Com um novo rali das ações brasileiras em novembro e a recuperação dos títulos indexados à inflação, os investidores entram no último mês de 2025 com o apetite mais aguçado para ativos de risco. O país da renda fixa tirou parte do atraso e as aplicações em bolsa despontam com uma das melhores performances até aqui. O Ibovespa, principal referência do mercado acionário local, beirava os 160 mil pontos até o dia 27, com valorização de 5,9% no mês e de 31,6% no acumulado do ano.
Com ciclos de queda de juros nos Estados Unidos e os motores aquecidos para um relaxamento monetário também no Brasil no início do ano que vem, a expectativa de executivos de investimentos é que haja espaço para capturar novos ganhos, pelo menos até a travessia do primeiro trimestre de 2026.
Em meio à expectativa de corte da Selic, as ações consideradas cíclicas domésticas têm se destacado no ano, com valorização de mais de 82,6% para os papéis do setor imobiliário no índice setorial (Imob), e de quase 31% para os de consumo (Icon). O ouro perdia 1,3% no mês, mas ainda segurava o bom desempenho como um porto seguro para períodos mais controversos, com alta de 32% no ano. O dólar comercial caiu 0,41% em novembro e 13,3% de janeiro para cá.
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Na renda fixa, o IMA-B 5+, índice da Anbima que representa uma cesta de Notas do Tesouro Nacional série B (NTN-B), com prazo acima de cinco anos, também recuperou terreno. Com valorização de quase 3% no mês, no acumulado, a média já chegava a 14,6%, finalmente acima do CDI, beirando os 13%% em 11 meses. E também acima da inflação projetada para o período, de 3,95%.
“Se no começo do ano disséssemos que o melhor ativo seria a bolsa brasileira mesmo com o fiscal continuando ruim, as pessoas não acreditariam”, diz Luciano Telo, executivo-chefe de investimentos (CIO) do UBS Wealth Management no Brasil. Por causa de movimentos que por vezes tendem a ser rápidos, o especialista diz que o recomendável é sempre ter a carteira diversificada e “estar posicionado para aproveitar os momentos mais favoráveis” – dimensionando o tamanho da exposição conforme as variações de tendência.
A divisão de gestão de riqueza do UBS está construtiva com bolsa global e com as emergentes, incluindo a brasileira. Telo diz que até abril é possível manter um viés pró-risco. Haverá então uma visão mais clara do rumo dos juros nos EUA e também no Brasil, com mais dados de inflação e de atividade para o BC calibrar o seu ciclo. Ele acredita que cena internacional tende a dominar a doméstica até que a pauta da sucessão presidencial entre de vez nas contas dos agentes financeiros. “Daí é preciso ver quanto a eleição entra no preço. Vai mexer de um lado ou outro e a gente reavalia a posição de risco.”
Na renda fixa, ainda dá tempo para quem quiser fazer algum posicionamento em prefixados antes desse prêmio desaparecer, diz o executivo. O Tesouro Prefixado com vencimento em 2028 indicava ontem uma taxa de 12,7% e o com resgate em 2032 de 13,2%. O boletim Focus do Banco Central desta semana, com a coleta das previsões do mercado, apontava a Selic a 12% no fim de 2026. A NTN-B, que até aqui não refletia a redução da Selic, começou a reagir.
Em bolsa americana, o time de investimento local do UBS prefere permanecer sobrealocado a tentar “adivinhar quando o mercado vai corrigir o valuation das grandes empresas de tecnologia”. Telo cita que o índice americano S&P500 mostra um desempenho fantástico em 2025, mais uma vez, a despeito dos questionamentos sobre o fôlego da tese da inteligência artificial. No mês cede 0,4%, mas no ano ganha 15.8%.
“Muita gente duvida da capacidade das empresas de entregarem resultados, mas trimestre a trimestre elas confirmam os bons números, trazendo animação com o ‘guidance’ [projeções] para o futuro”, diz Telo. Na parcela global, a gestão costuma fazer hedge para o real, tirando a volatilidade do câmbio do jogo e capturando algo do CDI.
“O corte ajuda, mas a Selic seguirá elevada – o Focus mostra 12% – e, com inflação perto de 4%, os juros serão altos no ano que vem porque o gasto também”, continua Telo. “Mesmo que o BC esteja preparado para os cortes da taxa – tecnicamente é correto, porque está vendo perspectivas de inflação cadentes -, mas ele não consegue fazer um ajuste significativo, abaixo de 10% [ao ano], para um dígito, sem uma reforma fiscal profunda.”
Novembro foi um mês muito importante para ativos brasileiros, seja a renda fixa mais longa ou a bolsa, porque os fatores domésticos passaram a pesar um pouco mais do que os externos, segundo Letícia Albuquerque, chefe de soluções de investimentos da Tivio Capital. “O desempenho veio para firmar muito a visão de um cenário prospectivo melhor para ativos locais, não entrando no mérito do cenário eleitoral”, diz. “Agora, com a convicção de que o corte de juro vem em janeiro, a gente ganha mais confiança.”
