30/09/2022 – Folha de S.Paulo
O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, afirmou nesta quinta feira (29) que um corte inicial da taxa básica de juros (Selic) em junho de 2023 é compatível com o objetivo de levar a inflação para o redor da meta.
Ao mesmo tempo, ponderou que não é possível quantificar o período em que a taxa será mantida em patamar elevado e que ainda é cedo para a autoridade monetária pensar em queda de juros.
?Na curva do Focus tem um corte em junho [de 2023], usando esse corte, a gente mostra que atinge os objetivos. O mercado chegou a ter curva com corte um pouquinho mais cedo, mas a gente entende que é uma diferença pequena?, afirmou Campos Neto na entrevista coletiva de divulgação do relatório trimestral de inflação.
?A gente não comenta abertamente os impactos e como o mercado enxerga a taxa de juros, a gente acha muito cedo para pensar em cortes de juros. Fizemos uma comunicação de acordo na última ata [do Copom]?, disse.
A atual projeção de inflação do BC para 2023 é de 4,6%, ante 4% no relatório de junho, já bem acima do centro da meta fixada pelo CMN (Conselho Monetário Nacional) de 3,25% ?com 1,5 ponto percentual de tolerância para cima e para baixo. Segundo o novo relatório, a perspectiva de exceder o limite superior aumentou de cerca de 29% para em torno de 46%.
Para 2024, a autoridade monetária estima IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) de 2,8% ?abaixo do objetivo central (3%).
Na semana passada, o Copom decidiu manter a taxa básica em 13,75% ao ano, interrompendo o seu mais longo ciclo de aperto monetário. O colegiado do BC disse que avaliaria se a estratégia de manutenção da Selic por período ?suficientemente prolongado? seria capaz de assegurar a convergência da inflação.
?Vai depender do decorrer do processo inflacionário, não temos como quantificar o que é suficientemente prolongado. Existem riscos para as projeções, a gente está vigilante. Dependendo do risco, a gente pode inclusive voltar a subir juros?, ressaltou Campos Neto.
Relatório prevê alta de 1% do PIB em 2023
O Banco Central prevê crescimento de 1% para o PIB em 2023, segundo o relatório trimestral de inflação divulgado nesta quinta-feira (29).
Em seu cenário, o BC considerou a esperada influência da desaceleração global e dos impactos cumulativos da política monetária, com a Selic em 13,75% ao ano.
A primeira estimativa da autoridade monetária sobre o crescimento da economia para o próximo ano ficou acima das expectativas do mercado financeiro e abaixo das projeções do governo.
Para 2023, o Ministério da Economia prevê crescimento de 2,5%, enquanto os economistas da iniciativa privada estimam alta de 0,5%, de acordo com o boletim Focus publicado na segunda (26). A estimativa, que era de 0,37% há um mês, se manteve estável pela segunda semana seguida.
Como mostrou a Folha, esse descolamento das projeções do governo e do mercado sobre o PIB do próximo ano ocorre de forma precoce quando se olha para todo o período do governo Jair Bolsonaro (PL).
Para este ano, o BC revisou novamente a sua projeção para o crescimento do PIB e espera agora um avanço de 2,7%. A última estimativa, divulgada em junho, era de alta de 1,7%.
?A surpresa no crescimento do segundo trimestre, os resultados iniciais do terceiro e estímulos não contemplados no reletório anterior ?notadamente o aumento do valor do benefício do Auxílio Brasil e o arrefecimento da inflação, resultante, em grande medida, da redução de tributos sobre combustíveis, energia e serviços de comunicação? são os principais fatores para a revisão?, disse o BC no documento.
No início de setembro, o Ministério da Economia também elevou a projeção oficial de crescimento do PIB em 2022 para 2,7%.
Quanto à inflação, conforme divulgado no comunicado da última reunião do Copom, a estimativa do BC para o IPCA é de 5,8% para este ano, ante 8,8% no relatório anterior.
Fonte: Valor Econômico

