando se observa a vacinação entre crianças e adolescentes. No público de 12 a 17 anos, por exemplo, 14 milhões completaram o esquema vacinal com as duas doses, mas somente 4,4 milhões reforçaram a imunização. A mesma tendência de queda abrupta entre a “segunda” e a “terceira” dose é vista na faixa etária de 5 a 11 anos.
Há ainda a baixa taxa de vacinação entre crianças de 3 a 4 anos. Segundo os dados do Ministério da Saúde, somente 938,4 mil tomaram a primeira dose e 323,9 mil receberam a segunda, sendo que a população estimada nessa faixa etária é de 5,9 milhões. Significa que apenas 16% desse público tomou a vacina e só 5% já completaram o esquema vacinal. A primeira liberação de vacina para essa faixa etária ocorreu há quase quatro meses, o que faz os especialistas criticarem a agilidade na vacinação diante da possibilidade de uma nova onda de contaminações com a subvariante BQ.1.
Segundo a epidemiologista Ethel Maciel, embora a perspectiva é que não haja impacto no número de mortes e hospitalizações, a BQ.1 deve causar efeitos negativos como o aumento do absenteísmo no trabalho. Ela recomenda uma retomada, mesmo que voluntária, do uso de máscaras em locais fechados, além de colocar a vacinação em dia. “Muitas pessoas não tomaram as doses de reforço. Já deveríamos estar mais protegidos contra essa onda”, explica a professora da Universidade Federal do Espírito Santo.
O Ministério da Saúde rebateu as críticas e disse ao Valor que tem trabalhado amplamente para divulgar as medidas de prevenção contra a doença, incluindo a importância de completar o esquema vacinal. “Entre março de 2020 até o momento, a pasta realizou 39 campanhas de comunicação para esclarecer a população sobre os mais diversos temas, como orientações sobre sintomas, transmissão, grupos mais vulneráveis, medidas preventivas e, sobretudo, a importância da dose de reforço para garantir a máxima proteção contra o vírus”, comentou em nota.
Fonte: Valor Econômico