A especialista diz que na estratégia de alocação a casa já via oportunidades na renda fixa ativa. Dentro da última revisão, aumentou a exposição a papéis prefixados ao mesmo tempo em que alongou o prazo dos indexados ao IPCA, que pagam juro real, de cinco para sete anos.
Albuquerque diz manter, porém, uma visão cautelosa com crédito corporativo. “A preocupação nem é tanto por estresse por algum problema de inadimplência – apesar de algumas questões pontuais nos últimos meses -, e tem a ver com a questão do fluxo.” Depois de anos exuberantes do segmento, ela vislumbra mais alguma “abertura de spreads” (o diferencial em relação a títulos soberanos) levando parte dos recursos para outras classes.
Para a bolsa, após ganhos na casa de 50% para o Ibovespa em dólar e em 30% em real, a indicação é “neutra”, ou seja, dentro da exposição estrutural adequada a cada perfil de cliente. “Muito desse movimento foi mérito do cenário externo mais favorável para ativos de risco, mas ainda não há um muito mais alocação em renda variável pelo brasileiro”, afirma a executiva da Tivio. “Talvez haja um potencial para ajustes maiores na bolsa como um todo, mas precisa de um cenário em que a curva longa [de juros] esteja fechando [caindo].”
Embora as eleições façam algum preço à medida que saem pesquisas de intenção de voto com simulações com os potenciais oponentes do presidente Lula, Albuquerque diz que com a visibilidade baixa é difícil tomar qualquer posicionamento em cima disso.
No balanço de riscos, a especialista diz monitorar o ritmo da atividade americana e as discussões sobre excessos na área tecnologia. A Tivio não trabalha com a hipótese de bolha nos casos ligados à inteligência artificial porque resultados como o da Nvdia vieram acima do esperado. “Muito da performance da bolsa americana tem sido acompanhada pelo ‘valuation’, mas o técnico está, sim, sobrealocado, o que pode gerar algum tipo de realização de lucros mais forte.”
A área de gestão de fortunas da Galapagos Capital considerou que era hora de “sair das cordas” e, progressivamente adicionar mais risco às carteiras, segundo Alexandre Cancherini, sócio e gestor da casa. Em março, o posicionamento em bolsa, antes subalocado, foi elevado para o ponto neutro e em outubro passou a ser sobrealocado em +1 (o máximo é +3). A alocação tática máxima está na renda fixa atrelada à inflação, para capturar ganhos reais acima de 7%, 7,20%, a depender do vencimento. “É um carrego bastante atrativo e que possibilita que com a exposição o investidor dobre o patrimônio real em menos de dez anos.”
Em bolsa, a adição tem a ver com a perspectiva de enfraquecimeto do dólar globalmente em meio a políticas de taxação comercial pelo governo americano de Donald Trump. Cancherini entende que tal dinâmica continuará sendo positiva para os mercados emergentes. “Isso tem levado o investidor internacional, que desde 2009 atuava no piloto automático [colocando recursos nos EUA] sem pensar muito em outras regiões, a fazer alguma diversificação, um ‘hedge’ fora do país.” O Brasil tem sido um desses destinos.
Combinada à queda de juros no Brasil, a partir do primeiro trimestre de 2026, ele avalia que haverá valor a capturar para as ações 12 meses à frente, tirando pelo menos parte do desconto em relação à média histórica da bolsa. Um ponto de preocupação seria haver algum tipo de discussão nos EUA que levasse o Federal Reserve (Fed, o banco central americano) a interromper precocemente o ciclo de redução das taxas de juros.
Com caixa (em CDI) ainda robusto nas carteiras, a Est Gestão de Patrimônio passou a ter posição um pouco mais relevante em papéis atrelados ao IPCA, um mês atrás, quando a NTN-B beirou os 7,5% ao ano, diz Helder Bassi, sócio e chefe de investimentos da casa. Em outras classes, como prefixados, fundos imobiliários e multimercados o posicionamento é neutro. Em bolsa, segue abaixo do neutro. “O ano vai começar com muita coisa já nos preços, a exemplo da baixa de juros nos EUA e no Brasil”, diz.
“Nos EUA, há previsões de queda abaixo de 3%, não acredito que vá ser tudo isso porque a inflação teima em cair, está longe da meta. A inflação aqui também está cedendo, mas longe da meta para os próximos anos. Para 2027 está fora, segundo o último Focus”, diz Bassi.
No decorrer do ano, Bassi pondera que haverá oportunidade para entrar e sair do mercado de forma mais tática para montar posições com um pouco mais de prêmio. No conjunto, as posições atuais refletem ainda uma carteira mais defensiva, por causa da dúvida fiscal em relação ao Brasil e as eleições que vêm por aí, sem uma solução aparente até lá.
Fonte: Valor Econômico

